Marcelo na Ucrânia: das trincheiras ao toque das sirenes
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, chegou hoje à capital da Ucrânia, pelas 07:30 locais (05:30 em Lisboa), para uma visita de dois dias, que coincide com a comemoração do 32.º aniversário da independência do país.
Como surgiu esta visita?
A deslocação de Marcelo surgiu na sequência de um convite feito pelo homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, aquando da visita de António Costa a Kiev.
“Sou portador de um convite que o presidente Zelensky fez a sua excelência o presidente da República para visitar a Ucrânia em data oportuna. E esse é o convite que transmitirei”, anunciou na altura o primeiro-ministro português
No próprio dia em que se soube do convite, Marcelo Rebelo de Sousa disse que teria “muito prazer” em fazer a viagem até à capital ucraniana para demonstrar que há “convergência no apoio” ao país que há mais de um ano e meio está a tentar repelir uma invasão da Rússia.
No dia 22 de fevereiro deste ano o chefe de Estado português anunciou a intenção de condecorar Zelensky presencialmente, em Kiev, com o Grande-Colar da Ordem da Liberdade: “Tenciono entregar [a condecoração] pessoalmente quando for à Ucrânia. É o que tenho feito com os chefes de Estado e com outros condecorados com essa ordem e outras ordens.”
Já ontem, o presidente da República solicitou a autorização ao parlamento para se deslocar à Ucrânia durante esta semana.
Quem acompanha Marcelo?
Marcelo Rebelo de Sousa desembarcou na estação ferroviária de Kyiv-Pasazhyrskyi, em Kiev, acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, pelo chefe da Casa Civil da Presidência, Fernando Frutuoso de Melo, pelos embaixadores Maria Amélia Paiva e Jorge Silva Lopes, o antigo dirigente do PS João Soares, o historiador José Pacheco Pereira e o empresário Luís Delgado.
Como foi este primeiro dia na Ucrânia?
- A visita a Bucha
Marcelo visitou a Igreja de Santo André, em Bucha, localidade nos arredores de Kiev que nos primeiros dias da invasão foi ocupada por tropas russas, e referiu que "uma justiça tardia não é justiça".
O presidente da República prometeu ainda o apoio de Portugal nas investigações do crime de agressão.
- Na trincheira em Moschchun
O presidente da República português protagonizou um momento insólito ao entrar numa trincheira que foi improvisada em Moshchun, na Ucrânia, durante a ocupação russa.
Marcelo não hesitou, ainda escorregou na areia, e acabou por entrar na trincheira, por onde teve de caminhar quase agachado.
"Isto nunca tinha acontecido! É o primeiro que faz isto", comentou, admirada, Lesya Arkadievna, a vice-governadora para a região de Kiev, ao ver Marcelo Rebelo de Sousa entrar para o local.
Ressalve-se que Marcelo não foi o primeiro líder a visitar o local, mas foi o primeiro a estar onde a população e militares estiveram a combater os ocupantes.
- A questão da Crimeia
“Não é possível separar a questão da Crimeia da invasão total do território da Ucrânia. Qualquer tentativa, subjetiva ou objetiva, de separar as duas questões representa não uma ajuda, não um apoio à população ucraniana, mas um ruído que é desnecessário”, considerou Marcelo Rebelo de Sousa, na abertura da cimeira da “Plataforma Crimeia”, em Kiev.
O chefe de Estado português recordou que o objetivo desta plataforma "foi, desde o início, o mesmo: nunca deixar que as pessoas esquecessem a Crimeia”.
Todos os intervenientes nesta questão têm de recordar que o objetivo é “a recuperação da integridade territorial” da Ucrânia, disse ainda.
- As sirenes tocaram
Durante a cimeira, Marcelo viveu um momento característico deste tempo de guerra na Ucrânia: as sirenes tocaram. Mas não houve medo por parte do presidente da República.
"Medo? As coisas são como são, é como é. Não há razão para medo. Tem havido uma capacidade de resposta integral e de cobertura por parte da Ucrânia. Em segundo lugar, é mais a preocupação dos seguranças quanto ao local exato onde os destroços dos mísseis intercetados podem cair", referiu.
O que se segue?
“Amanhã [quinta-feira] será o dia de participar ativamente na celebração do Dia da Independência, ter encontros com o presidente Zelensky, [e] com o primeiro-ministro”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, minutos depois de desembarcar na estação ferroviária de Kyiv-Pasazhyrskyi, na capital ucraniana.
Que continue a visita. E, numa próxima vez, talvez seja Zelensky a ir a Lisboa.
*Com Lusa
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