Na abertura do debate de atualidade, na Assembleia da República, em Lisboa, marcado pelo CDS-PP para “clarificar o que está em causa e a responsabilidade” do Estado nas irregularidades detetadas na Caixa Geral de Depósitos (CGD), reveladas numa versão preliminar da auditoria da Ernst & Young, o deputado e porta-voz democrata-cristão João Almeida acusou o Governo de “não saber, não querer saber, nem querer deixar que se saiba” o que se passa no banco público.
“Sendo o Governo com mais apoio à esquerda, foi o Governo que mais se eximiu de exercer o seu papel de acionista, estranha contradição”, notou o deputado.
João Almeida argumentou que o Governo “teve cúmplices” no parlamento, salientando que, quando se esgotaram os recursos judiciais para impedir a divulgação da auditoria, “BE, PCP e PS trataram de encerrar” a comissão parlamentar de inquérito que decorria sobre o banco público e na qual PSD e CDS pediram acesso a este documento.
Esconder a “promiscuidade evidente” entre a agenda política do Governo de José Sócrates “e os projetos mais catastróficos da Caixa” era, para o deputado do CDS-PP, um dos objetivos desta “ocultação”.
Na mesma linha, o vice-presidente da bancada do PSD, António Leitão Amaro, defendeu que foi essencialmente entre 2005 e 2010 (período de governação de Sócrates) que a Caixa foi “fustigada por gestão ruinosa e interferência política”, acusando Governo, PS, BE e PCP de terem tentado “encobrir estas práticas”.
“O ministro das Finanças esteve presente para uma coisa: para meter cinco mil milhões de euros dos contribuintes, mas depois desapareceu”, criticou, atribuindo ao acionista Estado a competência pela eventual responsabilização civil dos administradores que cometeram as falhas agora reveladas.
“Ou não quer saber por que só está preocupado com a sua imagem ou porque não quer acionar a responsabilidade civil dos administradores: podem responder que agiram por orientação política de outro governo e que esse governo era socialista”, afirmou.
Na resposta, o ministro das Finanças, Mário Centeno, presente no debate, salientou que foi este Governo que pediu a auditoria e a levou “até às últimas consequências” e disse ser falso que o executivo não tenha acompanhado o processo da sua elaboração.
“O vosso sonho, do PSD e do CDS, era que a Caixa fosse resolvida e vendida”, acusou.
Na mesma linha, o deputado do PS João Paulo Correia salientou que foi este Governo socialista que determinou a realização de uma auditoria externa e independente à Caixa e lembrou que os problemas no banco público começaram muito antes.
“Onde andou o anterior Governo PSD/CDS, o deputado João Almeida e Leitão Amaro, que agora batem no peito contra a Caixa, mas quando eram governantes não quiseram saber?”, criticou, considerando que “quanto pior ficasse” a CGD, “melhor para a estratégia de privatização da Caixa”.
As críticas de João Paulo Correia não se dirigiram apenas à sua direita no hemiciclo e avisou que “o PS não recebe nem tem razões para receber lições de moral do BE ou de qualquer outro partido”, em resposta a uma intervenção dura da deputada bloquista Mariana Mortágua.
“Queiramos saber tudo, não escondamos nada, mas tenhamos consciência que o passado da Caixa é Sócrates e é [Armando] Vara, mas também é Espírito santo e é BCP, é PSD e CDS, é construção e é imobiliária. O passado da Caixa é o passado da economia portuguesa, o passado da Caixa é a porta giratória entre negócios e política que sempre denunciámos”, acusou Mariana Mortágua.
A deputada do BE admitiu que muitas das críticas que PSD e CDS fazem ao PS neste assunto “são verdadeiras e justas”, mas acusou-os de “oportunismo e leviandade” por só querem olhar para “algumas páginas” deste dossiê.
“Porque é que só agora vos mordeu o bicho da transparência?”, questionou, numa intervenção que foi sempre acompanhada de ruidosos protestos das bancadas do PSD e do CDS.
“O Bloco de Esquerda foi bloqueador da verdade sobre a Caixa”, acusou a deputada do CDS-PP Cecília Meireles.
Pelo PCP, Paulo Sá lamentou que o banco público tenha sido “levado para o turbilhão de escândalos na banca por administradores nomeados por Governos PS, PSD e CDS”.
“A Assembleia da República já solicitou acesso à versão definitiva desta auditoria, é indesmentível a necessidade do cabal apuramento de responsabilidades dos que estiveram envolvidos na gestão da Caixa entre 2000 e 2015”, defendeu.
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