São uma espécie de último reduto para comerciantes, empresários e famílias, face à criminalidade da capital angolana, mesmo que o tipo de armamento que usam, nomeadamente as metralhadoras soviéticas AKM, já não seja permitido por lei, nas mãos de civis.
Noites passadas ao relento, por entre o descanso possível de uma cadeira colocada na rua, representa o quotidiano para muitos estes homens, tudo para levarem para casa salários de cerca de 30.000 kwanzas (150 euros) por mês.
Wilson Vieira, de 33 anos, é agente de segurança desde 2015 e conta que o ofício é difícil, mas a coragem e a necessidade ainda o mantêm no setor, apesar do desrespeito de muitos. Sem qualquer formação específica Wilson recebe todos os meses 35.000 kwanzas (180 euros), salário não chega para sustentar a família.
"O único susto que levei foi quando trabalhava no centro da cidade, onde tive um desentendimento com um controlador no estacionamento e tive mesmo de manipular a arma para manter o controlo e impor respeito", recordou.
Dados da indicam que as forças de segurança controlam 30.000 armas ainda na posse das empresas privadas de segurança.
Apesar de já aprovada a nova lei, proibindo o uso de armas de calibre de guerra, estas continuam a ser utilizadas pelas empresas de segurança, sem um horizonte temporal para fazer a transição para armamento de calibre mais pequeno ou não letal.
Carregando uma AKM nos braços, Emenilson Gomes, de 37 anos, conta que recebeu uma formação de seis meses para exercer as funções de segurança privado. Uma ocupação desempenha desde 2010 mas que mantém por falta de outro trabalho.
"Tive apenas uma formação de seis meses sobre técnicas de segurança e como manusear a arma. Continuo porque não há alternativas", contou, admitindo que leva para casa, todos os meses, apenas 30.000 kwanzas (150 euros), apesar das noites em claro, e de metralhadora às costas, que passa na rua.
"Com esta crise e os preços altos, não se faz nada com esse dinheiro", desabafa, antes de confirmar que já conseguiu travar alguns assaltos, com a sua vigilância, mas também confessa que já não sabe dar tiro. "Já apanhei alguns gatunos, mas não me vi forçado a fazer tiros", diz.
Serafim António Caxito, ex-militar das Forças Armadas de Libertação de Angola (FAPLA) antigo braço armado do MPLA, enveredou pelo serviço de segurança privada alegando a "falta de valorização" do serviço que afirma ter prestado ao país.
"Fui obrigado a cumprir o serviço militar, assim que regressamos sem qualquer formação o Governo não dá o devido valor e por isso estamos aqui, a sobreviver, com esses trabalhos e com um salário de miséria de 30.000 kwanzas", lamentou. Há 11 anos a trabalhar segurança privado, Serafim, de 49 anos, diz que trabalha 24 horas por dia, com duas folgas por semana, sem negar as dificuldades porque passa com o pouco que recebe por mês.
"Falar de salário é complicado porque o nosso aqui nunca chegou, é apenas um salário de se remediar, para não ficar em casa. A pessoa tem família, temos que pagar propinas das crianças e com aquele bocado conseguimos nos ajeitar", conta.
Até hoje sem motivos para fazer tiro, lá vai adiantando que facilmente consegue dominar o sono sobretudo no período noturno: "Aqui é dormir, mas com um olho aberto para controlar todos os movimentos e felizmente nunca levei qualquer susto".
Aos 50 anos, Manuel Segundo leva apenas 28.000 kwanzas (145 euros) por mês para casa, salário que "nunca chega" para as necessidades. "Fazemos 48 horas de trabalho e também descansamos 48 horas, recebemos apenas uma refeição por dia, é muito compilada a nossa profissão. De noite é o período mais difícil porque há muitos obstáculos, a arma usamos em qualquer período do dia apenas para segurar o posto", explica o antigo militar, também das FAPLA, que há cinco entrou para a segurança privada.
"A partir das 18:00 temos a obrigação de ficar com a arma muito próxima, para respondermos a qualquer anormalidade de emergência. Nunca fiz tiros, porque ainda se tivermos uma eventualidade o tiro só surge se eu estiver a ser atacado", conta.
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