Segundo Ana Gago, da associação Habita, a mulher despejada e ativistas estão desde a manhã de hoje no Ministério da Habitação, onde esperavam reunir-se com a ministra Marina Gonçalves.
“Primeiro, a ministra Marina Gonçalves mandou dizer que esperássemos que iria receber-nos logo após a reunião em que estava. Agora, mandou a polícia dizer que fôssemos embora, que hoje já não nos recebe”, revelou Ana Gago, da associação Habita, uma das ativistas que está com a mulher despejada, Alcina Lourenço.
Os ativistas vão manter-se no interior do ministério até ao seu encerramento, antes das 18:00, enquanto estão a tentar um contacto com a linha 144 (Linha Nacional de Emergência Social) para ver se é encontrada uma solução para que pelo menos nos próximos dias esta família não durma na rua.
Ana Gago destacou que a família procura uma casa onde possam ficar todos, incluindo o idoso, pai de Alcina.
“As soluções que têm apresentado são um grande nada. As instituições andam a enviar-nos umas para as outras e depois dizem que a família é que recusa, mas as soluções apresentadas, na realidade, é que muitas das vezes nem sequer são soluções. O Ministério da Habitação não consegue resolver os problemas de habitação”, lamentou.
Em causa está o despejo, decretado pelo tribunal, de Carlos Almeida, de Alcina Lourenço e do pai desta, de 89 anos, que se movimenta numa cadeira de rodas.
Carlos Almeida, um dos despejados, disse à Lusa hoje, a meio do dia, que estava junto ao apartamento a “guardar as coisas”, enquanto o idoso tinha sido recolhido por algumas horas em casa de uma vizinha.
Confirmou que o despejo ocorreu hoje de manhã e, sem alternativas, resta à família dormir hoje na rua.
A família recusava-se a sair do T4 na zona de Arroios onde Carlos e Alcina, um casal, e o idoso, pai de Alcina, moravam (estes dois últimos há algumas décadas) por não ter encontrado, desde 2020, uma casa no mercado habitacional com uma “renda compatível com os seus rendimentos” e na qual conseguissem ficar juntos, incluindo o idoso, do qual a mulher cuida.
As autoridades já tinham tentado despejar a família no dia 03, mas vários populares e elementos da Habita juntaram-se no local e, apesar da presença de duas viaturas com elementos da PSP, não foi feita nenhuma tentativa para entrar no apartamento e retirar a família.
Segundo Carlos Almeida, Alcina tinha cerca de 7 anos quando foi viver, com o seu pai, para esta casa, com contrato de arrendamento em nome de uma tia que a ajudou a criar, mas que entretanto faleceu, tendo o senhorio ignorado tentativas de novo contrato e ajustamento do valor da renda.
Segundo a Habita, esta família tem rendimentos totais de cerca de 1.200 euros e procurou nos últimos anos acesso a uma casa no mercado habitacional, mas também junto da Câmara e da Santa Casa da Misericórdia, sem sucesso.
Em 03 de outubro, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, contactada pela agência Lusa, assegurou que “tem estado a acompanhar a situação do agregado em causa” e que procurou encontrar “uma solução de resposta de emergência, perante a iminência da execução da ação despejo”.
No entanto, a família salientou que recusou esta proposta porque esta previa a ida do idoso para um lar.
Alcina Lourenço, segundo a Câmara de Lisboa, está registada na Plataforma Habitar Lisboa desde 2021 e apresentou duas candidaturas ao programa de arrendamento apoiado, mas “a pontuação obtida, de acordo com a matriz de ponderação da carência socioeconómica, não atinge o valor que permita o acesso a uma habitação municipal”.
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