A partir de 24 de Fevereiro do ano passado, quando Putin ordenou a invasão da Ucrânia “toda a chefia militar que existia deixou de ter plenos poderes”, disse Melnikova em entrevista à Lusa.

“Nos cenários das operações militares na Ucrânia, não há destacamentos militares, nem estados-maiores, nem centros de comunicações… Chegamos a este ponto, em que não podemos recorrer à experiência colossal que fomos adquirindo no passado” na UCMSR, diz Melnikova.

Actualmente, a organização a que preside está “de mãos atadas”, tendo pela frente “um país profundamente diferente do de 2012”, quando a pressão da UCMSR junto das autoridades permitiu diversas conquistas na situação dos combatentes.

Melnikova disse que o valor do trabalho colectivo a que se consagraram as mães dos soldados, e que resultou na criação formal da UCMSR em 1989, fez com que o Estado “reconhecesse o valor humano dos soldados”, que até passaram a estar cobertos por um seguro.

A pressão das mães sobre as autoridades também fez com que fossem investigadas mortes suspeitas e “a Procuradoria abraçou centenas de casos, nos quais se empenhou a fundo, verdade se diga”, relata Melnikova.

Em 1991, prossegue, a UCMSR conseguiu que o ex-presidente Mikhail Gorbatchov assinasse um decreto que amnistiou os soldados que haviam abandonado o serviço militar: na ausência de crimes, a deserção era perdoada, de forma inédita na história do país.

“Alcances relevantes como estes catapultaram a influência e a fama da nossa organização e facilitaram o nosso trabalho em áreas como as da alimentação, saúde e outras. Passados 33 anos, orgulhamo-nos de ter travado e vencido grandes lutas”, adianta Melnikova.

“Por volta de 2012, percebemos que o exército mudara, e muito, para melhor. Podemos afirmar que se verificou uma grande reforma militar no campo das relações humanas, na assistência médica e nos comportamentos dos oficiais, que deixaram de submeter os soldados a práticas degradantes”, regozija-se.

Se o envio de tropas russas para o Afeganistão ao longo da década de 1980 constituiu “um choque tremendo” para as mães russas, a crise da Chechénia, na década seguinte, e até a intervenção militar na Ucrânia, já na última década, “já não nos surpreenderam tanto assim”, afirma Melnikova.

Em 2012, relata, praticamente não se registavam queixas sobre ocorrências graves no Exército, apenas se dizia que eram mobilizados jovens com ligeiros problemas de saúde, mas a situação começou a mudar no regresso de Vladimir Putin à Presidência – após o interregno de quatro anos enquanto foi primeiro-ministro e o seu aliado Dimitri Medvedev Presidente – e sobretudo após a nomeação de Serguei Shoigu para ministro da Defesa, transitando do Ministério das Situações de Emergência, que também tinha forças militares.

“Nem nas tropas do Ministério do Interior, nem nas fronteiriças havia tanta crueldade como nas tropas que acorriam às situações de emergência. Era de lá que nos chegavam as histórias mais perturbadoras. Arrolámos todas as queixas, fizemos barulho na Comunicação Social, mas, claro, nada ajudou”, disse à Lusa.

“Quer dizer, víamos que os resultados do nosso trabalho, até aí alcançados, começavam a ir por água abaixo: a base legislativa foi posta de lado, foi-nos vedada a capacidade de recorrermos para a hierarquia militar. É verdade que existe um site do Ministério da Defesa, onde qualquer pessoa pode entrar, evidentemente que sem retorno, sem sabermos quem vai ler, para onde vai ser encaminhado, quem vai decidir…”, lamenta.

As mães da UCMSR contavam que Medvedev continuasse na presidência por mais quatro anos, e que um ambiente de maior tolerância permitisse avançar as suas reivindicações, mas depois de Putin regressar à Presidência ficaram “manietadas”.

“As organizações internacionais da defesa dos direitos humanos foram espremidas, muitas tiveram que sair do país”, afirma Melnikova

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