Que informação dramática (e pouco esclarecida)

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Esta é uma história de cadeiras que podia ser, em boa verdade, um jogo do telefone estragado. Tudo começou no dia 13 de setembro, quando a deputada do CDS-PP Ana Rita Bessa anunciou à presidência do partido que iria renunciar ao seu lugar no Parlamento, deixando em aberto uma vaga no grupo parlamentar dos centristas.

Telmo Correia, líder parlamentar, convidou o comentador político e antigo jornalista Sebastião Bugalho que, após alguns dias de reflexão, recusou o convite. Seguiram-se mais convites, que percorreram a lista do CDS a Lisboa nas legislativas de 2019, encabeçada por a então líder Assunção Cristas, até se chegar a Miguel Arrobas da Silva, o ex-nadador olímpico que foi o nono da lista dos centristas pelo círculo de Lisboa, que aceitou.

À partida, não haveria aqui nenhum tipo problema, uma vez que se seguiram os trâmites normais. Só que, na opinião de Francisco Rodrigues dos Santos, líder e recandidato à presidência do CDS-PP, havia.

Havia não, há. Há e não é de agora e começa no facto de o próprio não estar na Assembleia da República.

"Sou o único líder que não está no Parlamento. Acha que isso não tem influência na forma como se transmite a mensagem, nas oportunidades que temos de aparecer? Outro problema que tenho: quem representa o partido nas televisões é a oposição interna. Eu falo em alhos e eles falam em bugalhos. Tenho conquistas e eles estão na televisão e transformam os sucessos eleitorais do meu partido em insucessos. Quero falar para fora e eles estão nas televisões a falar para dentro. Tenho um garrote na comunicação social. Enquanto não puder colocar quem é da minha confiança política nas estações a comentar e a transmitir a nossa mensagem, enquanto o líder não tiver voz própria como todos os outros no Parlamento...", afirma em entrevista ao Expresso.

Também ao Expresso, Rodrigues dos Santos afirmou que não foi envolvido nas alterações em curso na bancada parlamentar, lamentando não ter “sabido pelos canais formais e próprios dentro do CDS”.

"Gostava de ter sabido, mas não pela comunicação social quem era o deputado que ia substituir a Ana Rita Bessa. É o mínimo que se pede a quem está na liderança do partido. Até porque quem estabelece e define a direção política do partido da qual o grupo parlamentar é um instrumento é a direção do partido", afirmou.

Ainda na mesma entrevista, o líder centrista revelou que há dois anos se tinha pronunciado contra a integração do Sebastião Bugalho nas listas, dizendo preferir que “tivesse sido o Francisco Camacho, que era o vice da JP, que tinha mais experiência”.

O caso rapidamente tomou a forma de uma luta partidária interna entre duas fações que se defrontaram no início do ano, quando o atual presidente do CDS apresentou uma moção de confiança que foi aprovada, contra o descontentamento de algumas figuras do partido que queriam que Adolfo Mesquita Nunes, ex-secretário de Estado, assumisse as rédeas do partido.

Entre os opositores a Francisco Rodrigues dos Santos estava Telmo Correia que aproveitou este momento para responder ao presidente do partido corrigindo afirmações “pouco informadas” do líder centrista.

Para Telmo Correia, “os dirigentes do partido que a propósito desta matéria resolveram aproveitar para atacar a liderança Parlamentar fizeram-no seguramente, ou por desconhecer a Lei e as suas obrigações imperativas, ou por não terem conhecimento dos factos”.

“Em qualquer caso, o desconhecimento da lei não aproveita a ninguém”, critica, em comunicado, no dia em que foi divulgada a entrevista de Rodrigues dos Santos ao Expresso.

“O Presidente do Grupo Parlamentar não entra nem quer entrar em polémicas públicas com a direção do partido, até porque tem consciência do dano que isso causa à imagem externa do CDS. Não pode, no entanto, deixar de lamentar e por isso vem corrigir algumas afirmações que, quer do ponto de vista factual, quer do ponto de vista da lei, pouco informadas”, afirma Telmo Correia.

O líder parlamentar do CDS-PP salienta que, na substituição de Ana Rita Bessa, “teria sempre de seguir a ordem da lista eleitoral” e que “não determina quem substitui e apenas contacta os elementos seguintes para saber se aceitam, o que foi feito e concluído hoje”.

Telmo Correia contestou ainda as afirmações de Rodrigues dos Santos em relação à comunicação da renúncia da deputada, afirmando que "Ana Rita Bessa comunicou a sua renúncia por carta entregue na Presidência do Partido no dia 13 de setembro”, "pelo que, a Presidência teve conhecimento deste facto com várias semanas de antecedência".

Sobre a eventual oposição de Chicão, como é conhecido no meio político, em relação à escolha de Sebastião Bugalho, Telmo Correia sublinha que, à luz da lei eleitoral, “fica particularmente evidente que não tem qualquer sentido, por muito interessante que fosse a ideia” a possibilidade de convidar para deputado o atual Presidente da Juventude Popular Francisco Camacho.

“O Dr. Francisco Camacho não integrou a lista de candidatos por Lisboa, pelo que nunca poderia ser ‘convidado’ para substituir uma candidata por este círculo. Isto, no pressuposto que de que era possível impedir todos os outros de assumirem o mandato que era seu por força da Lei”, acrescenta.

No comunicado, Telmo Correia relata o processo de substituição de Ana Rita Bessa, dizendo que também só conhecimento dessa intenção na mesma altura do envio da carta à presidência e que “só muito recentemente” soube que nem esta nem uma mensagem da deputada “obtiveram qualquer resposta”.

“A minha atuação nesta matéria foi tão só a de seguir escrupulosamente o critério da lei, aferindo da disponibilidade dos membros seguintes na lista eleitoral de 2019. Estou agora em condições, tendo seguindo este critério de informar que a Sra. Deputada Ana Rita Bessa será substituída pelo Sr. Dr. Miguel Arrobas da Silva”, refere.

Parece que o resultado eleitoral do CDS nestas autárquicas, em que o partido venceu com maioria absoluta as seis câmaras que já governava, e ainda fez parte da coligação liderada por Carlos Moedas que ‘roubou’ a Câmara Municipal de Lisboa ao Partido Socialista, para além de ter somado sozinho 74.208 votos, a que somam 540.783 votos em coligação com o PSD, não permitiu sanar as divisões internas do partido que se prepara para ir a congresso e votar a sua liderança, numa eleição em que Francisco Rodrigues dos Santos é recandidato.

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