Em declarações à imprensa esta manhã, Carlos César confirmou o pedido de desfiliação de José Sócrates do partido, uma decisão "assumida de forma responsável" e um "direito" que cabe ao antigo primeiro-ministro.

Nesta comunicação, que não teve direito a perguntas, o líder da bancada parlamentar do PS, salientou que o PS se orgulha do contributo do partido ao longo de toda a história democrática do país e salientou que José Sócrates deixou "uma marca muito positiva como primeiro-ministro, num período em que o país alcançou progressos e resultados assinaláveis".

Sobre a alegada mudança de atitude do partido relativamente a José Sócrates, principal arguido da Operação Marquês, Carlos César salienta que o PS "não mudou a sua avaliação numa questão fundamental: a separação do que é da justiça e do que é da política".

Todavia, reiterou uma ideia já transmitida ontem de que "se se confirmarem essas suspeitas e acusações" que envolvem representantes políticos, o sentimento dos portugueses é "compreensivelmente" de "entristecimento" e "revolta".

Colocando o foco sobre os esforços do partido para que exista maior transparência na relação entre representados e representantes, lembrou que casos que políticos a braços com questões judiciais não são caso exclusivo do PS. "Em inúmeras situações e em vários governos e partidos têm existido pessoas cujo comportamento é censurável", recorda.

O antigo secretário-geral do PS e primeiro-ministro José Sócrates anunciou hoje que pediu a desfiliação do partido para acabar com um “embaraço mútuo”, após críticas da direção que, na sua opinião, ultrapassam os limites do aceitável.

José Sócrates aderiu ao PS em 1981 e foi secretário-geral do partido entre 25 de setembro de 2004 e 06 de junho de 2011. Ocupou o cargo de primeiro-ministro entre 2005 e 2011. Obteve, em 2005, a primeira maioria absoluta da história do PS em eleições legislativas.

Num artigo publicado hoje no Jornal de Notícias, José Sócrates, principal arguido na Operação Marquês, acusado de vários crimes económico-financeiros, nomeadamente corrupção e branqueamento de capitais, diz que está a ser alvo "uma espécie de condenação sem julgamento".

O anúncio de José Sócrates surge depois das declarações do líder parlamentar, Carlos César, de vários militantes do PS e do primeiro-ministro e atual secretário-geral socialista, António Costa, que disse na quinta-feira que ninguém está acima da lei.

O presidente do PS e líder parlamentar socialista, Carlos César, já tinha afirmado esta quarta-feira em declarações à rádio TSF que o partido se sente “envergonhado” com as suspeitas que recaem sobre Manuel Pinho, antigo ministro da Economia do Governo de José Sócrates, salientando que a “vergonha é ainda maior” no que diz respeito ao processo de Sócrates por se tratar de um antigo primeiro-ministro.

“Sou agora forçado a ouvir o que não posso deixar de interpretar como uma espécie de condenação sem julgamento. Desde sempre, como seu líder, e agora nos momentos mais difíceis, encontrei nos militantes do PS um apoio e companheirismo que não esquecerei. Mas a injustiça que agora a direção do PS comete comigo, juntando-se à direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político”, sublinhou Sócrates. “Considero, por isso, ter chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo. Enderecei hoje uma carta ao partido Socialista pedindo a minha desfiliação do partido”, anuncia no artigo de opinião.

Ana Gomes fala em "estratégia de vitimização" 

Menos consensual, a eurodeputada socialista Ana Gomes considerou hoje que o pedido de desfiliação por José Sócrates do PS serve “a estratégia de vitimização” que o antigo primeiro-ministro tem escolhido para fazer face a “acusações graves” de vários crimes económico-financeiros.

“Obviamente que essa carta de Sócrates serve a estratégia de vitimização que ele tem escolhido para fazer face às acusações graves que contra ele pendem, portanto, não é nada de estranho [o pedido de desfiliação]”, disse Ana Gomes.

A eurodeputada reagia assim em declarações à agência Lusa a propósito do anúncio feito por José Sócrates num artigo de opinião publicado hoje no Jornal de Notícias a dar conta de que enviou uma carta ao partido a pedir a desfiliação do PS para acabar com um “embaraço mútuo”, após críticas da direção.

Para Ana Gomes, o PS tem agora de refletir e identificar o que falhou nos seus controlos internos e externos “para se credibilizar junto do povo português”.

“Só espero é que esta atitude de Sócrates facilite e estimule o PS a fazer o exercício de introspeção que é imperativo e que não pode mais ser adiado face ao que se sabe já e ao que ainda não se sabe sobre a teia de corrupção que tinha em Sócrates um ponto central”, destacou.

No entender de Ana Gomes, o PS tem “de fazer de tudo para não permitir mais este tipo de comportamentos e acionar os mecanismos externos e internos para combater a corrupção”.

A eurodeputada socialista disse ainda que o Congresso do partido a realizar entre 25 e 27 de maio na Batalha, distrito de Leiria, “é uma boa oportunidade” para o PS para analisar o tema.