Ouça o episódio no player mais abaixo.

As protagonistas do episódio de hoje mostram-nos como emoções, políticas públicas e até pegas de cozinha estão intimamente ligadas.

A dado momento da história, Alzira fala num botão que a salvou. Refere-se a um colar de teleassistência que a põe em contacto direto com a Cruz Vermelha 365 dias por ano. Em junho, quando se sentiu mal - foram "os nervos", diz - o aparelho fez a ligação imediata para um operador e foram ativados os meios de socorro.

Esta é uma das respostas sociais de Vila Viçosa para a população mais velha - e está disponível a nível nacional.

Em 2011, o município tinha 184 idosos para cada 100 jovens. E a tendência para o aumento do índice de envelhecimento tem sido crescente. Os serviços assistenciais são importantes, mas não chegam.


Este é o sexto episódio da série "O que se ouve quando o país pára". Clique aqui para ouvir:


“Envolver as pessoas idosas nos processos políticos que afetam os seus direitos” é essencial. Quem o diz, desde 2002, é a Organização Mundial de Saúde. A medida faz parte dos três pilares essenciais para uma abordagem eficaz ao envelhecimento ativo - participação, saúde e segurança. O documento é usado como referência em todo o mundo, embora esta orientação em particular seja muitas vezes esquecida.

No caso do confinamento, a Alzira e a Maria das Dores não contribuíram com a sua visão e experiência para a implementação das medidas que afetaram profundamente as suas vidas. Mas as duas sabem o que é ter um papel ativo na comunidade.

"O que se ouve quando o país pára"

Episódio 1: O silêncio das pedras mortas

Episódio 2: Como assim uma largada de touros se as festas estão proibidas? Assim, de bicicleta

Episódio 3: E tudo correu bem, para eles e para os morangos

Episódio 4: “Um gajo sempre andou aqui. Tem saudades disto”. A história de Ivo e dos outros que ficaram longe do mar

Episódio 5: Eles já lá estavam, mas quando nos fechámos em casa é que os vimos melhor

Episódio 6: “A gente sentir-se só é muito triste”. Quando as portas se fecharam, só sobrou silêncio na vida de Alzira e Maria das Dores

Episódio 7: “Estamos aqui no paraíso, o vírus não tem cá que fazer”

Fazem parte de um grupo com atividades semanais, o Chá das Quartas, criado pela Conferência de S. Vicente de Paulo de Vila Viçosa. “Rezávamos o terço, levávamos trabalhinhos para fazer, conversávamos umas com as outras, lanchávamos e depois vínhamos para casa muito contentes”, descreve Maria das Dores.

“Até dá gosto quando se faz a venda de Natal, a venda da Páscoa e a feira de artesanato, e lá estão os vicentinos com o grupo do Chá das Quartas”, conta, sorridente, uma vicentina de 87 anos que preferiu não se identificar por acreditar que é o sentido de missão que deve prevalecer.

Além da produção de materiais para venda, pegas de cozinha incluídas, as participantes do grupo, cerca de 30 mulheres, muitas acima dos 70 anos, também já se mobilizaram para vários eventos públicos, desde a assinatura de uma petição contra o encerramento de um hospital em Elvas até à elaboração de uma manta de 25 metros feita a partir de retalhos de tecidos para uma campanha da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

Quando o confinamento começou, o Chá das Quartas foi suspenso pela primeira vez desde a sua criação, em 2010. No início de setembro ainda não tinha retomado, para lamento das participantes, que encontram naquele espaço um sentido de vida, de pertença, de serem úteis. “Podia voltar que era uma grande alegria!”, exclama Alzira.

Se neste sexto episódio levamos um murro no estômago pelo impacto da pandemia nas vidas da Alzira e da Maria das Dores (retratos que se multiplicarão pelo país), para a semana a surpresa instala-se: como assim, há sítios onde parece que não mudou nada?


“O que se ouve quando o país pára” é uma coleção de histórias e de sons que nos mostram como a vida das pessoas e dos lugares foi afetada quando Portugal parou por causa da covid-19.

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Alzira do Carmo Sebastião tem 90 anos e é de Vila Viçosa. Antes da pandemia tinha uma vida muito ativa - ia à missa, fazia retiros, participava em atividades da comunidade. Durante o confinamento ficou sozinha durante dois meses. créditos: Margarida Alpuim | MadreMedia
Durante o confinamento, este rádio foi uma das grandes companhias de Alzira, que passou grande parte dos dias sentada a rezar e a ouvir música. créditos: Margarida Alpuim | MadreMedia
A fé ocupa um lugar central na vida de Alzira. Num dos cantos do quarto, um conjunto de imagens, com Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa em destaque. créditos: Margarida Alpuim | MadreMedia
Maria das Dores Marques, quase com 92 anos, esteve fechada em casa mais de dois meses durante o confinamento. Agora, à tarde já se senta à porta de casa, onde muitas vezes se juntam a sobrinha e a amiga Alzira. créditos: Margarida Alpuim | MadreMedia
Maria das Dores ocupou o tempo do confinamento a “fazer trabalhinhos”: bolsas para o pão, casacos e botas para bebés, pegas, mantas. Cada pega leva apenas uma hora a fazer. Toda a produção é para oferecer e para vendas de apoio às causas em que acredita, incluindo os vicentinos. créditos: Margarida Alpuim | MadreMedia
Na casa de Maria das Dores também Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa ocupa um lugar de destaque. Neste caso, pendurada ao lado da máscara à entrada da sala. créditos: Margarida Alpuim | MadreMedia
Em meados de agosto, continuava a ver-se muito pouco movimento nas ruas em Vila Viçosa. créditos: Margarida Alpuim | MadreMedia
Vista panorâmica da Praça da República e da Avenida Bento de Jesus Caraça, um dos eixos principais de Vila Viçosa, com o castelo ao fundo. créditos: Margarida Alpuim | MadreMedia
Florbela Espanca, famosa poetisa portuguesa, conhecida pela escrita carregada de sofrimento mas também amor, é natural de Vila Viçosa. créditos: Margarida Alpuim | MadreMedia