"A Espanha desmente e rejeita veementemente qualquer insinuação de estar envolvida numa operação de desestabilização política na Venezuela", disse uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol à AFP.
A mesma fonte declarou ainda que o governo espanhol "verificou" que os dois detidos espanhóis "não fazem parte" da agência de espionagem espanhola CNI "ou de qualquer outra organização estatal" e reforçou que "a Espanha defende uma solução democrática e pacífica para a situação na Venezuela".
As detenções ocorrem em pleno aumento das tensões entre a Venezuela e os governos dos Estados Unidos e da Espanha devido às controversas eleições de 28 de julho, nas quais Maduro foi proclamado reeleito, apesar das alegações de fraude.
O ministro do Interior venezuelano, Diosdado Cabello, afirmou que os estrangeiros detidos estavam envolvidos em planos "terroristas", que incluíam atentados contra a vida do presidente Maduro e a desestabilização do país.
Cabello identificou os detidos como Wilbert Josep Castañeda, um "militar ativo" dos Estados Unidos e "chefe" do plano, e outros dois americanos, além dos espanhóis José María Basoa e Andrés Martínez Adasme, e um cidadão checo.
O ministro vinculou os supostos planos para "atacar" a Venezuela aos centros de inteligência da Espanha, dos Estados Unidos, e à líder da oposição, María Corina Machado, além de outros dirigentes.
Os dois espanhóis foram capturados em Puerto Ayacucho, no sul, e "fazem parte de um contingente de mercenários do governo espanhol, através da sua central de inteligência, para atacar o país", disse Cabello.
O ministro também acusou o governo dos Estados Unidos de estar envolvido na operação, uma alegação que Washington negou veementemente.
"Qualquer afirmação sobre a participação dos Estados Unidos num complô para derrubar Maduro é categoricamente falsa. Os Estados Unidos continuam a apoiar uma solução democrática para a crise política na Venezuela", disse um porta-voz do Departamento de Estado americano.
Os dois cidadãos espanhóis estavam de férias na Venezuela, afirmou o pai de Martínez Adasme ao jornal El Mundo. "O meu filho não trabalha para o CNI, claro que não", afirmou. "Estamos a aguardar informações por meio consular e da embaixada", explicou, acrescentando que "ainda não sabemos sob qual acusação ou motivo ele foi detido".
A tensão entre Madrid e Caracas aumentou nos últimos dias depois do candidato opositor Edmundo González Urrutia ter desembarcado há uma semana em Espanha para pedir asilo, após um mês de clandestinidade no seu país, onde é alvo de um mandado de prisão.
Em resposta, a Venezuela convocou a sua embaixadora em Madrid para consultas e citou o embaixador espanhol em Caracas para protestar contra as críticas à reeleição de Maduro. Já o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, reuniu-se esta semana em La Moncloa com González Urrutia.
Sánchez não reconhece a vitória de Maduro nem a do seu rival. O primeiro-ministro espanhol tem insistido, em consonância com a posição da União Europeia, na publicação das atas eleitorais.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, descreveu o governo de Nicolás Maduro como "ditatorial" durante uma entrevista à rede espanhola Telecinco transmitida neste domingo.
"Na Venezuela há mais de duas mil pessoas detidas arbitrariamente após as eleições, o líder da oposição teve de fugir, os partidos políticos estão sujeitos a mil limitações nas suas ações. é um regime ditatorial e autoritário", disse Borrell.
A declaração provocou críticas do ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Yván Gil, que descreveu Borrell como um "porta-voz do mal" e acusou-o de "transformar a União Europeia em uma instituição decrépita, colonialista e bélica".
Washington, que reconhece a vitória da oposição, anunciou nesta semana sanções contra 16 funcionários venezuelanos, incluindo a presidente do Tribunal Supremo de Justiça, por "fraude eleitoral" de 28 de julho. A Venezuela considerou a decisão americana uma "agressão", e Maduro condecorou quatro militares que foram alvo de sanções.
Comentários