A descoberta dos investigadores, publicada na revista científica Current Biology, sugere que os pequenos braços não eram um acidente evolutivo e que, ao invés, ofereciam aos grandes predadores da época algumas vantagens de sobrevivência.

Os fósseis do Meraxes gigas - nome inspirado no dragão ficcional da série Game of Thrones - foram escavados ao longo de quatro anos durante expedições de campo no norte da Patagónia, na Argentina, começando pelo crânio, encontrado em 2012.

"Ganhamos na lotaria e encontrámo-lo literalmente na primeira manhã", disse Peter Makovicky, investigador sénior da Universidade do Minnesota (EUA), à AFP.

Os restos fossilizados do animal pré-histórico estavam notavelmente bem preservados. O crânio tem pouco mais de 120 centímetros de comprimento, enquanto o animal inteiro teria cerca de 11 metros de comprimento e pesaria quatro toneladas.

Os seus braços teriam cerca de 60 centímetros, "eram literalmente da metade do tamanho de seu crânio e o animal não conseguiria alcançar a sua boca", afirmou Makovicky.

O Tyrannosaurus Rex, no entanto, não recebeu os seus pequenos braços do Meraxes gigas, pois este foi extinto 20 milhões de anos antes do primeiro surgir, e as duas espécies estavam distantes uma da outra na árvore evolutiva.

Por outro lado, os investigadores acreditam que o facto de os tiranossaurídeos, os carcharodontosaurídeos — o grupo ao qual pertencia o Meraxes gigas — e os abelissaurídeos, uma terceira espécie de predador gigante, terem desenvolvido braços curtos indica que os mesmos trariam certos benefícios.

Makovicky acredita que, como essas espécies tinham cabeças enormes, estas tornaram-se nas ferramentas dominantes do seu arsenal predatório, assumindo a função que os braços teriam em espécies menores.

Juan Canale, coautor da descoberta e líder do projeto Museu Paleontológico Ernesto Bachmann em Neuquén, Argentina, vai mais longe ao sugerir outras vantagens.

"Estou convencido de que estes braços proporcionalmente muito pequenos tinham algum tipo de função. O esqueleto mostra grandes inserções musculares e um cinturão peitoral totalmente desenvolvido. Ou seja, os braços tinham músculos fortes", disse Canale em comunicado.

"Eles podem ter usado os pequenos braços para o comportamento reprodutivo, como, por exemplo, para segurar a fêmea durante o acasalamento ou como apoio para se levantar após uma pausa ou uma queda", acrescentou.

Os Meraxes caminharam pela Terra há entre 90 e 100 milhões de anos, durante o período Cretáceo, uma época em que a atual região da Patagónia era mais húmida, tinha mais florestas e estava muito mais próxima do mar, segundo Makovicky.

Estes dinossauros provavelmente teriam como presas uma miríade de saurópodes contemporâneos — alguns deles descobertos no mesmo sítio paleontológico.

Um indivíduo da espécie viveria em média 40 anos — uma idade bastante elevada para um dinossauro — e seu crânio estaria repleto de cristas, sulcos, saliências e pequenos chifres."Certamente teria parecido muito imponente e com um aspecto de gárgula", acrescentou Makovicky.

"Estas são características em animais vivos que, frequentemente, estão sujeitas à seleção reprodutiva", comentou o paleontólogo, especulando que essas espécies usavam os seus crânios enormes como chamariz para encontrar possíveis parceiros.