Neste episódio, João Dinis, Mariana Santos e Miguel Magalhães fazem a devida homenagem ao "King of the World" que ganhou 11 Óscares, catapultou Kate Winslet e Leonardo DiCaprio para a fama mundial e cimentou James Cameron como um dos cineastas mais importantes de Hollywood. E, como não podia deixar de ser, tivemos um momento musical Céline Dion.

Para situar as gerações mais novas, diga-se que a história é real e aconteceu. Não havia Jack nem Rose, mas houve um navio, chamado "RMS Titanic", que foi mesmo ao fundo. No entanto, não era um qualquer. A sua arquitetura state-of-the-art concedeu-lhe o rótulo de navio inafundável. Há mais de 100 anos, era um portento tecnológico e de engenharia. Era também o maior e mais luxuoso paquete de sempre. Até o capitão era do mais conceituado que o mundo tinha para oferecer. Naquela época, simplesmente não havia paralelo. Mais de 100 mil pessoas estiveram no estaleiro de Belfast, onde foi construído, no dia em que foi lançado às águas do Rio Lagan. Porém, naquela que foi a sua viagem inaugural, o impensável aconteceu: às primeiras horas do dia 15 de abril, em 1912, depois de embater num iceberg, o navio inafundável acabou, em pouco mais de 120 minutos, no fundo do oceano Atlântico. Dos 2.240 passageiros a bordo, mais de 1.500 perderam as suas vidas, num dos momentos mais trágicos do séc. XX.

Ao longo dos anos, muitas foram as adaptações da história do RMS Titanic, antes e depois desta, como lembra a The Economist. Uma curta-metragem muda surgiu logo um mês após a catástrofe, protagonizada por um sobrevivente da vida real. Em 1943, uma versão lunática da propaganda nazi foi filmada durante a guerra sob as ordens de Joseph Goebbels. Muito conhecida, há ainda a versão série ("A Night to Remember"), um esforço pungente de 1958, que se sobrepõe ao "Titanic" mais conhecido em muitas cenas — um jogo de futebol de gelo no convés, uma criança a olhar para fogos de artifício, músicos da banda a tocar na última hora. Em 2010, houve quem achasse que seria boa ideia fazer uma nova versão chamada "Titanic II", inspirada nos acontecimentos de 1912, mas adaptada à realidade dos nossos dias (acabou no canal Syfy). Em 2022, saiu uma espécie de continuação desse filme ("Titanic 666") enquanto conteúdo original na Tubi (uma plataforma gratuita tipo Netflix), que dizem ser daqueles exemplos tão maus, tão maus, que é difícil de acreditar. O trailer vale por si e mostra como o sobrenatural e o terror invadiram (literalmente) o barco.

O desastre inspirou inúmeros livros, artigos, viagens náuticas, videojogos (em "Call of Duty: Black OPS 4" podemos andar a disparar em zombies no Titanic) e outras séries e filmes (alguns de animação). Mas nenhum chegou aos pés ou tocou perto da popularidade do primeiro filme a fazer mil milhões de dólares em bilheteira e que deu mote ao podcast de hoje. Por tudo o que se passou antes e depois de estrear nas salas. No antes, foram só problemas: derrapagens no orçamento (custou muuuuuito mais do que o previsto), longos atrasos na rodagem, jornais a preparar para afundarem "Titanic" nas suas manchetes por todas essas razões, executivos a duvidar de DiCaprio e Winslet como protagonistas. No entanto, no depois, tudo apenas serviu de material para contar a história dos bastidores de "Titanic" e dar corpo a quem a conta. Na memória, fica tudo o resto: a música, a química entre o par romântico, a escala, os efeitos visuais, as cenas icónicas do "I’m a King of the World" ou "I’ll Never let you go", que conquistaram o mundo. E, claro, a eterna discussão se Jack podia ou não ter sobrevivido — o realizador abordou o assunto vezes sem conta nas últimas duas décadas e não tem dúvidas desta "não-questão": não podia.

PS: James Cameron recordou recentemente os seus filmes mais icónicos numa entrevista à GQ e revelou que esteve para correr com DiCaprio do projeto por causa do seu ego. Sabendo o que sabemos hoje, perguntamos: é possível sequer imaginar tal cenário?