Na habitual conferência de imprensa de atualização da informação relativa à pandemia de covid-19, Graça Freitas afirmou que “foi detetado um foco e estão a fazer-se testes” no Hospital de São José, em Lisboa.

“Sabemos já que foram retirados os doentes das áreas consideradas afetadas e todos os profissionais de saúde e doentes envolvidos vão fazer testes, mas neste momento ainda é precoce dizer o número de casos”, afirmou a diretora-geral da Saúde.

Graça Freitas referiu que, além dos testes, os serviços do hospital se estão a “organizar para separar as pessoas que já foram detetadas como positivas e, provavelmente, os seus contactos também. A evolução é muito recente".

Segundo o jornal Correio da Manhã, pelo menos três doentes foram infetados nos serviços de Urologia e Cirurgia.

DGS rejeita cerca sanitária em Reguengos de Monsaraz

“À medida que essa epidemia foi evoluindo, pelo menos no nosso país e noutros países, o que se tem feito são atuações mais cirúrgicas, mais viradas a nível do terreno", disse a diretora-geral da Saúde, a propósito de uma questão quanto à necessidade de impôr uma cerca sanitária em Reguengos de Monsaraz.

Ao invés de "se afetar um território todo", Graça Freitas adiantou que a opção tem sido a de "ir diretamente a áreas afetadas, seja uma rua, uma freguesia ou um prédio". "O que se faz são medidas de contenção à volta de focos da doença, mas que não carecem uma interrupção de área territorial grande com outra área", disse a responsável, por oposição com medidas tomadas no início da pandemia em que se encarou soluções de "outros séculos, isolando grandes áreas, cortando a comunicação dessas áreas com outras.”

Para que se volte a colocar uma cerca sanitária em território português, "têm de estar de reunidas determinadas circunstâncias, o que não é o caso do que se passa em nenhuma das regiões de Portugal”, defendeu a diretora-geral da Saúde.

Em Reguengos de Monsaraz há "um surto, que teve origem num lar e que teve vários aglomerados", mas que "está circunscrito, está a ser vigiado, está a ser acompanhado, e não há nenhum motivo para que as medidas que estão ser tomadas extravasem aquelas de conter a doença nos sítios onde está localizada”.

Os casos ativos de covid-19 no concelho são agora 133 (na terça-feira eram 136), dos quais 86 no Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS), onde começou o surto, em 18 de junho, e 47 na comunidade, segundo o município e Autoridade de Proteção Civil de Reguengos de Monsaraz.

No edifício do lar não está já nenhum idoso, depois de os doentes terem sido transferidos para o pavilhão multiúsos do parque de feiras e exposições, enquanto os que não estão infetados se encontram em casa de familiares ou noutras instalações de apoio.

Com a situação no lar, o concelho de Reguengos de Monsaraz regista o maior surto no Alentejo da doença provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2.

Autoridades não colocam de parte obrigatoriedade de máscara ao ar livre

Confrontada com uma questão quanto à possível imposição de utilização de máscaras ao ar livre, Graça Freitas disse não recusar essa hipótese.

"Desde o início temos dito que não recusamos nenhuma hipótese, temos é acompanhado a proporcionalidade e a racionalidade das hipóteses que propomos. Se houve evidência de que temos de expandir ou recomendar a expansão do uso de máscaras, não temos qualquer problema em fazê-lo", justificou a diretora-geral da Saúde.

“Não vamos fazer uma recomendação de uma medida para a qual não haja sustentabilidade”, alertou, entretanto, a responsável, citando a necessidade de “dados, estudos e indícios” para fazê-lo.

"Portugal é o país que mais deteta casos assintomáticos"

Quanto aos riscos da propagação da pandemia através de doentes infetados assintomáticos, a diretora-geral da Saúde recordou que continua não haver um consenso nesta área.

"Não sabemos o grau com que as pessoas assintomáticas propagam a doença", disse Graça Freitas, admitindo, porém, que estas pessoas "constituem um risco acrescido, porque nem elas têm medidas em relação aos outros, nem os outros em relação a elas.

No entanto, citando um "estudo muito recente, de acordo com uma instituição inglesa muito prestigiada", a responsável frisou que "Portugal até é o país que mais deteta casos assintomáticos”, visto que faz "muitos testes", e muitos deles "dirigidos a muitas pessoas assintomáticas, que são apenas contactos de um caso".

"Estamos a investigar fortemente os surtos, quando detetamos um caso positivo, vamos à procura de mais casos, fizemos imensos rastreios. Se há país onde as pessoas assintomáticas são detetadas são em Portugal", defendeu.

"Temos que estar muito atentos a esta probabilidade de transmissão. O que sabemos é que os casos transmitem-se mais facilmente em ambientes fechados, pouco arejados, com determinada taxa de humidade e que não recebem luz natural. Quanto mais confinado o espaço, maior a probabilidade de sintomáticos ou assintomáticos transmitirem a doença", apontou.

De "forma puramente doméstica e sem ajuntamentos". É assim que as autoridades querem que se façam os festejos da I Liga

Face à possibilidade do FC Porto sagrar-se campeão da I Liga de futebol já nesta quinta-feira, as autoridades de saúde recordaram que os princípios basilares de saúde pública também se aplicam a comemorações desportivas.

As circunstâncias de comemorar um campeonato de futebol ou outra efeméride qualquer são exatamente as mesmas. As recomendações que fazemos, quer o Governo, quer a DGS e as autoridades de saúde em geral, são internacionais e pedem que as pessoas evitem ajuntamentos e tenham outras medidas de precaução, nomeadamente a utilização de máscaras para minimizar o contacto”, avisou Graça Freitas.

A diretora-geral da Saúde lembrou que em alguns países “houve surtos que começaram em festejos, nos quais não foi respeitado o distanciamento social nem a regra de utilização de máscaras”. “Recordamos que o vírus continua a circular em Portugal, temos casos ativos, temos cadeias de transmissão perfeitamente identificadas, mas temos também casos comunitários. Nas últimas semanas temos tido evidência de que festas, eventos sociais, encontros, têm originado surtos, alguns de grandes dimensões”, alertou a responsável.

Já a secretária de Estado da Saúde, Jamila Madeira, comparou os festejos do título de campeão de futebol às festas dos Santos Populares, que este ano tiveram de "ser remetidas a uma lógica caseira, tendo em conta o contexto que estamos a viver".

Dado que as celebrações da conquista de um campeonato de futebol "são momentos de grande exteriorização de emoção e de partilha", a governante pediu que, tal como os Santos Populares foram encarados de "forma rigorosa e correta", a "celebração  deste campeonato tenha de ser feita de maneira mais contida e com o lado efusivo de uma forma puramente doméstica e sem ajuntamentos”.

O FC Porto pode festejar na quinta-feira o título na 31.ª jornada da I Liga portuguesa de futebol, se vencer em casa do Tondela e vir o Benfica, segundo classificado, perder na visita ao Famalicão.

Governo ainda não sabe quando centros de saúde vão voltar em pleno

Questionada quanto à recuperação da atividade assistencial nos centros de saúde, Jamila Madeira afirmou que a retoma do seu funcionamento, interrompida e alterada por causa da pandemia, depende da garantia de condições de segurança para utentes e profissionais, admitindo que há “pontos onde existem algumas dificuldades”.

“Muitas das instalações têm fortes constrangimentos” na criação de circuitos separados para doentes com covid-19 e outros, apontou, afirmando que o Governo está a tentar arranjar “soluções concretas” em conjunto com as administrações regionais de saúde.

Segundo o Jornal de Notícias, os meios de contacto com os centros de saúde não estão a dar vazão às solicitações e a Associação de Médicos de Família estima que haja 15 mil rastreios ao cancro por fazer por causa da pandemia nos últimos três meses.

Para Jamila Madeira, há “casos não generalizados” de dificuldades e a retoma da “dinâmica de resposta da atividade assistencial, com os constrangimentos [da covid-19]” é “mais difícil”.

“Todo o esforço está a ser feito pelas entidades que organizam e pelos profissionais de saúde no sentido de acelerar a retoma. Está no terreno a ser acelerado tanto quanto possível”, indicou, recordando ainda que, no que toca aos rastreios a doentes oncológicos, tanto o Programa de Estabilização Económica e Social como um programa de retoma do acesso, a recuperação está a ser preparada.

Infarmed lidera grupo de trabalho que estudará alterações à dispensa de medicamentos

 O Infarmed vai liderar um grupo de trabalho encarregado de apresentar uma proposta sobre a dispensa de medicamentos hospitalares em farmácias comunitárias, anunciou Jamila Madeira.

De acordo com a secretária de Estado Adjunta e da Saúde, o grupo de trabalho terá 60 dias para produzir resultados.

“Logo na primeira hora, implementámos regimes de dispensa de medicamento hospitalar, que facilitaram — pela proximidade e simplificação — a vida dos doentes”, disse a governante. Segundo os números que apresentou, durante os meses de recolhimento, entre 17 de março e 27 de maio entre os diferentes modelos adotados pelos hospitais foi possível “servir um total de 152.061 utentes”.

“Os procedimentos são sempre passíveis de serem melhorados”, defendeu ao anunciar a medida: “Decidimos criar um grupo de trabalho liderado pelo Infarmed, que vai apresentar uma proposta a respeito de uma eventual transferência de determinados medicamentos, com prova de eficácia e segurança e já com genéricos comercializados, para potencial alteração da dispensa em farmácia hospitalar, para dispensa em farmácia comunitária, e produzir resultados em 60 dias”.

O grupo de trabalho analisará ainda casos de medicamentos em que deva manter-se a gestão hospitalar, mas cuja dispensa possa ser descentralizada.

“Este grupo deve desenvolver uma proposta com o envolvimento dos parceiros e das ordens profissionais que estruture um modelo de circuito de prescrição, gestão e dispensa a adotar pelas instituições do SNS, centrado nas preferências do doente relativamente ao local de dispensa”, declarou.

Presidente do Infarmed, Rui Ivo compareceu também na conferência de imprensa, especificando em que casos é que a atuação do grupo de trabalho se vai focar. Em causa estão "medicamentos para HIV, esclerose múltipla, patologias autoimunes como a artrite reumatoide e algumas doenças oncológicas", assim como mediação para "a área da transplantação".

Tendo em vista o "princípio de privilegiar a opção do doente”, o responsável disse que foi "a própria mobilidade dos doentes no seio do SNS" que levou a que se devesse"procurar formas de facilitar o acesso do medicamento ao doente".

Como tal, em cima da mesa estão "várias opções, que podem passar por formas específicas de dispensa no hospital, com marcação prévia e áreas de dedicadas, ou com outras formas, como a entrega ao domicílio ou num local da preferência do doente”, explicou Rui Ivo.

Citando um levantamento feito nos meses de abril e maio, o presidente do Infarmed disse que, dos 150 mil doentes acima mencionados, "houve mais de 30 mil que tiveram acesso ao medicamento ou no seu domicílio ou local da sua eleição", sendo que "15 mil foram através das farmácias".

O objetivo desta medida passa assim por "institucionalizar um mecanismo que possa ser permanente", beneficiando tanto de medidas pré-pandemia como com o que se aprendeu nos últimos meses. "Há um manancial de informação que podemos usar para propôr algo sustentável e viável no futuro", defendeu Rui Ivo.

Jamila Madeira sustentou que, no atual contexto, faz ainda mais sentido continuar a avançar-se nesta medida e “o mais rápido possível”.

“Temos a noção de que isto permitiu um melhor conforto e um mais fácil acesso, com a segurança necessária àquilo que o medicamento hospitalar impõe aos doentes, particularmente aos doentes crónicos”, frisou.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 544 mil mortos e infetou mais de 11,85 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.631 pessoas das 44.859 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.