INTRODUÇÃO

«Feliz Natal, Ali. Tente não matar ninguém.»

Com estas palavras, o meu supervisor desligou o telefone despreocupadamente, deixando‐me sozinho a cuidar de toda uma ala hospitalar, repleta de pacientes. Eu era um médico recém‐formado e, três semanas antes, cometera um erro de principiante: esquecera‐me de preencher um formulário a requisitar férias. Assim, ali estava eu, a gerir uma ala hospitalar, sozinho, no dia de Natal.

As coisas começaram mal e pioraram rapidamente. Quando cheguei ao hospital, fui recebido por uma avalanche de historiais de pacientes, relatórios de diagnóstico e enigmáticas solicitações de exames que fariam mais sentido para um arqueólogo experiente do que para o nosso radiologista de serviço. Em poucos minutos, fui confrontado com a primeira emergência do dia: um homem na casa dos 50 anos que desmaiara devido a uma grave paragem cardíaca. Logo depois, uma das enfermeiras informou‐me de que um paciente precisava, urgentemente, de uma evacuação manual (consegue imaginar...).

Às 10h30, olhei em redor da ala. A enfermeira Janice corria para lá e para cá no corredor A, em pânico, com os braços a transbordar de soro intravenoso e fichas clínicas. No corredor B, um paciente idoso e teimoso exigia, em voz alta, a sua dentadura, que não se encontrava onde deveria estar. O corredor C fora tomado por um exilado bêbedo proveniente do serviço de urgência, que vagava pelo corredor e gritava «Olive! Olive!» (nunca descobri quem era Olive). E, a cada minuto, alguém fazia uma nova exigência: «Dr. Ali, pode verificar a febre da Sra. Johnson?»; «Dr. Ali, pode ajudar com o nível elevado de potássio do Sr. Singh?».

Comecei a entrar em pânico rapidamente. A Faculdade de Medicina não me preparara para algo assim. Até então, sempre fora um aluno bastante competente. Sempre que as coisas se tornavam difíceis, a minha estratégia era simples: trabalhar mais. Foi esse o método que me fez entrar na Faculdade de Medicina sete anos antes. Também me garantiu um punhado de publicações em revistas académicas. Até me possibilitou abrir um negócio enquanto estudava. A disciplina era o único sistema de produtividade que eu conhecia. E funcionou.

"É Desta Que Leio Isto"

"É Desta Que Leio Isto" é um grupo de leitura promovido pela MadreMedia e por Elisa Baltazar, co-fundadora do projeto de escrita "O Primeiro Capítulo”.

Lançado em maio de 2020, foi criado com o propósito de incentivar à leitura e à discussão à volta dos livros. Já folheámos as páginas de livros de autores como Luís Sepúlveda, George Orwell, José Saramago, Dulce Maria Cardoso, Harper Lee, Valter Hugo Mãe, Gabriel García Marquez, Vladimir Nabokov, Afonso Reis Cabral, Philip Roth, Chimamanda Ngozi Adichie, Jonathan Franzen, Isabel Lucas, Milan Kundera, Joan Didion, Eça de Queiroz e Patricia Highsmith, sempre com a presença de convidados especiais que nos ajudam à discussão, interpretação, troca de ideias e, sobretudo, proporcionam boas conversas.

Ao longo da história do nosso clube, já tivemos o privilégio de contar nomes como Teolinda Gersão, Afonso Cruz, Tânia Ganho, Filipe Melo e Juan Cavia, Kalaf Epalanga, Maria do Rosário Pedreira, Inês Maria Meneses, José Luís Peixoto, João Tordo e Álvaro Laborinho Lúcio, que falaram sobre as suas ou outras obras.

Para além dos encontros mensais para discussão de obras literárias, o clube conta com um grupo no Facebook, com mais de 2500 membros, que visa fomentar a troca de ideias à volta dos livros, dos seus autores e da escrita e histórias que nos apaixonam.

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Só que agora não estava a funcionar. Desde que começara a exercer Medicina, alguns meses antes, sentia‐me como se estivesse a afogar‐me. Mesmo quando trabalhava até bastante tarde, não conseguia atender a quantidade de pacientes exigida nem terminar a papelada necessária. O meu humor também estava a sofrer. Embora tivesse gostado da formação em Medicina, o trabalho em si parecia‐me verdadeiramente deprimente, sempre preocupado com a possibilidade de cometer um erro que mataria alguém. Passei a não dormir bem, as amizades desapareceram, a minha família deixou de ter notícias minhas. E eu continuei a trabalhar ainda mais.

Agora, era dia de Natal, e eu estava sozinho numa ala hospitalar, sem conseguir aguentar o meu turno.

Tudo veio à tona quando deixei cair uma bandeja de suprimentos médicos, fazendo seringas deslizarem pelo chão de linóleo. Ao olhar, desolado, para o meu uniforme húmido, percebi que tinha de tentar compreender o que se estava a passar — caso contrário, o sonho de me tornar cirurgião escaparia por entre os meus dedos.

Naquela noite, pendurei o meu estetoscópio, peguei num pastel de carne e abri o portátil. Já fui tão produtivo, pensei. O que me está a escapar? Durante o meu primeiro ano na Faculdade de Medicina, fiquei obcecado pelos segredos da produtividade. Fiquei acordado até tarde, noite após noite, a fazer anotações em centenas de artigos, publicações em blogues e vídeos que prometiam a chave para um desempenho ideal. Todos os gurus enfatizavam a importância do trabalho árduo. Uma citação de Muhammad Ali aparecia muito: «Odiei cada minuto de treino, mas disse: “Não desistas. Sofre agora e vive o resto da tua vida como um campeão.”»

Com a noite de Natal a chegar ao fim, fiquei debruçado sobre as minhas antigas anotações e perguntei‐me se era aí que estava a errar. Será que só precisava de recuperar a minha antiga ética de trabalho? Mas, quando voltei ao trabalho, no dia seguinte, decidido a produzir mais, não fez diferença. Embora tenha ficado na ala até à meia‐noite — e mesmo recitando, para mim mesmo, a frase de Muhammad Ali na casa de banho —, não conseguia pôr a papelada em dia. Os meus pacientes continuavam a receber uma versão cansada e ineficaz do Ali. E eu ainda demonstrava uma notável falta de alegria natalícia.

No final do meu dia mais difícil, senti‐me completamente assoberbado. E então, do nada, lembrei‐me de algumas palavras de sabedoria do meu antigo orientador, o Dr. Barclay:

«Se o tratamento não estiver a funcionar, questione o diagnóstico.»

Lentamente, comecei a duvidar de todos os conselhos de produtividade que havia aprendido. O sucesso realmente exigia sofrimento? O que era, afinal, o «sucesso»? O sofrimento era sequer sustentável? Fazia sentido que sentir‐me sobrecarregado fosse bom para realizar as coisas? Teria de trocar a minha saúde e felicidade por, bem, qualquer coisa? 

Demoraria alguns meses. Mas estava no rumo certo para uma revelação: tudo o que me disseram sobre o sucesso estava errado. Eu não podia forçar‐me a ser um bom médico. Trabalhar mais não me traria felicidade. E havia outro caminho para a realização: que não fosse marcado por ansiedade constante, noites sem dormir e uma dependência preocupante de cafeína.

Eu não tinha todas as respostas, nem de longe. Mas, pela primeira vez, divisei o início de uma abordagem alternativa. Uma abordagem que não dependia de um trabalho exaustiva‐ mente árduo, mas da compreensão do que tornava o trabalho árduo mais agradável. Uma abordagem que se concentrou primeiro no meu bem‐estar e, em segundo lugar, usou esse bem‐estar para impulsionar o meu foco e a minha motivação. Uma abordagem a que eu viria a chamar método Feel‐Good de produtividade.

OS SEGREDOS SURPREENDENTES DO MÉTODO FEEL-GOOD DE PRODUTIVIDADE

Na Faculdade de Medicina, a minha obsessão pela produtividade levou‐me a acrescentar mais um ano para me formar em Psicologia. Quando comecei a juntar as peças do método Feel‐Good de produtividade, lembrei‐me de um estudo em que fui testado — que envolvia uma vela, fósforos e uma caixa de pioneses.

Imagine‐se com estes três objetos diante de si. A sua tarefa é prender a vela ao quadro de cortiça na parede para que, quando acesa, a cera não pingue na mesa por baixo. Dá por si intrigado com estes objetos, virando‐os nas mãos. Consegue pensar na solução?

Diante deste problema, a maioria das pessoas considera apenas a vela, os fósforos e os pioneses. Mas as mentes mais inovadoras reconhecem o potencial da caixa de pioneses. A solução ideal para o enigma envolve ver a caixa de pioneses não apenas como um recipiente mas como um castiçal.

Este é o «problema da vela», um teste clássico do pensamento criativo. Desenvolvido originalmente por Karl Duncker e publicado, postumamente, em 1945, desde então tem sido utilizado em inúmeros estudos que testam tudo, desde a flexibilidade cognitiva às consequências psicológicas do stress. No final da década de 1970, a psicóloga Alice Isen usou‐o como base de uma experiência influente para estudar como o humor afeta a criatividade das pessoas.

Isen começou por dividir os seus voluntários em dois grupos. Um grupo recebeu um pequeno presente — um saco de doces — antes de enfrentar o problema da vela. O outro grupo iniciou a tarefa sem esse incentivo. A teoria dizia que aqueles que recebessem os doces teriam um humor mais positivo quando tentassem resolver o desafio. Isen descobriu algo interessante: aqueles cujo humor melhorou subtilmente com o presente tiveram significativamente mais sucesso na solução para o problema da vela.

Quando li pela primeira vez sobre a experiência de Isen durante a minha pós‐graduação em Psicologia, achei‐a interessante, mas não propriamente transformadora. Pessoal‐ mente, nunca senti a vontade irresistível de prender uma vela à parede. Mas, voltando a isso como médico recém‐formado, percebi que a ideia de Isen era bastante profunda. Sugeria que sentir‐se bem não termina apenas com sentir‐se bem. Na verdade, muda os nossos padrões de pensamento e comportamento.

Sei agora que o estudo se tornou o pilar de uma onda de pesquisas que estudam a forma como as emoções positivas afetam muitos dos nossos processos cognitivos. Mostrou que, quando estamos de bom humor, tendemos a considerar uma gama mais ampla de ações, a estar mais abertos a novas experiências e a compreender melhor as informações que recebemos. Por outras palavras, sentirmo‐nos bem aumenta a nossa criatividade — e a nossa produtividade.

Uma das primeiras pessoas a explorar exatamente como isso funciona foi Barbara Fredrickson. Professora na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, Fredrickson é uma das principais figuras da Psicologia Positiva, um ramo relativamente novo da Psicologia que se concentra na compreensão e na promoção da felicidade. No final da década de 1990, Fredrickson propôs aquilo a que chamou teoria «ampliar‐e‐construir» das emoções positivas.

De acordo com a teoria ampliar‐e‐construir, as emoções positivas ampliam a nossa consciência e constroem os nossos recursos cognitivos e sociais. Ampliar refere‐se ao efeito imediato das emoções positivas: quando nos sentimos bem, as nossas mentes abrem‐se, assimilamos mais informações e vemos mais possibilidades ao nosso redor. Consideremos o problema da vela: com um humor positivo, os participantes puderam ver uma gama mais ampla de potenciais soluções.

Construir refere‐se aos efeitos de longo prazo das emoções positivas. Quando vivenciamos emoções positivas, construímos uma reserva de recursos mentais e emocionais que podem ajudar‐nos no futuro — recursos como resiliência, criatividade, habilidades de resolução de problemas, conexões sociais e saúde física. Com o tempo, estes dois processos reforçam‐se mutuamente, criando uma espiral ascendente de positividade, crescimento e sucesso.

Livro: "Feel-Good Productivity"

Autor: Ali Abdaal

Editora: Vogais

Data de Lançamento: 5 de fevereiro de 2024

Preço: € 18,85

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As emoções positivas são o combustível que impulsiona o motor do desenvolvimento humano.

A teoria sugere uma forma totalmente nova de compreender o papel das emoções positivas nas nossas vidas. Não são apenas sentimentos passageiros que vêm e vão sem consequências. São essenciais para o funcionamento cognitivo, para as relações sociais e para o bem‐estar geral. As emoções positivas são o combustível que impulsiona o motor do desenvolvimento humano.

O MOTIVO PARA O MÉTODO FEEL-GOOD DE PRODUTIVIDADE FUNCIONAR

Quando comecei a aprender sobre ampliar‐e‐construir, tive um vislumbre de uma maneira diferente de pensar sobre a minha vida. Durante anos, pensei que simplesmente esforçando‐me mais poderia conseguir as coisas que queria. Se eu quisesse ser um bom médico, a vida que teria pela frente seria definida por um trabalho árduo e inexorável.

Agora, conseguia ver as coisas de outra maneira. A teoria de Fredrickson sugere que as emoções positivas mudam a forma como o nosso cérebro funciona. O primeiro passo é sentirmo‐nos melhor. O segundo é fazer mais daquilo que é importante para nós.

Mas porquê? — perguntei‐me. Quanto mais leio, mais percebo que as explicações são variadas... e, em alguns casos, permanecem obscuras. Mas os cientistas começaram a encontrar algumas respostas.

Primeiro, sentirmo-nos bem aumenta a nossa energia. A maioria das pessoas já sentiu uma energia que não é estritamente física ou biológica, que não vem apenas do açúcar ou dos hidratos de carbono, mas de uma fusão de motivação, foco e inspiração. É a energia que sente quando está a trabalhar numa tarefa particularmente cativante ou cercado de pessoas inspiradoras. Esta energia tem muitos nomes diferentes. Foi rotulada como energia «emocional», «espiritual», «mental» ou «motivacional» por psicólogos; «entusiasmo», «vitalidade» ou «entusiasmo energético» por neurocientistas. Mas, se os investigadores não conseguem chegar a acordo sobre o nome a dar‐lhe, pelo menos concordam que ela nos torna motivados, focados e inspirados para perseguir os nossos objetivos.

Então, qual é a fonte dessa energia misteriosa? A resposta curta: sentirmo‐nos bem. As emoções positivas estão ligadas a um conjunto de quatro hormonas — endorfinas, serotonina, dopamina e oxitocina —, que são frequentemente rotuladas de «hormonas da felicidade». Todas elas nos permitem conseguir mais. As endorfinas são frequentemente libertadas durante atividade física, stress ou dor e provocam sentimentos de felicidade e diminuição do desconforto — e níveis elevados geralmente correlacionam‐se com o aumento de energia e de motivação. A serotonina está ligada à regulação do humor, do sono, do apetite e com a sensação geral de bem‐estar; sustenta o nosso sentimento de contentamento e dá‐nos energia para realizarmos tarefas com eficiência. A dopamina, ou hormona da «recompensa», está ligada à motivação e ao prazer, e a sua libertação proporciona uma satisfação que nos permite concentrarmo‐nos por mais tempo. E a oxitocina, conhecida como a hormona do «amor», está associada ao vínculo social, à confiança e à construção de relacionamentos, o que aumenta a nossa capacidade de nos conectarmos com os outros, melhora o nosso humor e, por sua vez, tem impacto na nossa produtividade.

Tudo isto significa que estas hormonas são o ponto de partida de um ciclo virtuoso. Quando nos sentimos bem, geramos energia, o que aumenta a nossa produtividade. E essa produtividade leva a sentimentos de realização, que nos fazem sentir bem novamente.

Em segundo lugar, sentirmo-nos bem reduz o stress. Além da teoria ampliar‐e‐construir, Barbara Fredrickson também desenvolveu o que os psicólogos chamam de «hipótese de desfazer». Fredrickson e os seus colegas estavam interessados em décadas de pesquisa que mostravam que emoções negativas provocam a libertação de hormonas de stress, como adrenalina e cortisol. Isto não é um problema a curto prazo; é o mecanismo que nos motiva a fugir do perigo. Mas, se experienciarmos estas sensações negativas com demasiada frequência, somos dominados pela ansiedade, e a nossa saúde física é prejudicada. A ativação contínua destas hormonas pode até aumentar o risco de desenvolver doenças cardíacas e hipertensão. Não é ideal.

Fredrickson questionou‐se sobre o outro lado: se as emoções negativas têm estes efeitos fisiológicos prejudiciais, então talvez as emoções positivas possam revertê‐los. Será que sentir‐se bem pode «reiniciar» o sistema nervoso e colocar o corpo num estado mais relaxado?

Para testar isso, Fredrickson elaborou um estudo bastante mauzinho. Os investigadores disseram a um grupo de pes‐ soas que tinham um minuto para preparar um discurso que seria filmado e julgado pelos seus pares. Sabendo que o medo de falar em público é praticamente universal, Fredrickson levantou a hipótese de que isso elevaria os níveis de ansie‐ dade e stress dos sujeitos. E assim foi; as pessoas relataram sentir‐se mais ansiosas e sofreram aumentos na frequência cardíaca e na pressão arterial. Em seguida, os investigadores designaram aleatoriamente os participantes para assistir a um de quatro filmes: dois que evocavam emoções mode‐ radamente positivas, o terceiro neutras, e o quarto tristes. E, então, mediram quanto tempo os participantes levaram a «recuperar» do stress.

As suas descobertas foram intrigantes. Os participantes que assistiram aos filmes de emoções positivas levaram significativamente menos tempo para regressar ao estado inicial em termos de frequência cardíaca e pressão arterial. E aqueles que assistiram ao filme que evocava a tristeza demoraram mais a voltar ao ponto de partida.

Esta é a «hipótese de desfazer»: que as emoções positivas podem «desfazer» os efeitos do stress e de outras emoções negativas. Se o stress é o problema, sentirmo‐nos bem pode ser a solução.

Mas a implicação final, e talvez a mais transformadora, da produtividade do bem‐estar vai muito além de qualquer tarefa ou projeto. Porque, em terceiro lugar, sentirmo-nos bem enriquece a nossa vida. Em 2005, uma equipa de psicólogos leu todos os estudos a que conseguiu ter acesso sobre a complexa relação entre felicidade e sucesso. Investigaram 225 artigos publicados que envolveram dados de mais de 275 mil indivíduos. A pergunta deles: O sucesso, como nos dizem sempre, torna‐nos mais felizes — ou poderá ser o contrário?

O estudo ofereceu evidências concretas de que tende‐ mos a entender mal a felicidade. Indivíduos que experienciam frequentemente emoções positivas não são apenas mais sociáveis, otimistas e criativos. Eles também realizam mais. Estas pessoas trazem uma energia contagiante ao seu ambiente, mostrando‐se mais propensas a desfrutar de relacionamentos gratificantes, obter salários mais altos e realmente brilhar nas suas vidas profissionais. Aqueles que cultivam emoções positivas no trabalho transformam‐se em melhores solucionadores de problemas, planeadores, pensadores criativos e empreendedores resilientes. Estão menos stressados, atraem avaliações mais elevadas dos seus superiores hierárquicos e demonstram um maior grau de lealdade para com as suas organizações.

O sucesso não leva à felicidade. A felicidade leva ao sucesso.

Simplificando: não é o sucesso que faz que se sinta bem. É o facto de se sentir bem que o leva ao sucesso.

COMO USAR ESTE LIVRO

Naquele primeiro ano angustiante como médico, a maioria destas descobertas ainda estava anos à minha frente. Eu trabalhava em turnos intermináveis, tentando encaixar a minha pesquisa de produtividade nos intervalos fugazes entre as consultas aos pacientes.

Mas mesmo as revelações básicas que descobri foram suficientes para causar uma mudança dramática na minha relação com o trabalho. Quando comecei a abandonar as minhas obsessões com a disciplina e a concentrar‐me em tornar o trabalho agradável, os meus horríveis turnos começaram a ser mais fáceis. Logo, o meu humor começou também a melhorar. Lembro‐me de uma consulta com uma paciente idosa, alguns meses depois de descobrir o método Feel‐Good de produtividade. «Sabe, doutor», disse ela, «é o único aqui que sorri a semana toda».

Estas novas perspetivas não alterariam apenas a minha abordagem enquanto médico. Alterariam completamente o rumo da minha vida. Pela primeira vez em anos, comecei a ver oportunidades além dos limites do trabalho: as minhas amizades, a minha família e outras paixões que tinha deixado de parte. E logo me vi a querer partilhar a minha descoberta. Há alguns anos que tenho um canal no YouTube no qual partilho dicas de estudo e análises de tecnologia. Agora, comecei a partilhar revelações práticas que aprendi com a Psicologia e a Neurociência, usando‐me como cobaia, experimentando tudo o que aprendi e as estratégias que penso que poderão funcionar.

À medida que a minha noção radical de que o sucesso não precisa de estar vinculado ao sofrimento foi ganhando força, comecei a receber cada vez mais e‐mails dos meus subscritores. Alunos do ensino secundário passaram com excelência em exames, empresários duplicaram os seus rendimentos, pais conseguiram equilibrar melhor o trabalho e a vida familiar, tudo aplicando as estratégias que eu estava a partilhar. Até profissionais experientes, desgastados pela rotina da vida corporativa, estavam a descobrir energia renovada, motivação e um novo rumo.

E eu também. Quanto mais lia, mais a minha filosofia se desenvolvia. Por fim, seguindo os mesmos princípios e estra‐ tégias que estava a aprender, percebi que queria fazer uma pausa na Medicina para procurar algo novo.
Foi quando soube que tinha de escrever este livro. O que está contido nestas páginas não é apenas mais um sistema de produtividade para ajudá‐lo a fazer mais a qualquer custo. Trata‐se de fazer mais daquilo que é importante para si. Isso vai ajudá‐lo a aprender mais sobre si mesmo, o que ama e o que realmente o motiva.

O meu método tem três partes, cada uma das quais aborda um aspeto diferente da produtividade Feel‐Good. A Primeira Parte explica como usar a ciência da produtividade Feel‐Good para se energizar. Apresenta os três «energizantes» que sustentam as emoções positivas — brincar, poder e pessoas — e explica como integrá‐los no seu dia a dia.

A seguir, a Segunda Parte analisa como a produtividade Feel‐Good pode ajudar‐nos a superar a procrastinação. Aprenderá sobre os três «bloqueadores» que nos fazem sentir pior — incerteza, medo e inércia — e como superá‐los. Ao remover estes bloqueadores, não superará apenas a pro‐ crastinação; também se sentirá melhor.

Finalmente, na Terceira Parte, falaremos como a produtividade Feel‐Good pode sustentar‐nos a longo prazo. Iremos aprofundar os três tipos diferentes de «esgotamento» — esgotamento por sobrecarga, esgotamento por exaustão e esgotamento por desalinhamento. E explicarei como podemos aproveitar três «sustentadores» simples — conservar, recarregar e alinhar — para nos sentirmos melhor não apenas durante dias e semanas mas durante meses e anos.

Cada capítulo contém uma boa dose de dicas práticas. Mas o meu objetivo neste livro não é apresentar‐lhe uma extensa lista de tarefas. É oferecer‐lhe uma filosofia: uma nova maneira de pensar sobre produtividade que pode aplicar à sua vida, à sua maneira.

A minha esperança é que termine este livro como «cientista da produtividade» amador, encontrando alguns métodos que funcionam, descartando outros e trabalhando com sabedoria para ver o que o ajuda a sentir‐se bem e a alcançar mais. É por isso que cada capítulo contém não apenas três ideias simples, apoiadas pela ciência, que pode usar para repensar a produtividade, mas também seis «experiências» que pode implementar na sua própria vida. Se uma experiência funcionar para si, ótimo; se não funcio‐ nar, então essa também é uma revelação útil. No final do livro, porém, deverá ter um kit de ferramentas para aplicar a produtividade Feel‐Good ao seu próprio trabalho, relacionamentos e vida.

Só espero que funcione tão bem para si quanto funcionou para mim. Porque, se há uma coisa que aprendi ao mergulhar na ciência da produtividade do bem‐estar, é que ela se aplica a todas as esferas. Transforma tarefas assustadoras em desafios cativantes. Leva a conexões mais profundas com os outros. Impulsiona interações significativas no que faz, todos os dias.

Ao compreender e aplicar o que o faz sentir bem, não apenas transformará o seu trabalho. Transformará a sua vida. A produtividade Feel‐Good é um método simples. Mas muda tudo. Mostra que, se já se sentiu debaixo de água, não precisa de se contentar em permanecer à tona. Pode aprender  a nadar.

Vamos mergulhar.