Era o desfecho mais temido, mas nem por isso imprevisível. Depois de uma fase de grupo tremida, Portugal caiu frente ao Uruguai logo na fase a eliminar no Mundial de 2018; este ano, a fórmula foi a mesma — depois de uma vitória gorda mas enganadora perante a Hungria, seguiu-se uma derrota pesada com a Alemanha e um empate esforçado com a França.
A complicada aritmética da fase de grupos fez a Seleção Nacional calhar com, possivelmente, um dos mais difíceis adversários em todo o Euro2020 — a Bélgica. A história de jogo até mostrou que os belgas são menos temíveis do que aparentavam, mas a insuficiência lusa ficou exposta com toda a clareza no estádio de La Cartuja, em Sevilha.
Depois de sofrer um golo na primeira parte, Portugal passou a segunda a correr atrás do prejuízo, mas a tática demasiado especulativa de Fernando Santos — visivelmente emocionado na flash interview — não logrou resultados. “No futebol não há justiça nem injustiça, há quem marca e quem não marca”, disse, frisando que “uma derrota é uma derrota” e que tinha vários jogadores a chorar no balneário. Já não estamos em 2016.
A esse propósito, não estando presente em Sevilha — o que, em si mesmo, foi todo outro caso em debate ao longo da semana — Marcelo Rebelo de Sousa, rodeado de jornalistas num restaurante, sintetizou a psique nacional em poucas palavras: “tivemos alguma sorte em 2016, aqui faltou-nos sorte”, seguido de um “o resultado é ingrato, mas a vida muitas vezes é ingrata”.
Foquemo-nos nessa última frase. É ingrata a eliminação precoce da Seleção; é-o ainda mais a situação de pandemia que vivemos e em particular o momento que atravessamos agora. Se há algo de positivo a retirar da desilusão desportiva é esta: concentremo-nos de novo no panorama geral, na “bigger picture”, como dizem os anglo-saxónicos.
Portugal continua a assistir uma subida alarmante de casos da covid-19 — este domingo, com 1.496 infeções diárias apontadas, por exemplo, sendo o pior registado desde 14 de fevereiro, quando foram registados 1677 casos. Se o R(t) acusou uma descida ligeira na sexta-feira, a incidência continua a subir.
Se por um lado, o esforço de vacinação tem garantido que a mortalidade é muito mais baixa do que a registada nos primeiros negros meses de 2021, por outro a disseminação de variantes mais infecciosas mantém o risco de assoberbar as unidades de saúde do país.
Estará o verão condenado ou será possível salvá-lo? Essa é a questão que se vai colocando, mas os sinais não são animadores — a travagem do desconfinamento já começou a significar retrocessos na retoma económica, tal como a colocação de Portugal na lista vermelha de alguns países, com Reino Unido e Alemanha à cabeça.
Hoje, outra consequência preocupante do número de casos a subir: apesar do ano letivo estar prestes a terminar, cinco municípios algarvios viram as aulas presenciais do 1º e 2º ciclos interrompidas por ordem a Autoridade Regional de Saúde — um duro golpe para alunos que já viram a sua aprendizagem dificultada ao longo de ano e meio.
Expostos estes dados, admitamos que a queda do Euro2020 pode, pelo menos, acalmar a euforia tradicional do verão para que nos foquemos em controlar mais uma vaga pandémica neste mar revolto que ainda navegamos. Menos ajuntamentos, menos comportamentos de risco. Veja-se o copo meio-cheio.
Além do mais, Tóquio2020 está aí à porta: haverá novas oportunidades para sofrer e celebrar em frente à televisão.
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