Com a aproximação do aniversário da catástrofe, as Forças armadas da República islâmica reconheceram em 11 de janeiro de 2020 terem abatido “por erro”, três dias antes, o Boeing 737 que efetuava um voo das linhas aéreas internacionais da Ucrânia (UIA) entre Teerão e Kiev após a descolagem.

As 176 pessoas a bordo do aparelho, na maioria iranianos e canadianos, muitos binacionais, não sobreviveram.

No dia do drama, em 08 de janeiro de 2020, as defesas aéreas do Irão estavam em estado de alerta máximo pelo receio de um ataque norte-americano. O Irão admitia uma resposta de Washington após ter atingido com mísseis uma base utilizada pelo exército norte-americano no Iraque, em resposta ao assassinato em 03 de janeiro, em Bagdad, do general iraniano Qassem Soleimani.

Ao referir-se a mortes “muito difíceis e tristes para todo o mundo”, um comunicado dos Guardas da Revolução, o exército ideológico da República islâmica, deplorou hoje “um acontecimento amargo na sequência do aventureirismo inumano dos Estados Unidos e das suas ações terroristas na região”.

O drama “provou uma vez mais que a arrogância mundial [dos Estados Unidos] atingiu o cúmulo da anomalia e do rancor contra a República islâmica e o povo iraniano”, acrescentou.

De acordo com um inquérito preliminar iraniano publicado em julho, o drama resultou de uma série de erros humanos, incluindo uma falha de reposicionamento do radar da bateria de mísseis que abateu o aparelho.

Em paralelo, o presidente da UIA acusou hoje o Irão de tentar bloquear o inquérito sobre o acidente, e apelou a um reforço da “pressão” sobre a República islâmica.

Um ano depois “ainda não recebemos resposta à questão principal: como pôde isto acontecer e quem é responsável”, declarou à agência noticiosa AFP Ievgueni Dykhne, ao considerar que “o processo [de inquérito] está parado”.

Na sua perspetiva, “a tática da parte iraniana consiste em silenciar [os acontecimentos], e travar” a situação, ao contrário de procurar “uma solução”.

“É necessária uma pressão mais séria por parte dos países cujos cidadãos morreram”, acrescentou.

Dykhne também denunciou o recente anúncio pelo Irão de uma indemnização de 150.000 dólares (122.000 euros) a cada uma das famílias das vítimas, já criticado pela diplomacia ucraniana.

“Não são negociações, mas uma nova estratégia mediática simplesmente destinada a testar a nossa reação”, considerou, e precisando que não recebeu qualquer proposta oficial por parte de Teerão.

O montante das compensações deve ser decidido “em função dos precedentes internacionais existentes” e apenas após o fim dos inquéritos técnico e penal que permitam estabelecer se ocorreu um erro humano ou um ato “militar” premeditado, assinalou o responsável.

Em outubro, o Canadá reafirmou a sua intenção de “trabalhar sem cessar para que as famílias das vítimas possam obter as repostas que merecem”.

No Irão, o drama provocou uma grave crise de confiança face às autoridades e o Presidente Hassan Rohani afirmou hoje em conselho de ministros que “aqueles que provocaram este incidente serão seguramente julgados pelo tribunal por negligência ou infração ou outro”.