Segundo um comunicado divulgado pelos organizadores da feira, “1.º Direito” foi um dos dois livros estrangeiros a serem distinguidos com o prémio Chen Bochui, que toma o nome do escritor e tradutor chinês de literatura infantil e é promovido por várias entidades de Xangai, ligadas à edição e à promoção da leitura.

Após avaliar 250 livros vindos de 15 países e regiões, o júri do concurso sublinhou que muitas das obras premiadas descrevem como os jovens estão a lidar com os problemas e sentimentos criados pela pandemia de covid-19, segundo o anúncio feito na sexta-feira, em Xangai.

“1.º Direito”, sobre uma jovem que está fechada em casa e se entretém a observar as pessoas que vivem no prédio em frente, foi lançado em maio passado, durante o período de confinamento.

“Foi uma coincidência feliz num momento infeliz das nossas vidas”, disse à Lusa o autor, Ricardo Henriques. “As pessoas viram neste livro um retrato deste momento que estamos a viver”, acrescentou o editor da Pato Lógico, André Letria.

O objetivo original de “1.º Direito”, patrocinado pela Sociedade Portuguesa de Autores, era explicar a um público mais jovem a importância do trabalho dos artistas e “como às vezes isso é um pouco invisível”, disse à Lusa o ilustrador, Nicolau Fernandes.

O livro foi inspirado no filme “Janela Indiscreta”, com Nicolau Fernandes a usar mesmo a paleta de cores do filme realizado por Alfred Hitchcock, em 1954, de tons castanhos e laranja.

Além de chamar Graça à protagonista, “em homenagem a Grace Kelly”, principal atriz do filme, ao lado de James Stewart, Ricardo Henriques incluiu ainda uma homenagem ao diretor de arte Hal Pereira, habitual colaborador de Hitchcock, e descendente de judeus sefarditas portugueses.

Ricardo Henriques acredita que o prémio Chen Bochui poderá abrir as portas da China ao “1.º Direito”.

O primeiro livro do autor para a Pato Lógico, “Mar”, está a ser traduzido para chinês pela Shandong Science and Technology Press Co Ltd.

André Letria ficou surpreendido com o prémio, lembrando que a protagonista do livro é uma menina negra a observar uma rua multicultural. “Estamos curiosos para perceber como será a reação na China”, diz o editor.

Os vencedores do prémio Chen Bochui foram anunciados durante a oitava edição da Feira Internacional de Livros Infantis de Xangai, que terminou no domingo.

O evento de três dias juntou 386 editoras de 21 países e regiões, incluindo a editora portuguesa Orfeu Negro, e atraiu quase 20 mil visitantes, referiu a organização.