João Luís Barreto Guimarães é médico e professor de Introdução à Poesia para estudantes de Medicina, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto. Nos últimos dias, esta cadeira universitária — que tem cerca de 30 alunos por ano — esteve em destaque no The Guardian.

"Peço aos alunos que leiam poemas que falam sobre empatia, compaixão, solidariedade e outros valores humanistas que os médicos devem procurar seguir quando estão diante de um paciente", referiu João Luís Barreto Guimarães ao jornal britânico.

"Hoje em dia, muitas vezes os médicos não têm tempo para parar e pensar, então tudo rapidamente se reduz ao técnico e mecânico. O que tento transmitir aos alunos é que, tal como acontece com um poema, cada um dos seus pacientes é único", explicou ainda.

Em 2021, em entrevista ao SAPO24, o também poeta defendia precisamente como o jogo de interpretação que a poesia propõe pode ajudar os médicos a desenvolver uma relação mais empática com os doentes.

"A poesia é uma linguagem de fragilidade. Mesmo quando é uma linguagem de resistência e aparenta ser forte, é normalmente a linguagem não do vencedor, mas do derrotado. Há um potencial de estes jovens alunos, quando escutarem e lerem estas vozes, desenvolverem neles características de compaixão. Aqui é-lhes apresentado alguém — talvez não com um rosto, mas com um nome —, o que é seguramente algo que uma tabela de um livro de texto onde se descreve objetivamente uma doença não tem", frisou na altura.

E dizia ainda: "Num poema há uma persona, que normalmente é identificável, sendo que o poema pode ser mais ou menos biográfico. É portanto do conjunto destas três características — humanismo, empatia, compaixão — que temos a possibilidade de uma mais-valia na formação precoce destes estudantes".

Ao The Guardian, João Luís Barreto Guimarães frisou que tem recebido vários pedidos para lecionar noutras faculdades de medicina em Portugal. E esta iniciativa está já a surgir noutros países. Recentemente, a Universidade Pompeu Fabra de Barcelona introduziu um curso de literatura no segundo ano.