A programação daquela que é uma das maiores feiras do livro do mundo e que tem a particularidade de convidar cidades e não países, como é usual, foi hoje apresentada pela Câmara Municipal de Lisboa, no Palácio Galveias.

Prevista acontecer entre 23 de abril e 13 de maio, a Feira Internacional do Livro de Buenos Aires contará com a participação de 37 autores portugueses e 22 argentinos, que vão estar presentes em várias mesas, integradas numa programação eclética, que “cruza as artes” e dará grande destaque também à música, com seis apresentações musicais, e ao cinema, com dez filmes, revelou o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Diogo Moura.

“Esta é uma feira completamente diferente, convida cidades, e recebemos este convite já há um ano e dissemos logo que sim, era uma realidade para nós extremamente importante, porque vai ao encontro daquilo que é a nossa estratégia para a cultura e para aquilo que é a estratégia de internacionalizar a cultura da cidade de Lisboa, e esta é uma excelente oportunidade”, afirmou.

Será também uma oportunidade para os autores contactarem com editores e livreiros para poderem ser traduzidos, tendo sido criada uma linha especial de apoio à tradução, em parceria com a Direção-Geral do Livros, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), que será lançada na feira.

Segundo Diogo Moura, a autarquia tem um orçamento à volta de 500 mil euros para a participação na feira - que “pressupõe um grande investimento”, com a deslocação de muitos escritores e artistas -, um investimento “muito maior do que aquilo que é o apoio dos parceiros”.

Lisboa terá um espaço de 200 metros quadrados na feira, como um pequeno auditório, espaços de leitura, de áudio e livros de vários autores portugueses, não apenas os que vão estar presentes.

Em termos de programação literária - para além da oportunidade de negócio de venda de livros e de traduções que a participação na feira representa - estão previstas conversas, oficinas, debates, apresentações de livros e de autores, que incluem, entre muitos outros, nomes como Afonso Cruz, Afonso Reis Cabral, Ana Pessoa, André Letria, Bruno Vieira Amaral, Frederico Pedreira, Isabela Figueiredo, Jerónimo Pizarro, Joana Bértholo, Joana Estrela, José Luis Peixoto, Lídia Jorge, Pedro Mexia, Ricardo Araújo Pereira, Rosa Oliveira e Yara Monteiro.

Na área do cinema, a autarquia recebeu uma proposta para apresentar oito filmes e dois documentários, todos estreados nos últimos dois anos, inspirados em obras literárias ou escritores, de que são exemplo José Cardoso Pires, Sophia de Mello Breyner Andresen, Natália Correia ou Mário de Carvalho.

Diogo Moura destacou ainda a presença da música, através da Lisbon Poetry Orchestra, com o seu trabalho “Os surrealistas”, dedicado a celebrar e a interpretar a poesia de um grupo de artistas e poetas que percebeu a urgência da liberdade numa época de obscurantismo político, como é o caso de António José Forte, António Maria Lisboa, Alexandre O’Neill, Mário Cesariny, Pedro Oom, Vespeira ou Mário Henrique Leiria, para citar apenas alguns.

Ainda no panorama musical, o vereador destacou também a participação de Rodrigo Leão, com os espetáculos de comemoração dos seus 25 anos de carreira (2018), mas com uma “nova roupagem”, de Ana Lua Caiano, uma “artista revelação” que faz a junção “daquilo que é a tradição, daquilo que são as oralidades, com aquilo que são as novas sonoridades e com uso de novas tecnologias e ferramentas multimédia”, bem como Artur Pizarro, “um dos maiores pianistas portugueses”.

Ao todo são seis apresentações musicais, com um total de 30 músicos e 27 parceiros, numa programação global que se vai estender por 21 dias de uma feira que recebe 1,2 milhões de pessoas.

Por isso, esta participação é uma oportunidade de dar a conhecer Lisboa, mas também o país, a toda a América Latina, já que este certame congrega muitos países da América Latina e não apenas a Argentina.

Carla Quevedo, curadora da participação de Lisboa, destacou a “diversidade” como um dos fatores-chave que esteve na base da escolha da programação, e que justificou a representação dos mais variados géneros literários, desde a poesia ao romance, passando por ensaio, ficção, não-ficção, ilustração e banda desenhada.

A curadora disse que o mote da feira, “Lisboa, cidade inspiração”, será também o tema de debate numa mesa com sete autores portugueses, no dia 25 de abril, data de abertura da feira ao público (os dois dias anteriores serão dedicados às jornadas profissionais).

As semelhanças e diferenças entre Lisboa e Buenos Aires, na literatura, no futebol, no humor, por exemplo, são algumas das ideias que vão estar em debate.

Como se escreve um romance histórico, o que conta ou não para a História, se a guerra é um tema só para adultos, a forma de captar os jovens para a literatura, o que se passa com os policiais na literatura portuguesa, a relação entre literatura e poder, quando a literatura passa a facto político, a ligação entre vida e literatura, como é viver hoje com memórias do passado que não vivemos, são outras das ideias que vão ser abordadas nas mesas de autores.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, considerou que a participação de Lisboa na feira do livro de Buenos Aires significa ter na capital argentina a base da cultura, a alma e a vida de Lisboa.

Apontando a “estratégia, a diversidade, a inclusão e a criatividade” como pontos fortes da participação portuguesa, Carlos Moedas considerou que esta é uma oportunidade de “definir o que [se quer] para a cidade” e defendeu que sempre lutou para que “a cultura estivesse no centro da cidade e que fosse o seu motor”.

“Sobretudo hoje, mais do que nunca, temos de criar o hábito de leitura”, porque se não o construirmos, “vamos destruir a democracia”.