A série "O Mecanismo" — inspirada na Operação Lava Jato e no escândalo de corrupção que abala o Brasil — espoletou a polémica. E a Netflix não arreda pé. Depois da contestação, as lojas.
Os locais de venda de artigos de luxo para crimes de colarinho branco estão nos terminais Juscelino Kubitschek, em Brasília, e Congonhas, em São Paulo.
Um manual de "Delação premiada para leigos", com "1.001 coisas para fazer antes de ficar em prisão domiciliária", está exposto numa montra, ao lado de um par de sapatos com gravador.
Nestas lojas é possível encontrar manequins com cuecas cheias de dinheiro, ou exibindo delicadas pulseiras eletrónicas douradas, combinadas com sapatos de salto. Ao fundo, uma voz sugestiva recomenda as gravatas para "filmar os seus inimigos políticos".
"Entre no esquema, mas não saia da moda" é o mote da campanha promocional, que apresenta produtos para quem "não anda na linha, mas anda na moda".
Na noite desta quarta-feira, no encerramento de sua campanha pelo sul do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em Curitiba que "essa tal da Netflix nós vamos processar, porque estão fazendo uma festa e nós não podemos aceitar isso e eu não vou aceitar".
Lula da Silva, que é pré-candidato à Presidência do Brasil, falava no encerramento de uma agitada caravana partidária que percorreu nos últimos dias o sul do país. O ex-metalúrgico foi condenado recentemente a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito do chamado “caso triplex,” resultante da operação Lava Jato.
Lula tem repetidamente clamado inocência e apresentou recurso da condenação. Se a pena vier a ser confirmada antes do encerramento das candidaturas presidenciais pelo Supremo brasileiro, o ex-presidente terá os seus direitos políticos “cassados”, não podendo candidatar-se ao Planalto.
Dirigida por José Padilha, um dos mais conceituados realizadores brasileiros, a série estreou na passada sexta-feira a nível mundial, tendo sido mal recebida por diversas figuras da esquerda brasileira, sobretudo ligadas ao PT, o Partido dos Trabalhadores.
A série acompanha a investigação policial num período alargado (2003-2014), que coincide com as passagens pela Presidência da República de Lula da Silva e da sua sucessora, Dilma Roussef.
O Mecanismo retrata Lula e Dilma com nomes fictícios, atribuindo-lhes um conhecimento profundo dos mecanismos de corrupção que envolviam senadores, empresários e diversas figuras partidárias, da esquerda à direita.
Dilma já acusou a série de propagar "fake news". Lula também a classificou de mentirosa. “Aviso que vamos denunciar [judicialmente] os responsáveis [da série] aqui ou em qualquer lugar" porque eles produziram uma peça que é mais uma mentira", preveniu Lula.
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