E ao romper da segunda semana de campanha, uma polémica. Ontem André Ventura denunciou o tweet do membro do Bloco de Esquerda que iria fazer parte das mesas de voto e que dizia: “Mesas de voto here we gooo, votos do Chega e AD serão considerados nulos”. Já hoje, o Bloco de Esquerda condenou a "piada de mau gosto", confirmando que esse elemento do partido iria estar nas mesas de voto em Aveiro. E assegurou que "assim que o Bloco tomou conhecimento da publicação, solicitou que esta fosse apagada e que o autor pedisse dispensa da sua função na mesa de voto" onde iria estar nas eleições do dia 10. "Assim foi feito", conclui.

Em causa está uma questão que uns podem empolar, e outros desvalorizar. Mas seguramente não é uma questão de somenos. O respeito que devemos às instituições e aos processos democráticos exige que quem faz parte deles se dê ao respeito. E, numa altura em que pelo mundo, e em Portugal, há tantas ameaças à democracia importa que principalmente no período eleitoral - onde a democracia anda na rua de forma tão notória - ela seja respeitada acima de tudo.

No fim da noite de ontem, o líder do Chega alegou estar em curso uma tentativa para "desvirtuar o resultado" das eleições, que passaria por "anular os votos" do seu partido. E, foi a partir de que a piada de mau gosto se virou contra o alvo.

Se, por um lado o Bloco de Esquerda lembro o respeito pelas instituições para condenar o que aconteceu dentro de portas dizendo que "a seriedade do processo eleitoral não é compatível com uma piada de mau gosto". Por outro, a coordenadora bloquista criticou as declarações de “aprendiz de Bolsonaro” de André Ventura sobre “ilusões de condicionamentos” das eleições, assegurando que o BE já tinha resolvido a “piada de mau gosto” nas redes sociais antes de o Chega a denunciar.

Também a porta-voz do PAN acusou hoje o Chega de irresponsabilidade e de adotar estratégias eleitorais idênticas às de Donald Trump, nos Estados Unidos da América, após André Ventura ter alegado a possibilidade da anulação de votos no seu partido.

Se ontem,  a CNE indicou à Lusa que não tinha registo de queixa sobre qualquer tentativa de “desvirtuar o resultado” das legislativas de dia 10, e Fernando Anastácio escusou-se a comentar as denúncias feitas no sábado pelo presidente do Chega, mas esclareceu que não existia qualquer investigação ou inquérito sobre essa matéria. Ao fim do dia de hoje. a Comissão Nacional de Eleições (CNE) já disse que vai analisar as suspeitas levantadas pelo presidente do Chega, André Ventura, sobre a possibilidade de anulação propositada de votos no partido nas legislativas. “Vamos analisar esse assunto e depois, em função da informação disponível e dos factos que tivermos, ponderaremos [abrir investigação], mas ainda não foi apreciado”, disse à agência Lusa o porta-voz da CNE, Fernando Anastácio. O responsável acrescentou que o caso será avaliado numa das próximas reuniões da CNE.

A credibilidade da política, e a participação dos cidadãos, depende disso. Principalmente no dia em que o relatório que analisa a perceção dos portugueses sobre a política, elaborado pela base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que usa dados do Eurobarómetro de 2023, nota que oito em cada 10 inquiridos em Portugal tendem a não confiar nos partidos políticos, em linha com a tendência em 19 dos 27 países da União Europeia (UE), em que mais de 70% das pessoas tendem a não confiar nos partidos políticos.  E ainda que mais de 60% dos cidadãos em Portugal tende a não confiar na Assembleia da República, um valor acima da média europeia, que é de 56%, segundo um retrato da perceção sobre a política, divulgado hoje pela Pordata.

Com Lusa