O frente-a-frente entre os líderes dos dois principais partidos que decorreu na segunda-feira à noite foi hoje analisado, em declarações à agência Lusa, por António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e por André Azevedo Alves, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.

“Em termos programáticos e de mensagem este debate foi clarificador. Aliás, aponta para a inexistência de grandes divergências programáticas entre estes dois partidos, mas evidentemente estes debates marcam dimensões de mensagem política e não apenas programática”, defendeu Costa Pinto.

Segundo o politólogo, além de esclarecer, estes debates servem ainda para “traçar o perfil, a adequação e a imagem” de um eventual primeiro-ministro, bem como para “passar mensagens políticas para certos segmentos do eleitorado”, sendo também bastante importantes “para as máquinas partidárias” já que “uma boa performance do líder prepara e ajuda uma campanha mais dinâmica”.

Também André Azevedo Alves concordou que o debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro “foi razoavelmente esclarecedor” e sem grandes novidades do ponto de vista programático porque apenas foi reafirmado o que já tinha sido defendido antes por ambos os candidatos.

“Quem tenha visto o debate ficou com uma espécie de sumário e de ideia geral do que é que PS e Aliança Democrática apresentam e do perfil dos dois candidatos”, considerou.

Quanto ao eventual impacto deste debate no posicionamento dos indecisos, António Costa Pinto considerou que estes “são importantes para a minoria de indecisos que não tem uma ancoragem de voto muito grande”.

Já André Azevedo Alves defendeu que “não terá havido muitos indecisos que, face ao debate, tenham mudado de opinião”.

“Sob o ponto de vista de mensagem política e de um candidato a primeiro-ministro, se as eleições fossem decididas por este debate, quem ganhou foi Pedro Nuno Santos, mas isso está longe de ser o caso como o passado da democracia portuguesa ilustra”, apontou o politólogo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Para André Azevedo Alves, “face às expectativas iniciais, que eram mais baixas para Pedro Nuno Santos já que tinha tido um desempenho em geral mais fraco nos debates anteriores, o debate correu melhor” ao secretário-geral do PS do que ao líder do PSD “que vinha de debates anteriores que lhe tinham corrido melhor”.

Segundo o politólogo do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, a novidade política do debate veio de Pedro Nuno Santos “ao deixar em aberto viabilizar ou pelo menos não deitar abaixo um governo minoritário do PSD”.

Luís Montenegro, na opinião de André Azevedo Alves, tem uma situação “muito difícil e muito delicada” para resolver quanto àquilo que fará perante o cenário de Governo minoritário do PS.

“As três hipóteses têm problemas: não responde e isso vai estar presente até ao dia das eleições e vai estar em crescendo, ou responde numa lógica que seria de consistência e reciprocidade e então dá um enorme bónus ao Chega ou então nega essa possibilidade e dá um trunfo a Pedro Nuno Santos para dizer ‘ele está mortinho para se aliar com o Chega para deitar um Governo minoritário do PS’”, elencou.