Em 2023, 45 jornalistas morreram no exercício de funções, contra 61 no ano passado, indica o relatório anual da organização não-governamental (ONG) RSF.

É preciso recuar mais de duas décadas para encontrar um total inferior ao deste ano – 33 em 2002 – em que mais de um terço das perdas estão ligadas ao conflito no Médio Oriente, incluindo 13 só em Gaza.

“Isso não diminui em nada o drama de Gaza, mas há um declínio constante, muito longe dos mais de 140 jornalistas mortos em 2012 e novamente em 2013”, principalmente como resultado das guerras na Síria e no Iraque, explicou à agência de notícias France-Presse (AFP) o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire.

A organização enumera um total de “63 jornalistas mortos” no Médio Oriente desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, a 7 de outubro, independentemente de estarem ou não ligados à profissão.

Além dos 13 jornalistas mortos “por fogo israelita” em Gaza, esta guerra causou a morte de três jornalistas que trabalhavam no Líbano e de um outro em Israel, morto pelo movimento islamita Hamas, acrescentou a ONG.

Em novembro, os RSF apresentaram uma queixa ao Tribunal Penal Internacional por “crimes de guerra” cometidos contra jornalistas em Gaza e contra o jornalista israelita.

Uma investigação da AFP publicada na semana passada sobre o bombardeamento no sul do Líbano, a 13 de outubro, que matou o jornalista de vídeo da agência de notícias Reuters Issam Abdallah e feriu seis pessoas, incluindo a fotógrafa da AFP Christina Assi, gravemente ferida, aponta para um projétil de um tanque israelita.

Um porta-voz do exército israelita sublinhou que o local onde se encontravam os jornalistas era “uma zona de combate ativa”.

Estas explicações são insatisfatórias, notou Christophe Deloire, que estimou haver “muitas provas para que Israel assuma as suas responsabilidades”.

O conflito na Ucrânia causou a morte de dois jornalistas em 2023, incluindo o repórter da AFP Arman Soldin, “o único jornalista morto num país que não o seu” este ano, num total de 11 desde a invasão russa em fevereiro de 2022.

O balanço global de 2023 destaca-se pela “diminuição significativa” das mortes na América Latina, com seis jornalistas mortos, contra 26 em 2022.

O México, a zona mais mortífera para a profissão, depois de Gaza, registou quatro jornalistas mortos em 2023, contra 11 no ano anterior.

Mas isso não significa que a segurança esteja a melhorar para a imprensa, “como demonstram os três raptos de repórteres e os ataques armados contra quatro jornalistas no final de 2023”, observou o relatório.

O número de jornalistas detidos em todo o mundo aumentou para 521, contra 569 em 2022, com a Bielorrússia a tornar-se “uma das três maiores prisões do mundo, juntamente com a China e Myanmar”, referiu ainda o documento.