“Não vale a pena continuar a fingir, como o Governo disse, que apenas empurrou o ano letivo quinze dias para a frente. O decreto permitirá e muito bem que haja ensino à distância”, afirmou Rio, considerando que as escolas que o puderem fazer - privadas ou públicas - não podem ser prejudicadas.

O presidente do PSD falava aos jornalistas na sede nacional do partido depois de uma audiência, por videoconferência, com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Rui Rio confirmou que o PSD voltará a votar, na quinta-feira, a favor da renovação do estado de emergência, como fez desde o início da pandemia, para que o Governo “continue a ter os instrumentos” para combater a propagação da covid-19.

“Há um aspeto muito positivo no decreto do sr. Presidente, segundo ele nos anunciou, que tem a ver com a questão das escolas (…) As escolas têm de permanecer fechadas mais tempo e, nesse sentido, o decreto permitirá - e muito bem - que possa haver ensino à distância, ensino virtual. Não faz sentido, se há escolas que estão preparadas para isso - privadas, públicas também -, serem prejudicadas por haver escolas que não trataram de fazer aquilo que lhes competia ou do Ministério [da Educação] que, não tendo tratado disso, teve a sorte de algumas escolas o terem feito”, disse.

Na audiência com o chefe de Estado, Rio deixou também duas sugestões: que se acione o recurso a “jovens reformados” médicos e enfermeiros e que as autoridades sanitárias passem a informar, a par do número de óbitos e infetados, o número de pessoas já vacinadas.

“Não sei se o Governo terá controlo completo sobre isso, mas é um bem muito escasso e tem de haver um rigor e um controlo muito grande para que não haja, primeiro, aproveitamentos indevidos e para que todos possamos ter uma fotografia de como está a nossa primeira arma contra a covid”, defendeu, dizendo ser agora claro que o prazo para a vacinação da primeira fase já “escorregou” de março para abril.

Sobre as vacinas, o líder do PSD manifestou ainda uma outra preocupação.

“Há notícias que vi que o ‘stock’ que existe de vacinas com vista à segunda dose terá sido reduzido. A ser verdade, preocupa-me, como há falhas de entrega das empresas privadas de vacinas, corremos o risco de deitar fora muitas primeiras doses e perdemos tudo”, alertou.

Questionado sobre esta informação, que contraria o que Governo tinha anunciado inicialmente, o líder do PSD disse ter visto notícias “ao contrário”.

“Achavam que o ‘stock’ que tinham era já demasiado grande e que poderiam ir utilizando na primeira vacinação o que estava guardado para segundas doses”, explicou, considerando que tal poderá representar “um perigo muito grande”.

“Na ânsia de querer vacinar mais depressa, podemos estar a criar um problema muito grande lá à frente”, avisou.

Rui Rio foi ainda questionado se “sentiu falta” da reunião com os epidemiologistas do Infarmed, que chegou a estar prevista para hoje, mas respondeu negativamente.

“Infelizmente não, está à vista de todos o que pais está a viver. A sessão do Infarmed podia-me dar melhor informação, mas não seria decisiva quanto à minha decisão”, disse

O presidente do PSD pediu ainda “equilíbrio” e “bom senso” na definição dos políticos que serão vacinados de forma prioritária, e disse que aceitará a vacina se existir um “consenso”, apesar de não se considerar um caso “nevrálgico”.

Rui Rio foi questionado pelos jornalistas sobre o despacho do Governo que prevê a vacinação dos titulares dos órgãos de soberania a partir da próxima semana.

“A minha posição é fácil, para quem me conhece e está atento: eu discordo completamente da demagogia de não vacinar político nenhum”, afirmou, questionando qual é a vantagem para o país de ter vários ministros do Governo infetados.

“Imaginemos que o primeiro-ministro do país ficava infetado e com sintomas e até tinha de ser hospitalizado, o que é que o país ganhava? Só perdíamos, não podemos estar com esta demagogia”, disse, defendendo que os políticos em posições “nevrálgicas” de combate à pandemia devem ser vacinados na primeira fase.

No entanto, o líder do PSD manifestou-se igualmente contra a proposta atualmente em cima da mesa: “O Governo falha à primeira quando não vacina ninguém e depois é quase pior a emenda que o soneto, passa a ser toda a gente”.

Rio questionou, por exemplo, se será necessário vacinar os agentes da justiça com “os tribunais praticamente fechados” ou “toda a Assembleia da República”.

Questionado sobre o seu caso - o presidente do maior partido da oposição ocupa uma posição de destaque na lista do protocolo de Estado e deverá ser incluído no plano prioritário -, Rio disse não se considerar “um caso nevrálgico”, mas se tal for decidido por “consenso” não dirá que cede a sua vacina “só para fazer um brilharete”.

“Se fosse decidido por mim, eu não me incluía. O grupo parlamentar e o partido funcionam sem mim, eu não sou absolutamente indispensável. Mas se me vierem a considerar num bolo global minimamente aceitável, também não vou tirar partido e recusar para ser muito popular”, assegurou, dizendo discordar da posição de políticos que já disseram que oferecem a sua vacina a um idoso “para fazer um brilharete”.

De acordo com um despacho, emitido na segunda-feira pelo primeiro-ministro e noticiado pelo Diário de Notícias (DN), os titulares de órgãos de soberania, deputados, funcionários da Assembleia da República, membros dos órgãos das Regiões Autónomas e presidentes de câmara, enquanto responsáveis da proteção civil, vão começar a ser vacinados na próxima semana.

O primeiro-ministro, António Costa, enviou “cartas aos órgãos de soberania para que estabeleçam as prioridades para inoculação em cada um dos serviços” e pediu uma lista de funcionários de cada órgão que “devam ser considerados prioritários nesta fase".

De acordo com o jornal Público, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, defendeu que neste órgão seja mantida a ordem do protocolo de Estado, sendo ele próprio o primeiro vacinado e Rui Rio o segundo, tema que irá ser debatido na quinta-feira pela conferência de líderes parlamentares.

O Presidente da República termina hoje mais uma ronda de audiências com os partidos políticos com assento parlamentar, por videoconferência, sobre a renovação do estado de emergência.

O atual período de estado de emergência para permitir medidas de contenção da covid-19 termina às 23:59 do próximo sábado, 30 de janeiro.

O decreto presidencial que instaurou mais um período de 15 dias em estado de exceção no país foi aprovado no parlamento com votos favoráveis de PS, PSD, CDS-PP e PAN, uma maioria alargada face às votações anteriores.

O BE voltou a abster-se e PCP, PEV, Chega e Iniciativa Liberal mantiveram o voto contra este quadro legal, que pode ser decretado pelo Presidente da República, que permite a suspensão do exercício de alguns direitos, liberdades e garantias.

De acordo com a Constituição, cabe ao chefe de Estado decretar o estado de emergência, mas para isso tem de ouvir o Governo e de ter autorização da Assembleia da República.

[Notícia atualizada às 17:42]