A poucos momentos de o desfile começar ouviam-se berbequins e na ‘passerelle’ estavam sacos de lixo. Já com os convidados e jornalistas sentados, entram contentores, onde foram colocados os sacos, e passa um carrinho de limpeza.
Entretanto entram os manequins, eles e elas, vestidos com peças da coleção “A Outra Verdade”, “feitas com moldes normalmente usados em peças diferentes”.
Para o próximo inverno, Dino Alves propõe “peças de roupa com proporções aparentemente incorretas, com painéis de peças com modelagem alterada e usadas com aplicação diferente”, bem como “linhas de cintura fora do lugar habitual sugerindo uma certa imperfeição e desproporção física”.
Nos materiais, o ‘designer’ optou por, entre outros, seda, algodão, lã, acolchoados, ‘neoprene’ e fibras sintéticas, em cores que vão do preto e branco ao amarelo torrado, roxo e prateado.
Enquanto o desfile decorria, era retirada parte da película branca que cobra o chão e onde, desde sexta-feira, dezenas de manequins caminharam vestindo roupas, das coleções do próximo inverno, de ‘designers’ de moda e marcas portuguesas. Além disso, as ‘paredes’ que separavam a sala de desfiles dos bastidores iam sendo desfeitas.
Estava decretado o fim de mais uma edição, ainda que a desmontagem tivesse sido feita de forma encenada.
No último dia da ModaLisboa foram também apresentadas as coleções de Ricardo Andrez, Kolovrat, Filipe Faísca, David Ferreira, no Pavilhão Carlos Lopes, e Olga Noronha, na Estufa Fria.
Ricardo Andrez fez hoje na ‘passerelle’ da ModaLisboa “quase crítica social” com a coleção para o próximo inverno, abordando a “apropriação de marcas de luxo de pequenas marcas criadas nos anos 1980”.
O ‘designer’ explicou que pegou em “padrões universais”, como o xadrez da marca britânica Burberry, em notas de um dólar, que imprimiu nos padrões, e também na capa do álbum “Nevermind”, dos Nirvana, de onde retirou o bebé, que utilizou na criação das peças de ‘streetwear’.
Na coleção para o próximo inverno da Kolovrat, Lidija Kolovrat quis “contar histórias”, algumas do seu passado.
Nos estampados há “um pouco de sentimentalismo”. “Há um padrão de xadrez com fotografias dos meus pais a andar de moto na Bósnia [de onde a ‘designer’ de moda é originária] e echarpes com a minha mãe a andar de carro ou fotografias minhas com os meus avós”, partilhou.
Já Filipe Faísca decidiu integrar o bordado da Madeira “no guarda-roupa da mulher moderna”. Com a coleção “6 Sentido”, o criador de moda quis “mostrar diferentes formas de olhar e usar o bordado da Madeira”, aplicando-o em vestidos, camisas, túnicas, casacos, calças e saias.
Nesta coleção, o ‘designer’ de moda usou bordados que encontrou vasculhando nos arquivos do Núcleo Museológico do Instituto do Vinho e do Bordado da Madeira, e na próxima usará novos, que criará em conjunto com bordadeiras daquela ilha.
Uma coleção de peças fluídas, em tecidos como seda, ‘organdin’, viscose, linho e lã, em tons como branco, marfim, preto e vermelho.
Ao contrário do que é habitual, o desfile da coleção de David Ferreira foi ‘menos volumoso’. Desta vez as peças com maior impacto visual, como saias e casacos volumosos, com várias camadas de folhos, ficaram guardadas, dando lugar a outras aparentemente mais simples.
Com o desfile de hoje, o jovem ‘designer’ quis “mostrar um outro lado do trabalho”. “O trabalho que fazemos em privado para as clientes portuguesas e não era mostrado em desfile”, explicou à Lusa no final da apresentação.
De acordo com David Ferreira, “faltam uns vinte centímetros de volume às peças hoje apresentadas”. No entanto, esta é uma coleção “com o mesmo impacto e o mesmo trabalho envolvido [nas coleções anteriores], com muito trabalho de mão, nos recortes, cortes e bordados”.
Para criar a coleção “Grandma’s Girl”, o ‘designer’ foi buscar inspiração “aos anos de estudante em Londres”, mas especificamente “às meninas ricas que ‘roubam’ as peças dos armários das avós e as vestem para sair à noite”, mas não sem antes as “desestruturarem e rasgarem”.
Ao início da tarde, as manequins desfilaram pelos caminhos da Estufa Fria, entre árvores e plantas. A coleção “Uncanny” de Olga Noronha, com peças feitas em materiais como poliuretano, silicone, teflon e folha de ouro.
A ModaLisboa regressa em outubro para a 51.ª edição.
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