Os comboios noturnos que cruzavam a Península Ibérica não deverão a voltar a circular. O anúncio foi feito na semana passada pela secretária-geral dos Transportes e Mobilidade, María José Rallo, que justifica a decisão com o investimento de Espanha na alta velocidade que torna desnecessário uma viagem de uma noite inteira para ligar duas cidades.
No entanto, a decisão do Governo espanhol cria um grave problema para Portugal que, sem uma rede ferroviária de alta velocidade, fica isolado do resto da Europa. Antes da pandemia, circulavam nos carris da Península Ibérica comboios noturnos que ligavam Madrid e Barcelona com a Galiza, França e Portugal.
No que concerne diretamente a Portugal, havia a ligação Madrid - Lisboa, feita pelo Lusitânia Expresso, numa parceria entre a CP e a Renfe, e o Sud Expresso, entre Lisboa e Hendaya, trajeto explorado pela CP, mas que, com a decisão do Governo espanhol, poderá ficar muito mais caro, uma vez que, em parte do trajeto, o Sud e o Lusitânia formavam uma só composição antes de cada um seguir destinos diferentes.
“A posição do Ministério dos Transportes dizendo que Espanha não precisa de comboios nocturnos não está de acordo com o interesse da grande maioria da sociedade espanhola. Há até um forte divórcio entre essa parte do governo de coligação [PSOE e Podemos] e as aspirações da parte mais avançada da sociedade espanhola”, disse ao Público José Luiz Ordoñez, porta-voz da Coordinadora Española por el Tren Público, Social y Sostenible, plataforma que agrega vários movimentos cívicos regionais em defesa do caminho-de-ferro.
Para Ordoñez, “Espanha necessita comboios nocturnos tanto nas deslocações no interior do seu território como para as ligações com Portugal e o resto da Europa”.
A ligação entre Lisboa e Madrid não deve estar comprometida, uma vez que não existe ainda uma alternativa de alta velocidade, algo que só acontecerá quando o AVE (Alta Velocidad Española) chegar a Badajoz e, por sua vez, Portugal construir a linha Évora – Elvas/Badajoz, algo que não acontecerá antes do final do ano de 2023.
Ao Público, o ministério dos Transportes e Infraestruturas liderado por Pedro Nuno Santos afirmou que “tem mantido uma cooperação positiva com o governo de Espanha nos assuntos relacionados com o desenvolvimento da rede ferroviária e continua a fazer esse trabalho de articulação, incluindo sobre os serviços ferroviários internacionais”.
A mesma fonte oficial acrescenta que “o Governo está a estudar com a CP possíveis modelos de operação ferroviária internacional com a devida articulação com Espanha”.
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