Nascida na Irlanda mas acolhida por Portugal desde 2016, a Web Summit encaminha-se para a terceira edição, trazendo consigo o já habitual reboliço de oradores, empresas e startups de topo para fazer propiciar negócios e discutir o futuro da tecnologia e, porque não, do mundo.

Esta terceira edição, contudo, chegou-se a pensar ser a derradeira a realizar-se em Lisboa, com a organização a encarar a possibilidade de mudar-se já em 2019 para cidades como, Madrid, Berlim ou Valência. Esta última chegou-se mesmo à frente, a 4 de junho, com uma candidatura ambiciosa que já andava a ser preparada desde fevereiro. Da parte da organização irlandesa, apenas ambiguidade (ou, à luz da História, talvez bluff), com Mike Harvey, o diretor de Comunicação Estratégica, a admitir que estavam em negociações com muitas cidades.

No entanto, no início de outubro, começaram a surgir rumores no sentido contrário, que defendiam que não só a cimeira se ia manter por terras lusas, mas que podia ser num período de cinco a dez anos. A especulação teve apenas um ponto final com um anúncio oficial a confirmar as expectativas mais otimistas: a Web Summit não sairia de Lisboa nos próximos 10 anos.

Para assegurar o novo acordo, a Câmara Municipal de Lisboa subiu a parada e passou de pagar 1,3 milhões de euros por ano para 11 milhões, perfazendo um investimento total projetado de 110 milhões de euros. Além disso, a CML comprometeu-se também a fazer uma expansão faseada da FIL nos próximos anos para mais do dobro da capacidade, permitindo, segundo as previsões, acolher mais de 100 mil participantes.

Em contrapartida, e porque as instâncias nacionais asseguraram-se de que este é um relacionamento para durar, o contrato inclui uma cláusula de rescisão que obriga a organização do Web Summit a pagar 3,4 mil milhões de euros caso saia da capital. Este valor corresponde ao impacto financeiro estimado do evento, traduzindo-se em 340 milhões de euros por cada ano de incumprimento do acordo. De resto, o Governo estará a querer assegurar a permanência do evento dadas as suas mais valias económicas, já que estimou que a atividade económica gerada pela Web Summit 2017 atingiu mais de 300 milhões de euros, a par dos 30 milhões encaixados em receitas fiscais.

A boa nova teve direito a cerimónia na Altice Arena, presidida por Paddy Cosgrave, Fernando Medina e António Costa. O primeiro disse que o seu “coração está em Lisboa”, mas revelou que foi o presidente da Câmara Municipal de Lisboa que o convenceu a manter o evento em Portugal num telefonema feito já de madrugada, considerando que foi um “dos melhores discursos depois da meia-noite” que já tinha ouvido, admitindo ainda que foi a “decisão mais louca” que já tomou mas que vai render “a longo prazo”.

Da parte de Medina, este considerou a permanência da Web Summit uma “vitória” com “muitos significados”, sendo que o primeiro foi o ter ganho uma “competição muito difícil com algumas das maiores cidades do mundo” por ter apresentado “a melhor proposta”. Já António Costa considerou o evento “a peça de uma estratégia” para Portugal para “projetar definitivamente uma imagem do nosso país como um país da inovação e da tecnologia”, dizendo ainda a Cosgrave que podia contar com o país “para manter a Web Summit a crescer. Porque quando vocês crescem, nós crescemos convosco”.

No entanto, nem toda a gente ficou convencida com o otimismo de Costa e Medina, sendo exemplo o de António Saraiva, presidente da Confederação da Indústria, que numa entrevista ao Observador demonstrou ceticismo perante o retorno económico do Web Summit. Outras críticas partiram da própria vereação de Lisboa, pelas vozes de Teresa Leal Coelho ou de Sofia Vala Rocha, que concordam com a iniciativa mas consideram que o avultado investimento podia ser canalizado para áreas como a habitação.

O que pode ver na edição de 2018 da Web Summit

Há muito para ver durante três dias - quatro, se contarmos com dia 5, ocupado pela sessão inaugural a cargo de Paddy Cosgrave na Altice Arena - por entre 23 espaços temáticos e de conferência, que incluem palcos como o PandaConf, o Q + A, o SaaS Monster e o SportsTrade, para além do principal, por onde vão passar cerca de 800 oradores. Tendo contado com mais de 59 mil pessoas na edição de 2017, este ano, a organização espera chegar às 70 mil.

Como tem vindo a ser costume neste certame, há nomes de grande influência e importância entre os oradores. Do ramo tecnológico, esta edição conta com nomes como Ev Williams (fundador do Twitter e do Medium, do qual ainda é CEO), Young Sohn (presidente e CSO da Samsung), Brad Smith (presidente da Microsoft), Elie Seidman (CEO do Tinder) e Ben Silbermann (CEO e Co-fundador do Pinterest), entre muitos outros.

Há, contudo, duas figuras fundamentais da Internet que se destacam no cartaz, a representar o seu passado e o seu futuro: Tim Berners-Lee, fundador da World Wide Web (WWW), vai conversar com Jacquelline Fuller, presidente da Google.org, sobre como se pode estender o direito à Internet a todo mundo, enquanto Christopher Wylie, o programador que denunciou a instrumentalização de dados online da Cambridge Analytica, promete revelar quais são as maiores ameaças que enfrentamos quanto ao roubo de informação pessoal.

Mas é bem sabido que o Web Summit não é exclusivamente “web”, apresentando-se como um púlpito para discutir questões políticas, empresariais, culturais e até desportivas, frequentemente fundindo-se umas com as outras. É por isso que nesta terceira edição da cimeira, tanto tomam o palco figuras políticas como António Guterres (secretário-geral da ONU) e Margrethe Vestager (comissária europeia para a Competição), como o realizador de cinema Darren Aronofsky, o ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, a robô Sophia (que marca o seu regresso) ou a Chief Brand Officer da WWE, Stephanie McMahon.

Outras participações são mais surpreendentes pelo rumo que os intervenientes deram às suas vidas: se Garry Kasparov, ex-campeão mundial de xadrez, vem enquanto embaixador do anti-virus Avast, Philip Lahm, um dos grandes laterais do mundo do futebol, chega a Lisboa em nome da sua Holding em nome próprio. A princesa Beatriz de Iorque não vem enquanto realeza britânica, mas como responsável pelas parcerias e estratégia da tecnológica Afiniti, assim como Imogen Heap não vem cantar, mas sim promover a sua plataforma de música Mycelia e falar sobre “blockchain”.

E se os oradores confirmados são motivos de conversa, os que já não estão também deram que falar, pois uma das convidadas mais mediáticas afinal não vem a Lisboa. Depois anunciar a participação de Marine Le Pen enquanto oradora durante o evento, a organização voltou atrás com a decisão e retirou o convite à líder do partido francês de extrema-direita Reunião Nacional. A opção foi tomada por Paddy Cosgrave depois de um intenso movimento de pressão da sociedade portuguesa - onde o Bloco de Esquerda e a associação SOS Racismo se incluíram - para impedir a vinda de Le Pen. O Governo distanciou-se durante o caso, apesar das interpelações de Cosgrave, justificando que o alinhamento é da “exclusiva responsabilidade da organização” e que não tinha “intervenção na seleção de oradores".

Nem tudo, contudo, são conferências, sendo que as Startups voltam a ter um destaque privilegiado, havendo múltiplos workshops planeados. Na terça-feira de manhã, dia 6, começa o Pitch, a competição que vai decorrer durante toda a Web Summit e cujo vencedor vai ser revelado na quinta, por Paddy Cosgrave.

Se não tem bilhete para a Web Summit, ainda vai a tempo. Apesar de já não haver bilhetes Super Early Bird, Early Bird e Regular, os Late (compras tardias) estão disponíveis por 995€ - prevendo-se os derradeiros Late Late (compra mesmo muito tardia) por 1500€ para quem se decidir só à última hora. Estes permitem assistir às conferências, aceder ao andar da feira e participar nos workshops, entre outras regalias. Para além disso, há ainda a modalidade Executive e Chairperson, por 4995€ e 24.995€ respetivamente, sendo que o primeiro dá acesso aos jantares exclusivos e o segundo a essas refeições e à zona lounge.


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