"Não é desta maneira que vamos garantir a segurança da Alemanha", criticou Armin Laschet, um dos líderes da CDU, o partido conservador da chanceler Angela Merkel, ao falar sobre as falhas que impediram a detenção ou expulsão de Anis Amri. "As informações que temos sobre a forma como as autoridades trabalharam são chocantes", rematou, em entrevista à rádio pública.

Amri, um homem de 24 anos cujo pedido de asilo foi rejeitado, é objeto de uma ordem de prisão europeia emitida pela justiça alemã após o ataque de segunda-feira que deixou 12 mortos e 48 feridos. Seis vítimas são alemãs e uma sétima foi identificada como israelita, informaram hoje as autoridades deste país. O atentado foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI).

Além das críticas recorrentes sobre a política de acolhimento aos refugiados, Merkel terá agora de enfrentar a controvérsia provocada pela falta de coordenação das autoridades no momento de vigiar o principal suspeito deste atentado. O caso de Amri evidencia as falhas do sistema "como se as observássemos à lupa", disse outro dirigente da CDU, Stephan Mayer.

Num primeiro momento, a polícia perdeu muito tempo antes de concentrar a investigação no tunisino, apesar de ter encontrado um documento de identidade do suspeito no camião utilizado no ataque. Os investigadores deram, no entanto, prioridade a uma pista que apontava para um suspeito paquistanês que acabou por ser ilibado. Além disso, Amri era conhecido pela polícia. Foi vigiado durante grande parte de 2016, principalmente em Berlim, onde se suspeitava que poderia estar a preparar um atentado e um roubo para obter armas automáticas. Mas em setembro o Ministério Público abandonou a investigação por falta de provas. E, apesar do pedido de asilo ter sido rejeitado, a Tunísia bloqueou a expulsão de Amri.

De acordo com o jornal New York Times, o suspeito era também monitorado pelas autoridades americanas por ter entrado em contato, pelo menos uma vez, com o grupo EI e por ter pesquisado na internet como fabricar explosivos. Apesar de todas as informações, o tunisino foi deixado em liberdade por falta de provas ou, ao que parece, por uma falta de coordenação entre as diferentes esferas do governo. Foi associado durante meses ao movimento salafista e a conhecidos promotores da jihad (guerra santa).

"Um fracasso no procedimento de expulsão", afirma na primeira página o jornal alemão Bild nesta quinta-feira, enquanto o conservador Die Welt cita uma "falha" das autoridades. "As autoridades tinham-no na mira e, mesmo assim, conseguiu desaparecer", afirma o site da revista Der Spiegel. Para o jornal Darmstädter Echo, um dos problemas é a grande quantidade de níveis de poder e de autoridades do Estado federal. "Por que é que uma pessoa como ele conseguiu brincar ao gato e ao rato com as autoridades responsáveis pela expulsão?", questiona o jornal."O federalismo, embora não tenha consciência dos problemas inerentes à sua natureza, representa um risco para a segurança".

A polícia ofereceu uma recompensa de 100.000 euros para quem ajudar a encontrar o suspeito. Nesta quinta-feira, mais de 100 policiais realizaram uma segunda operação de busca e apreensão num centro de refugiados de Emmerich onde Anis Amri morou por alguns meses, informou a agência DPA.

Na quarta-feira à noite, dois apartamentos de Berlim também foram alvos de buscas, em vão. Apesar da tensão, Berlim tenta voltar à normalidade. A polícia autorizou a reabertura do mercado de Natal que foi atacado na segunda-feira, uma "decisão que não foi fácil de tomar", como afirmou a administração do local num comunicado.