Em comunicado, Nuno Afonso, que até à convenção deste fim de semana era vogal da Direção Nacional do partido, referiu que enviou "esta manhã" uma carta ao Chega e ao seu presidente na qual comunicou a sua "desfiliação com efeitos imediatos".

O fundador do Chega referiu, na mesma nota, que vai continuar a exercer o mandato de vereador na Câmara Municipal de Sintra enquanto independente.

Nuno Afonso, que tem sido uma das vozes mais críticas da estratégia de Ventura, anunciou em entrevista ao Observador na sexta-feira (primeiro dia da V Convenção Nacional do Chega, em que André Ventura foi reeleito presidente com 98,3% dos votos) a intenção de se desfiliar do partido.

Ao Público, justificou ser "necessário traçar linhas vermelhas na política", apontando que o Chega "é um partido que não é democrático, é autocrático, totalitário" e no qual "o líder faz tudo o que quer".

Em 23 de novembro, o partido anunciou a retirada da confiança política ao vereador eleito para a Câmara Municipal de Sintra, indicando que Nuno Afonso deixaria de representar o Chega naquele executivo municipal.

A Comissão Política Distrital de Lisboa alegou na altura que o autarca desrespeitou as indicações políticas ao viabilizar o orçamento municipal para 2023, sustentando que o "seu sentido de voto, à revelia das orientações do partido e da estratégia definida para o distrito", constituíram "claros atos de indisciplina partidária".

Em resposta, Nuno Afonso considerou que o Chega "é um partido que não se guia por valores democráticos, que persegue os opositores pessoal e politicamente, como nunca antes se viu em democracia", apontando que esse é "um comportamento típico das ditaduras que existiram e existem por este mundo fora".

Nuno Afonso, que fundou o Chega ao lado de André Ventura, foi o seu chefe de gabinete na legislatura passada, enquanto deputado único do partido. Foi reconduzido no arranque da nova legislatura, em março do ano passado, mas viria a ser exonerado quase um mês depois.

O autarca de Sintra foi também vice-presidente do partido até ao III Congresso do Chega, que decorreu em Coimbra em maio de 2021. Na altura, o dirigente assumiu o seu desconforto com a “queda” na hierarquia do partido e falou em “punhaladas”.

Nas últimas eleições legislativas, há precisamente um ano, não integrou as listas de candidatos a deputados.

Nuno Afonso, que não participou na convenção deste fim de semana, chegou a admitir candidatar-se à liderança do Chega, mas nunca avançou e criticou a forma de eleição dos delegados à reunião magna, uma vez que a listas vencedoras levaram todos os delegados, deixando de ser eleitos pelo método de Hondt.