Ministros ouviram que "a água é do povo, a água é para todos". O que aconteceu em Odemira?

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

No dia em que se fala da chegada da Irene, uma depressão que traz mau tempo para Portugal, a água, numa outra perspetiva, foi motivo para um protesto em Odemira, no distrito de Beja, à chegada dos ministros do Ambiente e da Agricultura para uma reunião.

O que aconteceu?

Perto de 100 manifestantes juntaram-se, esta manhã, em frente ao edifício da Câmara de Odemira, onde decorreu uma reunião com os vários parceiros que assinaram o Pacto da Água em 2023, para discutirem a falta de recursos hídricos na região.

Os governantes, que chegaram em separado ao edifício, foram vaiados pelos manifestantes enquanto entoavam "a água é do povo, a água é para todos".

Em declarações à agência Lusa, Fátima Teixeira, do movimento Juntos pelo Sudoeste, revelou a sua preocupação em relação à cota da barragem de Santa Clara e às medidas que vão sair deste encontro.

"Temos a promessa do ministro do Ambiente de quando a cota da barragem baixar até aos 104 metros para a água canalizada, para a irrigação, e depois temos todo o 'lobby' da agricultura intensiva a fazer pressão à ministra da Agricultura, provavelmente, para aumentar as dotações e baixarem mais a cota na ordem dos 92 metros", afirmou.

Em causa está “a qualidade e o volume de água que os consumidores domésticos vão ter”, salientou a responsável, acrescentando que, caso baixem a cota “para ir mais água para a agricultura” vão “ter de começar a cortar” nos consumidores domésticos, “que são só 6% da água que sai da barragem” de Santa Clara.

O que dizem os ministros sobre a questão da água em Odemira?

O Governo está a equacionar baixar a cota de captação de água da barragem de Santa Clara, no concelho de Odemira, de 104 para 102 na agricultura e de 102 para 100 no consumo humano. A medida foi transmitida pelo ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, e pela ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, no final da reunião.

“Estamos a procurar fazer investimentos inteligentes que permitam ir buscar mais volume útil para garantir sempre, entre dois e três anos, água para consumo urbano essencial que é o que está definido no Pacto da Água”, disse o ministro.

Segundo Duarte Cordeiro, o setor da agricultura “está disponível para considerar um investimento numa dessalinizadora privada”, com o apoio dos ministérios da Agricultura e do Ambiente, que “permitirá dar resiliência a este setor”.

“Qualquer revisão de cota, só acontecerá a partir do momento em que entre em funcionamento uma nova capacidade física de ir buscar água a uma cota mais baixa para consumo urbano”, assegurou.

Por seu lado, a ministra da Agricultura garantiu durante o encontro que o Governo “pediu uma responsabilização para fazer uma melhor gestão” da água que é distribuída.

E como está a situação da seca no Algarve?

Na passada sexta-feira, o ministro do Ambiente e da Ação Climática disse ser necessária uma redução das disponibilidades hídricas da albufeira de Odeleite, no sotavento (este), em 70% e da do Funcho-Arade, no barlavento (oeste), em 50%.

Segundo Duarte Cordeiro, as medidas que estão a ser trabalhadas para reduzir o consumo urbano (turismo e doméstico) em 15% ainda não estão todas concluídas, mas a mais evidente, e que está a ser trabalhada, é a redução da pressão da água.

O conjunto de medidas que estão a ser estudadas vai ser definido numa reunião da Comissão Interministerial de Seca, que deverá realizar-se na quarta-feira, no Algarve.

Já no dia de hoje, o presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve advertiu que os cortes de água anunciados para fazer frente à seca na região devem ser revistos.

“Parece-nos bastante desequilibrado e injusto aquilo que foi anunciado. A agricultura ter um corte de 70% é a morte das culturas e é a quebra de produção durante dois anos. Nós não podemos aceitar isso. Não é uma medida justa, nem é equilibrada”, disse Macário Correia, em declarações à agência Lusa.

Macário Correia defendeu que não se pode assistir ao desperdício de água das barragens “que já é tratada e se perde nas canalizações sem ser utilizada”, sobretudo “num país com pouca água e, em particular, numa região que é o Algarve, com uma escassez considerável, com climas terríveis e diversas secas sucessivas de ano para ano”.

*Com Lusa

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