O chefe de Governo anunciou na semana passada novas restrições para limitar a propagação do vírus num momento em que o Reino Unido, um dos países mais afetados da Europa pela pandemia de covid-19 com quase 146.500 mortos, enfrenta uma "forte onda" de casos pela variante Ómicron.

De acordo com o Governo, para garantir que os hospitais não entram em colapso nas próximas semanas, o país deve adotar o uso de máscara em locais fechados, testes diários para os casos de contacto, o teletrabalho e a obrigatoriedade do passaporte sanitário nos grandes eventos.

Mas as normas não convencem muitos deputados conservadores e alguns criticam o caráter liberticida das medidas.   "Considero que todas estas medidas são equivocadas, desproporcionais e não há provas suficientes de que são necessárias", declarou no fim de semana o ex-ministro para o Brexit, Steve Baker.

Quase 60 conservadores ameaçam organizar uma rebelião. Com a sua ampla maioria no Parlamento - de 80 cadeiras - e a ajuda da oposição, o Governo deve conseguir a aprovação do texto, mas a revolta pode afetar o executivo Johnson.

Dois anos após a sua vitória eleitoral histórica com a promessa do Brexit, o primeiro-ministro observa a queda expressiva da sua popularidade e enfrenta vários pedidos de demissão desde a semana passada, motivados por uma série de escândalos.

O jornal Sunday Mirror publicou uma fotografia de Johnson a participar de um concurso online em Downing Street, cercado por funcionários, em dezembro de 2020, quando os britânicos foram obrigados a limitar drasticamente as suas interações sociais.

Os britânicos também culpam Boris Johnson por uma festa que supostamente aconteceu em Downing Street em 18 de dezembro de 2020, período em que o país estava privado de celebrações natalícias devido à pandemia do coronavírus — a ponto de ser obrigatório aos cidadãos manterem-se apenas com o agregado residencial.

Um vídeo que foi enviado à imprensa e no qual auxiliares de Johnson fazem piadas sobre a suposta festa de Natal proibida colocou ainda mais lenha na fogueira e levou à demissão de uma conselheira.

As revelações afetaram a credibilidade do primeiro-ministro num momento em que pretende impor novas restrições. Além disso, somam-se várias acusações de corrupção que podem resultar numa moção de censura contra Johnson pelo Partido Conservador.

O primeiro-ministro foi advertido na quinta-feira sobre as dispendiosas obras de renovação da sua residência oficial em Downing Street, com uma multa para o seu partido de 16.250 libras (19,011 euros) por não ter declarado o valor total da doação privada recebida para financiar as obras.

Johnson também provocou indignação ao tentar mudar as normas parlamentares para ajudar um deputado conservador, Owen Paterson, condenado por pressionar membros do Governo para defender duas empresas para as quais atuava como consultor remunerado.

Na quinta-feira, a Inglaterra terá eleições legislativas parciais para preencher a vaga de Paterson, que renunciou ao mandato, numa votação de caráter altamente simbólico.

Mas estas não são as únicas ameaças contra Johnson: muitos questionam as suas férias luxuosas no exterior, os perigosos vínculos do seu Governo com algumas empresas e as acusações de clientelismo pela designação de cadeiras na Câmara dos Lordes — a Câmara Alta do Parlamento britânico, cujos membros não são eleitos em votação, mas nomeados pelo Governo — a generosos doadores do Partido Conservador.

De acordo com o colunista político Robin Pettitt, o talento de Johnson — ex-jornalista e ex-presidente da Câmara de Londres, conhecido pelo seu estilo pouco convencional — para o escapismo político pode ajudá-lo a escapar de um ou dois escândalos.

Mas se esta acumulação de problemas continuar, "o Partido Conservador sempre foi muito implacável na hora de afastar os líderes que não funcionam", destacou o analista à AFP. Basta lembrarmo-nos da sua antecessora, Theresa May, derrotada por um Brexit que nunca conseguiu ver aprovado pelos próprios deputados conservadores.