"Cremos que uma reabilitação e remodelação do rés do chão do STOP, com a criação de canais de evacuação alternativos ao principal, viabilizarão o imóvel com a formalização e utilização atual", pode ler-se num documento assinado pelo arquiteto entregue na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República, a que a Lusa teve hoje acesso.

O documento foi entregue por Mafalda Ribeiro, Catarina Valadas e Eduardo Baltazar aos deputados da comissão, no âmbito da sua audição, na quarta-feira, como peticionários em defesa dos músicos do centro comercial Stop, da cultura e da transparência no processo urbanístico, cuja petição teve mais de oito mil signatários.

Hoje, em entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, disse que o imóvel vai ser classificado pelo município, e "não apenas o uso, mas uma parte do edifício".

"Isso vai acabar com o argumento ou com a possibilidade de que o Stop possa ser demolido e transformado num hotel", parando a "voragem especulativa", disse o autarca, acrescentando que a fachada será preservada.

João Paulo Rapagão considera que "o rés do chão pode, ainda, acrescentar mais-valias ao espaço público, oferecendo ao passeio público mais amplitude e fluidez espacial e funcional".

"Para além do acesso principal, único, existe a possibilidade de criação de acessos alternativos de evacuação", refere o arquiteto, considerando que "as exceções previstas na lei no universo da regulação de segurança contra incêndios e a necessária transformação do piso térreo, em contacto com o passeio público, oferecem opções e soluções de viabilização do Stop".

De acordo com os peticionários, o arquiteto desenvolverá a sua ideia sobre o Stop em mais detalhe nos próximos dias.

João Paulo Rapagão foi autor do programa preliminar do Concurso Privado de Concepção de ideias para o Quarteirão da Oficina do Ferro (nas traseiras do Stop), na qualidade de convidado da entidade promotora (IME - Imóveis e Empreendimentos Hoteleiros), e júri no mesmo concurso.

Em julho do ano passado, a IME promoveu um concurso, juntamente com a Ordem dos Arquitetos - Secção Regional do Norte, que permitisse "fazer uma reflexão sobre o melhor enquadramento conceptual para um eventual futuro investimento naquela área".

"Em termos programáticos, pretende-se a conceção de um hotel, de apartamentos turísticos e de habitação acessível, nos termos do estabelecido no Programa Preliminar do concurso", pode ler-se no mesmo, disponível no 'site' dedicado ao concurso.

Além dos terrenos nas traseiras do Stop, naquela zona a IME é também proprietária do hotel Eurostars Heroísmo, precisamente na rua do centro comercial, bem como do projeto Heroísmo Flats.

O administrador de condomínio do centro comercial Stop, Ferreira da Silva, disse à Lusa, em julho, que o dono da empresa hoteleira IME manifestou interesse no centro comercial, mas sem apresentar propostas.

A Lusa questionou a IME - Imóveis e Empreendimentos Hoteleiros sobre contactos com o administrador do Stop e sobre o empreendimento nas traseiras do centro comercial denominado Quarteirão da Oficina do Ferro, mas não obteve resposta desde então.

O Stop vai continuar a funcionar por tempo indeterminado na sequência de uma providência cautelar interposta pelos proprietários à decisão da câmara de encerrar o edifício, confirmou a 22 de setembro Rui Moreira.

O Stop, que funciona há mais de 20 anos como espaço cultural, com salas de ensaio e estúdios, viu a maioria das suas frações serem seladas em 18 de julho, deixando quase 500 artistas e lojistas sem terem para onde ir, mas reabriu em 04 de agosto, com um carro de bombeiros à porta.