"Para mim será uma grande emoção cantar para o meu povo", afirmou Plácido Domingo, num comunicado relativo à sua primeira atuação, que terá lugar no Auditório Nacional, numa gala de caridade intitulada "#VocesResponden", organizada pela Fundação Excelentia a favor da "Cruz Roja Responde" e das pessoas mais vulneráveis afetadas pela pandemia.

"Para nós, a cultura é um bem essencial e de grande utilidade para fins solidários. (...) Por esta razão, acolhemos com emoção e entusiasmo o projeto de Plácido Domingo, que nos permite contribuir para estes fins solidários", disse Javier Martí, presidente da Excelentia, na declaração.

Posteriormente, o tenor será o protagonista de um dos concertos do festival Starlite na cidade de Málaga, "uma grande festa musical em sua honra" na qual foi confirmada a presença da soprano Ainhoa Arteta, como artista convidada.

Na última entrevista que deu à Efe, em janeiro, por ocasião do seu 80.º aniversário, o tenor reconheceu que sonhava voltar a atuar em Espanha, especificamente na sua cidade natal, Madrid, "num futuro não muito distante".

Plácido Domingo atuou pela última vez em Madrid, num concerto gratuito que deu em junho de 2019, na Catedral de Almudena, para comemorar o Ano Jubilar Mariano.

As suas atuações na capital previstas para 2020 foram canceladas na sequência do relatório publicado nos EUA, em agosto de 2019, por alegado abuso de colegas de profissão e da publicação de uma declaração sua, posterior, que foi entendida como uma assunção dos factos.

"Nos últimos meses, levei algum tempo a refletir sobre as alegações que várias colegas do sexo feminino fizeram contra mim. Respeito que estas mulheres se tenham finalmente sentido à vontade para falar e quero que elas saibam que lamento verdadeiramente a dor que lhes causei. Aceito plena responsabilidade pelas minhas ações", disse.

O Instituto Nacional de Artes Cénicas e da Música (INAEM) decidiu então suspender a sua participação no Teatro de la Zarzuela.

"Compreendemos que a partir do momento em que ele reconheceu os factos e quis assumir as responsabilidades, a nossa obrigação foi a de dar conta disso e de que não era o momento de participar na programação", disse o ministro da Cultura espanhol, José Manuel Rodríguez Uribes.

Apenas um dia mais tarde, o próprio tenor decidiu retirar-se das atuações de "La Traviata" que tinha marcado no Teatro Real de Madrid e os responsáveis confirmaram este cancelamento imediatamente a seguir.

Algum tempo depois, numa intervenção na televisão, esclareceu que a declaração "não era um ‘mea culpa’, embora parecesse ser" e condenou "o abuso em qualquer situação, lugar e tempo".

"Podem dizer o que quiserem, mas eu nunca desrespeitei nenhuma mulher", insistiu ele.

Enquanto a Ópera de Washington onde Plácido Domingo foi diretor-geral, entre 1996 e 2011, não considerou necessária qualquer investigação, a American Guild of Artists (AGMA) e a Ópera de Los Angeles realizaram inquéritos internos com a colaboração do artista.

No primeiro caso, a sua conclusão foi que o músico tinha "tido um comportamento inadequado", e no segundo, que as alegações eram "credíveis", mas não foram encontradas provas de abuso.

Durante todo este tempo, a equipa do artista, que tem continuado a atuar em países como a Rússia, França, Alemanha e Itália, sempre sublinhou que “Plácido Domingo nunca foi investigado ou julgado por qualquer tribunal ou outro órgão de investigação institucional sob qualquer acusação”.