Era terça-feira, 23 de junho, primeiro dia do Collision e já toda uma preparação tinha de ter sido feita para assistir ao maior evento de tecnologia e empreendedorismo da semana, quiçá da pandemia:

  1. Fazer o download da app para o smartphone onde se fazia o login com o nosso e-mail e a referência recebida
  2. Elaborar o nosso perfil com os interesses e informações profissionais que desejássemos partilhar.
  3. Decidir se íamos ver o evento no smartphone ou no desktop do computador. Caso a opção fosse a segunda, tínhamos de utilizar um QR Code, da mesma maneira que fazemos para utilizar a versão web do Whatsapp.
  4. Já não existem uma série de palcos cada um com uma temática ou conjunto de temáticas específicas. Na plataforma do Collision, foram criados 5 canais principais - três onde iam variando as conversas habituais, transmitidas em vídeo; um canal chamado Radio Collision que apenas transmitia conversas em áudio e um canal de Classic Talks, que retransmitia alguns dos melhores momentos de eventos anteriores do Collision, do Web Summit e do Rise (que acontece em Hong Kong). Isto para dizer que, na preparação da agenda do dia, já não era necessário pensar nos quilómetros que seriam andados de palco para palco, mas sim nos cliques que iam alterando um de um canal para outro.
  5. Dado importante, como existe uma diferença horária de 5 horas entre Portugal e Toronto, os dias do evento iriam sempre começar às 10 horas locais e às 15 horas portuguesas, que até ajudava a quem quisesse aproveitar grande parte do evento depois de um dia de trabalho normal.

Quanto às expectativas do evento, continuavam altas tendo em contas os números revelados pela organização depois do primeiro dia:

  • 3 dias de evento
  • 32 000 participantes (45% mulheres)
  • 140 países representados sendo que os com mais participantes foram Brasil, Canadá, República Checa, Alemanha, Índia, Itália, Portugal, Singapura, Reino Unido e EUA.
  • 634 speakers
  • 1008 startups (das quais 60 eram portuguesas)
  • 850 investidores
  • 1143 jornalistas

Dinâmicas diferentes para startups e investidores, poucas mudanças para quem assiste

Para o mero observador que estava a assistir e tirar umas notas, o evento manteve-se mais ou menos o mesmo. Conversas sucessivas entre 15 a 25 minutos, pré-gravadas através de uma plataforma de videochamada, com a qual não podiam interagir, mas que não fugiam muito ao esquema que o Web Summit e seus derivados nos habituaram.

Para startups que estivessem à procura de financiamento e quisessem dar a conhecer o seu negócio, como para os investidores que procuram projetos com potencial, a conversa já é ligeiramente diferente. Os meetings presenciais que são providenciados pelo evento foram substituídos por reuniões feitas através da plataforma e, por muito que a pandemia tenha quebrado alguns estigmas quanto ao que pode ser feito através de uma videochamada, há algo no contacto humano que faz com ambas as partes possam tirar mais informações de um encontro desta natureza.

E por muito que as limitações possam ser ultrapassadas, há encontros mais simples que acabam por fundamentalmente mudar o curso de um projeto ou parceria. Os encontros e desencontros na plateia de um palco e o cruzamento e troca de cartões enquanto se passa pelos diferentes tipos de stands, foram substituídos por um live chat que torna mais difícil ter conversas individuais e por uma maior promoção da procura de certas pessoas e certas empresas através da app do evento, que acaba por também não ser a mesma coisa do que ir diretamente falar com eles.

Falando do que aconteceu no evento

Durante os três dias, foi impossível fugir aos dois temas do momento - a pandemia de Covid-19 e o movimento Black Lives Matter - e ao impacto que ambos estão a ter nas sociedades e na maior parte das empresas e organizações.

Entre empresas tecnológicas, redes sociais, plataformas de streaming, meios de comunicação social, empresas de bens de consumo e ONGs, o tópico central foi sempre como olhar para futuro e para as áreas dos seus negócios que vão ter de alterar para se adaptarem a uma nova realidade.

Modelos de Publicidade para media, a normalização do eCommerce durante o confinamento, as iniciativas de maior representatividade racial e de género e do investimento necessário para promover práticas que promovam a segurança de colaboradores e a sustentabilidade e proteção do planeta. Tudo isto foram tópicos abordados de pela maior parte dos intervenientes que passaram pelo Collision. Entre eles estiveram:

Dia 1:

Syiabulela Mandela (neto de Nelson Mandela), Shaquille O’Neal (ex-estrela NBA), Diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus e vários diretores de plataformas como a Netflix, Spotify e a Roku.

Dia 2:

Brad Smith (Presidente da Microsoft), diretores de plataformas como YouTube, Amazon Linkedin e Paypal e o próprio Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina.

Dia 3:

Justin Trudeau (primeiro-ministro canadiano), Margaret Atwood (escritora e autora de “The Handmaid’s Tale”) e diretores de empresas como a Sony Entertainment, a BuzzFeed, a Tencent e o Twitter.

O que retirámos para a Web Summit, em dezembro

O primeiro exercício sobre o que poderia ser a Web Summit em ano de pandemia partiu do António Moura dos Santos, neste artigo do SAPO24. Antes de qualquer dado revelado pela conferência (sem ser a confirmação da realização do evento), foi falar diretamente com políticos, com empreendedores e com especialistas de saúde sobre o que podia significar a existência deste evento este ano.

Do ponto de vista político e económico, foi reforçada a ideia da necessidade de chamar o turismo e de promover “a marca Portugal”, mesmo sem a certeza que o evento fosse acontecer num formato presencial. Do ponto de vista das startups, foi identificada a necessidade de o evento ser presencial para que as startups pudessem potencialmente tirar proveito da exposição que tivessem. Do ponto de vista de saúde, foi destacada a necessidade de se adaptar os eventos às regras sanitárias e não o inverso, relativamente ao perigo que poderia ser juntar milhares de pessoas no Parque das Nações, entre o Meo Arena e a FIL, mesmo com uma lotação limitada.

Num Q&A, no segundo dia do Collision From Home, Paddy Cosgrave deu as primeiras informações sobre em que modelo o Web Summit ia acontecer em Lisboa:

  • A data: 2 a 4 de dezembro, atrasando um mês o evento que por norma acontece em novembro.
  • O formato: Um modelo híbrido, on e offline, em que a ideia é estender a cimeira tecnológica para além de Lisboa. A capital portuguesa seria a parte offline, cuja audiência dependeria das diretivas das autoridades portuguesas. Noutras cidades portuguesas como o Porto, Coimbra e Faro, a ideia seria criar pequenos estúdios e mostrar que “há muito mais de Portugal para além de Lisboa”, nas palavras do CEO do Web Summit.
  • O objetivo: albergar até 100.000 fundadores, parceiros, investidores e oradores na plataforma do evento, tornando o Web Summit na maior conferência online alguma vez feita.
  • Os bilhetes: Já estão à venda, sendo que perto de 50 mil serão entregues a universidades e licenciados interessados em trabalhar em startups.
  • As preocupações: como já foi mencionado, o formato dependerá da forma como as regras de sanitárias e de segurança evoluírem nos próximos meses; a coordenação de um evento que terá a) dois formatos a acontecer em simultâneo e b) estará a acontecer de diferentes pontos do país e c) a dinâmica entre momentos que acontecerão em direto ou que serão transmitidos depois de serem previamente gravados (como foi a regra no Collision).
  • Nos próximos meses: deverão começar a aparecer os primeiros anúncios de oradores, quer para participar online, quer para virem diretamente a Lisboa. Contudo, ficam duas questões. Se o evento a acontecer em dois modelos, 1) qual é o incentivo para um CEO/Investidor/Celebridade vir ao evento? e 2) Num caso em que a maior parte destes escolha participar no evento remotamente, qual é o incentivo para qualquer indivíduo com interesse no evento, a deslocar-se ao Parque das Nações?

Brevemente, teremos mais respostas.

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