As divisões administrativas ditam que de um lado é Rio de Onor de Bragança, Portugal, e do outro Rihonor de Castilla, Espanha, mas os poucos habitantes, cerca de meia centena, nunca tiveram fronteiras, mesmo quando uma corrente delimitou territórios até à livre circulação na Europa.
A corrente está num museu de Bragança e no lugar dela está agora colocada uma barreira de cimento de uma berma à outra da estrada, junto ao antigo marco com um “P” de um lado, que marca Portugal, e do outro um “E”, que indica Espanha.
A Câmara de Bragança tomou a medida depois de decretado pelos governos dos dois países o encerramento das fronteiras. A barreira coíbe a circulação automóvel, mas continua a não ser impedimento para os habitantes dos dois lados.
“Juntamo-nos igual, não estamos separados”, garantiu à Lusa Maria Nunes, preparada para ir tratar a parte dela na antiga horta comunitária partilhada por portugueses e espanhóis.
Aos habitantes locais a barreira não incomoda, segundo Maria, para quem “está muito bem posta”.
“A vedação não foi por causa das pessoas que há nas aldeias, mas dos que passam na estrada”, apontou, explicando que passam por ali “mais espanhóis (de carro) do que portugueses, principalmente ao fim de semana, só para irem comer a posta e o bacalhau” do lado português.
Outra habitante da aldeia, Sofia Preto, ainda nem viu a nova barreira, mas também não se opõe até porque considera que “não há nada pior que isto” da pandemia causada pelo novo coronavírus.
Sofia costumava ir trabalhar três dias por semana a Bragança, a cerca de 25 quilómetros, e já lhe telefonaram para não ir enquanto durar a crise.
O pai, Mariano Preto, é o guardião das tradições desta aldeia conhecida pelo comunitarismo e, aos 88 anos, mostra apreensão com os tempos atuais. Preocupam-no as consequências da Covid-19, a doença que está a afetar o mundo.
Nas relações entre os dois povos mudou o número dos que partilham a singularidade do povoado com cada vez menos habitantes e com mais idade. Do lado espanhol restam nove, que Maria nomeia de cor, um a um.
“Ainda esta manhã, o Manolinho veio aqui fazer compras”, contou à Lusa.
Quando todos trabalhavam as propriedades havia mais circulação entre os dois lados, já que portugueses têm terras no lado de lá e vice-versa.
Mesmo no tempo em que a fronteira estava fechada, os próprios guardas levantavam a corrente para os habitantes passarem, nomeadamente com o gado.
Todos parecem bem informados sobre a doença, mas precisam das rotinas diárias e de trabalhar mesmo que, como dizem, não precisem de pão para comer, ou seja não tenham necessidade.
“Temos de trabalhar, a gente meter-se em casa fica com a cabeça caduca”, observou Maria.
Garantem que quando a eles faltar alguma coisa, os vizinhos já estarão bem mal.
Plantam para comer, há gado e, todas as manhãs, um carro distribui na aldeia mercearia e outros bens.
“Isto nunca o tiram”, acredita Maria, fundamentando a convicção com o facto de indo lá o carro, ser só um que pode ficar infetado e se for o povo a Bragança, podem ser muitos mais.
Garantem também que não se sentem desamparados pelas autoridades. As equipas da GNR “passam todos os dias” por ali.
A Assembleia da República aprovou quarta-feira o decreto de declaração do estado de emergência que lhe foi submetido pelo Presidente da República com o objetivo de combater a pandemia de Covid-19, após a proposta ter recebido pareceres favoráveis do Conselho de Estado e do Governo.
O estado de emergência proposto pelo Presidente prolonga-se até às 23:59 de 02 de abril, segundo o decreto publicado quarta-feira em Diário da República que prevê a possibilidade de confinamento obrigatório compulsivo dos cidadãos em casa e restrições à circulação na via pública, a não ser que tenham justificação.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou quarta-feira o número de casos confirmados de infeção para 642, mais 194 do que na terça-feira. O número de mortos no país subiu para dois.
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