“Irei continuar a manter-me de pé”. A escolha de Zaha na luta contra o racismo

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Dazet Wilfried Armel Zaha, 28 anos, extremo do Crystal Palace. Negro. Natural da Costa do Martim, naturalizado inglês. Dupla nacionalidade. Formou-se como futebolista no Palace, onde se tornou numa das grandes promessas da Premier League, clube que ainda hoje carrega, após breves passagens, sem sucesso, pelo Manchester United e pelo Cardiff City. Chegou a internacional pela seleção de Inglaterra em 2012, pela qual fez dois jogos amigáveis, mas após quatro anos sem ser convocado, passou a jogar pela seleção da Costa do Marfim, onde já fez 17 jogos e cinco golos.

Este é o breve resumo da carreira daquele que hoje se tornou no primeiro jogador da liga inglesa de futebol a não se ajoelhar, gesto que é símbolo do movimento Black Lives Matter [Vidas Negras Importam] e da luta antirracista, antes de um jogo esta época, e como é habitual acontecer antes dos dos jogos da Premier League, minutos antes de o Crystal Palace ganhar 1-0 na receção ao West Bromwich.

It all started with an NFL player called Colin Kaepernick who sat on the bench when the US anthem was played on August 26, 2016.

Para a posteridade ficará a imagem de 21 homens de joelhos, mais equipa de arbitragem, e de Zaha, uma voz ativa da luta antirracismo no futebol, de pé, como se não fosse nada com ele. Pelo contrário, é por ter tudo a ver com ele e com a sua luta que o avançado se recusou a colocar o joelho sobre a relva.

Mas se hoje ficámos surpreendidos, não devíamos. Há poucas semanas, no podcast On The Judy, Zaha tinha questionado o gesto: “Por que razão tenho de me pôr de joelhos? Por que razão devo ajoelhar-me? Para os outros verem? Para mostrar que nos importamos? Por que devo usar Black Lives Matter na parte de trás da minha camisola, para mostrar a todos que somos importantes? Isto tudo é degradante”.

No mesmo podcast, o extremo disse ainda que não se iria voltar a ajoelhar, a não ser que as coisas mudassem. “Vemos tudo isto, vemos as plataformas que são criadas mas depois há pessoas que criam contas falsas [nas redes sociais] para abusar de negros constantemente. Essa é parte é que ninguém muda”, sublinhou.

Este sábado, no momento antes do apito inicial do jogo frente ao West Bromwich, a contar para a Premier League, Zaha não se ajoelhou. No final do jogo, em comunicado, disse: “ajoelhar-me antes do jogo estava apenas a tornar-se uma mera rotina e neste momento já não interessa muito se nos ajoelhamos ou se ficamos de pé porque alguns de nós continuam a ser alvos de abusos. Sei que existe muito trabalho a ser feito nos bastidores pela Premier League e por outras autoridades para mudar, e respeito por completo isso e todas as pessoas envolvidas. Também tenho total respeito pelos meus companheiros e por todos os jogadores de outros clubes que se continuam a ajoelhar”.

Ainda na mesma nota, o avançado disse que uma mudança passará por uma “melhor educação nas escolas” e por ações “mais fortes” das empresas de redes sociais”. E revelou que irá manter a mesma postura: “irei continuar a manter-me de pé”.

Wilfried Zaha não quer que ajoelhar se torne banal, e por banal se torne invisível. Que perca o seu significado. Não quer que o combate ao racismo seja uma linha proforma dos manuais de boa educação. Quer uma mudança e, neste momento, espera-a em pé, em vez de joelhos.

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