Do fantasma de Cavaco às promessas de Montenegro. O que se passou no Congresso do PSD?

Beatriz Cavaca
Beatriz Cavaca

O dia começou com a aprovação da proposta revisão estatutária da direção, mas a sucessão de discursos marcantes para os sociais-democratas ainda estaria para acontecer. Que não era uma proposta unânime entre os militantes. Tal como alguns dos jovens sociais democratas contaram ao SAPO24.

O primeiro a abrir o palco foi Luís Montenegro, que referiu que o Governo do PS “não caiu por causa de um processo” judicial, mas “caiu de podre”, e acusou os socialistas de instrumentalizarem a justiça para taparem “erros políticos”.

Deixou ainda um aviso: “Portugal não é, não foi e não vai ser uma República das bananas”.

Seguiram-se depois várias caras do partido, nomeadamente Manuel Castro Almeida, Paulo Rangel, Miguel Poiares Maduro, José Pedro Aguiar Branco, entre outros.

Dos militantes, uma das intervenções mais marcantes foi Nuno Morais Sarmento, protagonista de um dos momentos mais emocionais do encontro do PSD, ao oferecer a Montenegro um pin de Sá Carneiro, lembrando que o foco "são as eleições e que o nosso adversário é o PS".

Quase no final da noite, também houve lugar para o discurso de Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa (CML), que numa alusão às comemorações do 25 de novembro que já tinha feito de manhã, lembrou: "Hoje, como naquela altura, precisamos de afirmar bem alto que os únicos donos do país são as pessoas. Mas hoje é também um dia triste. Se hoje não conseguimos entregar, com tínhamos planeado, as medalhas da cidade aos militares do 25 de novembro que deram a vida por Portugal, foi porque o PS não quis, foi porque o PS negou a sua herança, foi porque o PS negou Mário Soares".

"Preferiu o radicalismo, o extremismo, à democracia. Depois de darem a sua palavra, romperam o acordo", acrescentou.

"Os portugueses sofrem de uma doença e essa doença chama-se socialismo", disse também.

Antes do discurso de encerramento, e depois do aparecimento de Manuela Ferreira Leite, o Congresso teria ainda a visita surpresa de Cavaco Silva, que recebeu uma ovação em pé da audiência.

Ao sair, o antigo presidente teve oportunidade de falar aos jornalistas, sublinhando que em maio, quando apresentou o seu mais recente livro 'O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar': "De alguma forma antecipei a situação a que o país ia chegar. Falei mesmo então, há seis meses, da possibilidade do primeiro-ministro apresentar a demissão e de serem convocadas eleições antecipadas".

"Estou absolutamente convencido que Portugal precisa de uma mudança que traga uma nova esperança aos portugueses. Sem essa mudança, por aquilo que tenho estudado e pelo muito que tenho pensado sobre o assunto, será indizível mudar as condições de vida das populações e impedir que os nossos jovens mais qualificados fujam para o estrangeiro", disse ainda.

O último a falar foi novamente Montenegro, que prometeu aumentar até 820 euros, de forma gradual e até 2028, o complemento solidário para idosos. Além disso, "não vamos cortar um cêntimo a nenhuma pensão". Ou seja, até ao final da legislatura o rendimento mínimo garantido dos pensionistas portugueses será o equivalente ao salário mínimo fixado para 2024.

Objetivos que considera "realizáveis e não põe em causa o equilíbrio das contas públicas". Na legislatura seguinte o rendimento mínimo de um pensionista poderá ser equivalente ao salário mínimo nacional atualizado. "É um objetivo para duas legislaturas", afirma.

Mas, além dos "avós de Portugal", Luís Montenegro compromete-se a cuidar também dos "filhos e netos de Portugal": "Queremos baixar o IRS para os jovens até aos 35 anos para um terço daquilo que eles pagam hoje", "queremos e vamos concretizar um efetivo acesso universal e gratuito às creches e ao ensino pré-escolar". Assegura que o PSD "vai baixar a taxa de IRS até ao 8.º escalão", aliviando a carga fiscal de quem trabalha.

Diz também que está pronto para ser primeiro-ministro. Que vai ser primeiro-ministro. E acusa António Costa, José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos de se quererem vitimizar aos olhos dos portugueses. "A culpa há de ser da direita, a culpa há de ser do Passos, de vez em quando até há de ser de Cavaco Silva. A culpa já foi dos anos 80. Qualquer dia a culpa vai ser do 25 de novembro", ironiza.

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