A Federação Académica do Porto (FAP) anunciou esta terça-feira que a edição deste ano da Queima das Fitas, um dos maiores eventos da cidade, foi cancelada por causa do novo coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela doença Covid-19.
A Queima das Fitas do Porto 2020, que teve a sua génese no ano de 1920 quando finalistas de Medicina da Universidade do Porto fizeram a chamada "Festa da Pasta', estava agendada para acontecer entre os dias 03 a 09 de maio, com o epicentro noturno da festa marcado para o Queimódromo, prevendo-se concertos de artistas variados, como Seu Jorge, Capitão Fausto ou Diogo Piçarra.
Em comunicado, a FAP justifica o cancelamento com o "cenário de incerteza de quando poderá ser retomada a atividade letiva, de quais serão os novos calendários académicos".
A Queima das Fitas do Porto, no final do ano letivo, tem o ponto alto no cortejo pelo centro da cidade, que junta milhares de estudantes do ensino superior, num desfile desde a Cordoaria à praça Humberto Delgado, no topo dos Aliados.
Neste momento, o Queimódromo, o espaço aberto, com cerca de 45 mil metros quadrados, que acolhe os festejos noturnos da Queima das Fitas do Porto, junto à Estrada Interior da Circunvalação e ao Parque da Cidade, acolhe o posto de rastreio para a Covid-19 organizado pela autarquia, a Administração Regional de Saúde Norte e o laboratório Unilabs.
Questionada há oito dias pelo SAPO24, a FAP dizia que a "organização da Queima das Fitas do Porto decorre dentro da normalidade, sem previsão de alteração de datas. Todas as recomendações que se apliquem a eventos deste tipo estão a ser acatadas e assim serão."
Sobre a possibilidade de cancelamento, o organismo dizia que "a Queima das Fitas é um evento de extrema importância para a os Estudantes da Academia do Porto e para a cidade do Porto pelo que todos os esforços para assegurar que decorra com a qualidade e alegria de todos os anos estão a ser levados a cabo pela FAP".
Hoje, no comunicado, o presidente da FAP sublinha igualmente que até agora "a organização da Queima das Fitas do Porto decorreu sempre dentro da normalidade, mas sempre acompanhada por uma avaliação de risco, quer do ponto de vista logístico quer do ponto de vista social". Todavia, "com o agravamento da pandemia, agravou-se o cenário de preocupação social e todas as medidas anunciadas pelo Governo vão ao encontro de uma postura de isolamento social, evitando aglomerados de pessoas".
"Agravou-se o grau de incerteza para cenários alternativos, por via de falta de hipóteses significativas para novos calendários académicos. Esgotou-se, por isto, o tempo para adiar a tomada de decisão".
A FAP, que representa cerca de 70 mil estudantes, diz que o cancelamento foi decidido "com o apoio das suas Associações de Estudantes" e é "resultado de uma decisão ponderada, conjunta e tomada depois de esgotados todos os cenários de alternativa".
"Mais do que a tristeza que esta decisão possa deixar em cada um de nós, que respiramos a Academia do Porto, que temos carinho pelas nossas gentes e pelas nossas tradições, devemos ficar com o sentimento de dever cumprido: o dever de sermos um exemplo, de sermos cuidadores de nós e dos outros e de sermos jovens sem medo de fazer o certo mesmo quando é o mais difícil. Esta decisão é o mote para dizermos presente quando mais precisam de nós", escreve Marco Alves Teixeira.
"A partir de agora, as prioridades serão assegurar o regresso seguro a casa de quem esteja em mobilidade e/ou deslocado (e ainda o bem-estar dos permaneçam nas residências estudantis) e mobilizar esforços para que o ensino à distância se consubstancie da forma mais inclusiva e alargada possível", refere o presidente dos estudantes da Invicta.
O presidente da câmara municipal do Porto, Rui Moreira, reagiu já na rede social Facebook, partilhando o vídeo onde a FAP anuncia o cancelamento. O autarca diz que “quando os nossos mais jovens cidadãos nos dão o exemplo, temos de cumprir.”
Nesta altura, circula já entre os estudantes uma petição para marcar a Queima para o verão ainda deste ano. Os signatários querem que os festejos se realizem após os exames — todavia, é previsível que até o calendário de exames possa sofrer alterações.
Ainda assim, no texto da petição sublinha-se que "seria uma injustiça privar os estudantes caloiros e finalistas das suas primeira e última Queima, tendo este evento tanto peso nas nossas memórias académicas".
A outra festa emblemática dos estudantes, a Queima de Coimbra, ainda não foi adiada, mas a Associação Académica de Coimbra admitia essa possibilidade na semana passada. O presidente Daniel Azenha explicava que, no momento, não estava em causa a realização da Queima das Fitas, que decorre em meados de maio, salientando que, caso seja necessário, a AAC e a comissão organizadora do evento não terão "qualquer problema" em cancelar a festa dos estudantes.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje número de casos confirmados de infeção para 448, mais 117 do que na segunda-feira, dia em que se registou a primeira morte no país. A região Norte regista 196 casos.
Dos casos confirmados, 242 estão a recuperar em casa e 206 estão internados, 17 dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).
O boletim divulgado pela DGS assinala 4.030 casos suspeitos até hoje, dos quais 323 aguardavam resultado laboratorial.
Das pessoas infetadas em Portugal, três recuperaram. Segundo o boletim, há 6.852 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde. Atualmente, há 19 cadeias de transmissão ativas em Portugal, mais uma do que no domingo.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou uma reunião do Conselho de Estado para quarta-feira, para discutir a eventual decisão de decretar o estado de emergência.
Portugal está em estado de alerta desde sexta-feira, e o Governo colocou os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.
Entre as medidas para conter a pandemia, o Governo suspendeu as atividades letivas presenciais em todas as escolas desde segunda-feira e impôs restrições em estabelecimentos comerciais e transportes, entre outras.
O Governo também anunciou o controlo de fronteiras terrestres com Espanha, passando a existir nove pontos de passagem e exclusivamente destinados para transporte de mercadorias e trabalhadores que tenham de se deslocar por razões profissionais.
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