Dia -1 (7 de julho): Dica para futuros viajantes: tenham um itinerário bem definido com alguma antecedência. Hoje poderia ter sido o meu primeiro dia de Interrail - estaria agora, muito provavelmente, a dormir no comboio noturno de Colónia (Alemanha) para Viena (Áustria) -, mas quando fui reservar bilhetes, apenas a duas semanas da viagem, já não havia lugares disponíveis para a noite de 7 de julho. Felizmente, pude reservar para o dia seguinte, pelo que não atrapalhou o resto do planeamento, apesar de obrigar a uma estadia mais curta na capital austríaca.
Mas talvez valha a pena dar um passo atrás. Afinal, que viagem é esta, o que é o Interrail e como cheguei a este ponto?
Quando falo em Interrail, refiro-me a um passe que, como o nome sugere, permite fazer várias viagens de comboio (e não só!) ao longo das ferrovias dos 27 países da União Europeia e de mais seis países associados: Suíça, Reino Unido, Sérvia, Turquia, Macedónia do Norte e Montenegro (além dos caminhos de ferro que passam pelo Mónaco e Liechtenstein).
Desde 1972, o passe de Interrail possibilita aos jovens europeus fazer viagens de comboio ilimitadas durante um período de tempo, em colaboração com as várias redes de transporte ferroviário europeias, trazendo um pouco das diversas culturas para a sua vida. Cresci a ouvir pais, primos afastados e até alguns conhecidos a contar as histórias mais diversas, desde uma noite passada num casino no Mónaco a uma dieta rígida de sanduíches de pão de forma por falta de dinheiro para mais.
Até recentemente, o Interrail era apenas acessível a quem o pudesse pagar. Só em 2018, após esforços de ativistas e políticos europeus, foi lançado um projeto-piloto de (apenas!) 12 milhões de euros, através do qual a União Europeia lançou uma oferta de 15 mil passes de Interrail grátis para jovens de 18 anos residentes na Europa.
No ano passado, só em Portugal candidataram-se ao passe 12 mil jovens e 1400 ganharam um bilhete. O mais curioso é que a viagem pode ser feita com até quatro amigos.
A iniciativa - "DiscoverEU" - teve um êxito tal que tem vindo a ser reforçada até hoje, com a oferta de 60 mil passes. No ano passado, só em Portugal candidataram-se ao passe 12 mil jovens e 1400 ganharam um bilhete. O mais curioso é que a viagem pode ser feita com até quatro amigos. E são lançados dois concursos por ano, um na primavera, outro no outono. Por isso, se quer tentar a sorte, fique atento ao site.
O Interrail era para mim um conceito bastante distante, até receber publicidade para a ronda de ofertas do outono de 2022, poucos meses antes de fazer 18 anos. A ideia de um bilhete grátis para viajar pela Europa, para um rapaz com planos para estudar no estrangeiro e acabado de sair da sufocante pandemia de Covid, soou obviamente bem. Mantive a ideia em mente até à primavera do ano seguinte, altura em que me candidatei. Para grande felicidade minha, ganhei um passe de sete dias de viagens ilimitadas no espaço de um mês.
Sem grande ideia de como utilizar este passe, fiquei surpreendido quando me convidaram (Agência Nacional Erasmus+ Juventude e Desporto) para um meet-up no Porto, com centenas de outros jovens vencedores, com estadia e refeições incluídas, para saber mais sobre esta experiência e como tirar dela o maior partido possível. Saí da reunião ainda um tanto desorientado com tantas escolhas possíveis, mas ainda mais determinado a fazer a viagem acontecer.
Agora que falo nisso percebo que passou um ano desde então (caramba!). Encaixar um ano de preparação num diário como este é complicado, mas o que pretendo é dar a conhecer esta oportunidade com base na minha experiência pessoal, até para ajudar pais e filhos a aproveitarem ao máximo esta vantagem. Por isso, ao longo das próximas duas semanas, mais coisa menos coisa, proponho-me escrever uma crónica por dia a relatar as minhas peripécias, surpresas e azares e cuja publicação terá lugar no SAPO24 a partir de 15 de julho.
Não estou sozinho nesta viagem. Partilho a aventura com uma amiga que conheci online há dois anos e que por piada também se candidatou ao Interrail (a partir da Áustria, onde vive) e ganhou um passe. Conhecer estes amigos em pessoa é também uma grande oportunidade que o programa nos dá. Depois de meses a planear o itinerário em conjunto, combinámos encontrar-nos em Viena na manhã do dia 9 de julho. Parece difícil acreditar, mas é bastante real. Tão real como a necessidade de dormir, que é o que vou tentar fazer agora, porque já estou a sonhar. Até amanhã.
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