Um tribunal na cidade de Hangzhou decidiu que as evidências fornecidas por Zou Sicong e He Qian contra o jornalista Deng Fei “não são suficientes para permitir que alguém acredite firmemente, sem qualquer hesitação, que o que foi descrito realmente aconteceu”.

O tribunal condenou He e Zou a pagarem 11.712 yuan (cerca de 1.500 euros) por danos.

O caso foi baseado num artigo, escrito por He e publicado por Zou, em 2018, no qual He acusou Deng de a atrair para um quarto de hotel, em 2009, para discutir ideias para histórias.

Segundo He, Deng começou a despi-la e a tentar beijá-la.

He disse que, na época, era uma estagiária de 21 anos numa revista onde Deng era o editor-chefe.

O artigo surgiu numa altura em que várias mulheres jovens em toda a China divulgaram histórias de agressão sexual e má conduta, como parte do movimento global “#MeToo”.

No entanto, o movimento teve dificuldades em ganhar força na China, onde a política, as artes e o mundo dos negócios permanecem predominantemente dominados por homens.

As acusações feitas pública e anonimamente contra algumas dezenas de homens em setores diferentes geraram uma reação, e desde 2018, pelo menos seis homens entraram com processos de difamação contra as acusadoras ou pessoas que ajudaram a divulgar as acusações.

Deng negou a acusação, apontando que “nunca fez nada tão estúpido ou tão mau”.

“Eu nem tive a chance de encontrar evidências relevantes para provar a minha inocência, e além disso, dado que já se passaram 10 anos, nem me lembro dessa pessoa, que disse que só me viu uma vez” apontou.

Ao longo do processo, Zou e He disseram que enfrentavam um ónus da prova maior sob a lei chinesa.

Embora a China tenha permitido a má conduta sexual como base para ações judiciais em 2019, a definição de assédio permanece obscura e muito poucos casos resultam em punição.

Muitos dos casos são antes tratados em tribunais como disputas laborais ou segundo leis que protegem a reputação pública.

“Isto é igual a dizer a alguém que foi humilhado e ferido, que se não tem gravações de áudio ou vídeos do evento, então o melhor é calar-se”, apontou o advogado de Zou e He, Xu Kai, em comunicado.

“O tribunal impôs todo o ónus da prova sobre Zou Sicong e He Qian”, lamentou.

He disse que o julgamento foi um revés, mas que ainda tem esperanças para o movimento. “Quero saber até onde podemos ir com o sistema jurídico existente”, apontou.