O julgamento sobre um plano de compensação para o CEO da Tesla, avaliado em mais de 55 mil milhões de dólares (cerca de 53,3 mil milhões de euros), começou segunda-feira num tribunal no estado norte-americano de Delaware.
O processo alega que a concessão de opções de ações com base no desempenho foi negociada por um comité de remuneração e aprovada em 2018 por membros do conselho de administração da Tesla que tinham conflitos de interesse devido a laços pessoais e profissionais com Musk.
A ação, ajuizada há cerca de quatro anos, também alega que o acionista votou para aprovar essa compensação com base numa declaração de procuração incompleta ou enganosa.
O autor da ação argumenta que o procurador descreveu erroneamente os membros do comité de remuneração como “independentes” e caracterizou todos os objetivos que desencadearam a aquisição das opções de ações como metas “stretch” que deveriam ser difíceis de alcançar, embora as projeções internas indicassem que três provavelmente seriam alcançados dentro de 18 meses após o voto dos acionistas.
Durante a sua audiência em tribunal, Musk defendeu que enquanto a produção da fábrica lutava para aumentar, o seu tempo foi “quase inteiramente dedicado à Tesla”.
“A probabilidade de sobrevivência [do grupo] era extremamente baixa”, lembrou o multimilionário, que regularmente conta que a fabricante esteve em 2018 muito perto da falência.
A entrada em tribunal foi discreta, após chegar num Tesla preto. De fato preto e gravata, o empresário respondeu a questões durante cerca de duas horas e meia.
O advogado do autor da ação, Greg Varallo, passou grande parte do interrogatório a tentar levar Musk a admitir que este controla a Tesla a tal ponto que pode influenciar o conselho a cumprir as suas ordens.
O CEO da Tesla disse que não teve nenhum papel nos termos do plano de remuneração, não participou de reuniões sobre o assunto e não teve nenhuma visão sobre o processo interno pelo qual a empresa determinou a maior remuneração já registada para empresas de capital aberto.
O empresário acrescentou que não queria ser “CEO de nenhuma empresa” e que esse título não é adequado para descrever o seu trabalho na Tesla ou na SpaceX, a empresa que fabrica foguetes e naves espaciais.
Perante as questões do advogado de acusação, Musk reconheceu que não consultou o conselho de administração da Tesla quando em março de 2021 se designou como o “Technoking” (rei tecnológico) da empresa em documentos oficiais apresentados à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, em inglês)
O julgamento é consequência da ação movida por Richard Tornetta, acionista da Telsa que acredita que a remuneração é excessiva e que Musk a conseguiu graças ao poder que tem sobre a empresa e o conselho de administração, já que é um dos seus principais acionistas.
De acordo com o plano, Musk poderia colher milhares de milhões de dólares se a fabricante de automóveis elétricos e painéis solares atingisse certos objetivos operacionais e de capitalização de mercado.
Para cada incidência de atingir simultaneamente um objetivo de capitalização de mercado e um operacional, Musk, que já possuía cerca de 22% da Tesla quando o plano foi aprovado, obteria ações iguais a 1% das ações em circulação no momento da concessão.
O interesse de Musk na empresa aumentaria para cerca de 28% se a capitalização de mercado da Tesla crescesse em 600 mil milhões de dólares (cerca de 581 mil milhões de euros).
Cada objetivo do plano inclui expandir a capitalização de mercado da Tesla em 50 mil milhões de dólares (cerca de 48 mil milhões de euros) e atingir uma receita agressiva ou meta de crescimento de lucro antes dos impostos.
Musk receberia todos os benefícios do plano de pagamento, 55,8 mil milhões de dólares (54 mil milhões de euros), apenas se a Tesla atingisse uma capitalização de mercado de 650 mil milhões de dólares (cerca de 629 mil milhões de euros) e receitas e ganhos, sem precedentes, numa década.
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