O parlamento aprovou hoje a despenalização da morte medicamente assistida, com os votos de grande parte da bancada do PS, do BE, PAN, PEV, Iniciativa Liberal e 14 deputados do PSD e votos contra do CDS, Chega e PCP.
No total, votaram a favor 136 deputados, 78 contra e quatro abstiveram-se.
A votação da lei durou cerca de 30 minutos, com os 218 deputados presentes a votarem à vez por não poderem estar todos ao mesmo tempo no plenário, devido à situação epidémica.
Nos casos das bancadas em que houve divisões, mais no PSD do que no PS, os deputados foram identificados um a um para dizer o seu sentido de voto em três momentos, ou "três vagas", como gracejou o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues.
Na votação, o PSD, que tinha liberdade de voto, dividiu-se: 56 deputados votaram contra e 14 a favor, entre eles o líder do partido, Rui Rio.
No PS, uma larga maioria votou a favor da lei, mas nove deputados votaram contra, entre eles Ascenso Simões, José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto.
Entre as abstenções, duas foram do PS e outras tantas do PSD.
A votação final global do diploma resulta de projetos do BE, PS, PAN, PEV e IL aprovados, na generalidade, em fevereiro de 2020, depois de ter terminado a discussão e votação na especialidade, em comissão, já no mês de janeiro.
A lei prevê, nomeadamente, que só podem pedir a morte medicamente assistida, através de um médico, pessoas maiores de 18 anos, sem problemas ou doenças mentais, em situação de sofrimento e com doença incurável.
Agora aprovada, a lei segue, dentro de dias, para decisão do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que pode vetar, enviar para o Tribunal Constitucional (TC) ou promulgar.
De acordo com a RTP, a marca da aprovação por dois terços por parte dos parlamentares era apontada como fundamental para Marcelo promulgar a lei no imediato, o que não aconteceu por 17 votos, e que deixa um clima de incerteza sobre o futuro da mesma, podendo ser vetada ou enviada para fiscalização por parte do TC.
Se o Presidente promulgar e a lei entrar em vigor, Portugal será o quarto país na Europa, e o sétimo no mundo, a legalizar a eutanásia.
Antes de Portugal, já haviam legalizado a eutanásia, embora com diferenças legais, a Holanda, Bélgica, Luxemburgo. Espanha aprovou em dezembro de 2020 uma lei, mas aguarda-se uma votação do Senado, o que poderá acontecer no primeiro trimestre.
Na Suíça, a prática de eutanásia (morte assistida por profissionais de saúde) é proibida, mas desde 1940 que a lei permite o suicídio assistido.
No Canadá e em cinco Estados dos Estados Unidos (Oregon, Vermont, Califórnia, Washington e Montana) também está despenalizada a prática da eutanásia. O mesmo acontece em dois países sul-americanos, Uruguai e Colômbia.
Na Austrália esta prática é permitida no Estado de Vitória e em outubro de 2020 a Nova Zelândia votou, em referendo, a favor da despenalização.
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