Discutindo o plano de desconfinamento
O plano de desconfinamento só será revelado amanhã depois da reunião do Conselho de Ministros (que deverá durar todo o dia), mas hoje Marcelo Rebelo de Sousa ouviu os partidos com assento parlamentar, por videoconferência, sobre a renovação do estado de emergência (o 13.º), e foi possível apurar alguma coisa daquilo que deverá ser anunciado esta quinta-feira pelo Governo.
Não é que tenham sido reveladas informações repletas de minudência e com especificações concretas. Os partidos sabem de alguma coisa, tomaram conhecimento de alguns intentos do executivo, mas há poucos assuntos fechados. Até porque as decisões definitivas ainda não foram tomadas.
André Ventura foi o primeiro a levantar um pouco do véu sobre as medidas a serem levantadas nos próximos dias. O Governo, segundo explicou o deputado do Chega, está a pensar num "desconfinamento muito limitado". Ou seja, está a equacionar a reabertura do ensino pré-escolar, venda ao postigo e o fim de proibição de venda nas livrarias.
A ideia que ficou da intervenção do líder do Chega era de que afinal não seria necessário esperar pela Páscoa para começar o desconfinamento. E efetivamente poucas horas depois o ministro da Economia avançou com essa possibilidade após reunião extraordinária com sindicatos e patrões. Contudo, ainda que o tenha feito, a mensagem que deixou foi de cautela.
"Os especialistas disseram que há condições para se fazer alguma coisa antes da Páscoa. O quê e a que ritmo, é que é uma decisão que ainda não foi tomada", frisou Pedro Siza Vieira, sem avançar com datas ou especificar setores da economia que vão abrir primeiro.
É que os especialistas disseram que "se podia fazer alguma coisa", mas tal não significa que a partir da próxima semana se possa fazer uma vida "normal". Mas o que é certo é que o Governo está a ouvir "o mais possível para recolher opiniões", de modo a tomar "uma decisão, que, em última análise, será política".
Só que depois de tudo isto veio a "má notícia". É que de acordo com Rui Rio, o famoso "R" está a aumentar e ainda nem sequer se começou a desconfinar. O líder do PSD explicou que durante a conversa com Marcelo foi informado de que o índice de transmissão da covid-19 está a subir e está acima dos 0,9. E o que é que isto implica? "Quando o R está acima de 1, significa que a pandemia está a crescer (…) Se o R passa o 1, penso que aí não há condições para fazer nada", explicou. (Questionado pelo jornal Público, o INSA não confirmou a informação e disse que só atualiza o valor na sexta-feira.)
Mas pressionado pelos jornalistas a comentar, em concreto, a estratégica do Governo, considerou que lhe parece adequada e até já incluiu a definição de indicações (o número de casos por cem mil habitantes, o R e o número de internados em cuidados intensivos). Depois deu a saber que está a ser planeado um desconfinamento faseado e por regiões. Eis o que disse Rui Rio.
"Definir indicadores, o que cabe em cada nível e, no caso de o país, não ser homogéneo - que não é - fazer um desconfinamento faseado e por regiões. É isso que penso que o Governo irá fazer, da reunião que tivemos, e esta estratégia parece-me adequada", disse, afirmando que até poderá ser preferível "atrasar um dia ou dois" a apresentação do plano se tal for necessário para passar a mensagem da melhor maneira.
Por fim, como aconteceu sempre nas reuniões anteriores, o partido do Governo foi o último a falar com o Chefe de Estado. E o PS fez saber que defende um desconfinamento lento, gradual e com maior rigidez na Páscoa. Segundo frisou o secretário-geral adjunto socialista, José Luís Carneiro, há "uma visão nacional do desconfinamento", mas, perante alterações com incidência localizada, entende que "a resposta deve também ser adequada a essa incidência territorializada".
Tudo somado, é expectável que na próxima semana existam efetivamente alterações e um alívio de algumas medidas. Certezas, segundo a SIC apurou, a venda ao postigo poderá ser permitida já esta terça-feira, a par da abertura das creches e o pré-escolar. O resto do plano, só há cenários possíveis. Para saber mais e em que moldes, quais e em que velocidade, é que teremos de esperar por amanhã para saber.
O que disseram ainda os restantes partidos:
- Iniciativa Liberal sente que o governo está "atabalhoado" e apelou a um desconfinamento "flexível";
- CDS concorda com a reabertura das escolas, mas só depois das férias da Páscoa;
- PCP quer acabar com a política do "stop-and-go" [para-arranca] em termos de restrições sanitárias e pede mais testes e vacinas;
- O BE diz que este "é o tempo" para desconfinar, mas de forma "cautelosa" e faseada. E, para começar, defende a reabertura das creches, pré-escolar e primeiro ciclo.
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