Em declarações à agência Lusa, o eurodeputado do PCP sublinhou que a grande preocupação se prende não só com a ausência de resposta das autoridades a estes migrantes, que há quatro dias estão a aguardar autorização para desembarcar, mas com o agravamento previsto do estado do mar.
“Há uma preocupação acrescida que são as condições climatéricas, que até ao momento têm sido favoráveis, pois o mar está praticamente sem ondulação, o que tem possibilitado que não haja, por exemplo, situações de enjoo a bordo, mas a partir de amanhã [terça-feira] as condições climatéricas vão alterar-se e isso vai criar uma situação crítica dentro da embarcação”, alertou João Pimenta Lopes.
“O problema não é o enjoo (…), são as situações acumuladas de uma parte significativa destas mais de 230 pessoas que estão a bordo, que vêm em condições físicas muito debilitadas já e que os vómitos e a desidratação que daí resulta podem fazer com que, em poucas horas, uma situação que é grave mas esta estável passe a uma situação perfeitamente dramática e que ponha em risco a vida destas pessoas”, explicou.
O eurodeputado, que pernoitou na embarcação da organização Lifeline, disse que a situação a bordo “é de grande debilidade e dificuldade” e que, apesar deste barco estar preparado para resgate e salvamento, “nenhuma embarcação está preparada para suportar ao longo de quatro dias mais de 200 pessoas a bordo, apinhadas no deque”.
“Isto é mais um elemento para exigir que seja dada, sem demoras, autorização para acostagem e desembarque a estas pessoas, num porto de abrigo o mais próximo possível”, considerou.
O eurodeputado disse ainda que ”a própria embarcação não tem condições para estar tanto tempo com tanta gente” e recordou que uma outra embarcação [Alexander Maersk], desta feita comercial, está há igualmente quatro dias ao largo da Sicília a aguardar autorização para acostar, com 113 resgatados a bordo.
No caso da segunda embarcação, as pessoas estarão em piores condições, pois trata-se de um barco comercial, com 113 pessoas resgatadas a bordo, mas que não está equipado com mantimentos ou cobertores para dar este tipo de resposta, acrescentou.
“Não há resposta [das autoridades]. É o chamado jogo do empurra. As autoridades italianas remetem para as líbias a resposta, as maltesas, com alguma hipocrisia, não autorizam a entrada nas suas águas territoriais, mas fornecem alimentos, mantas e medicamentos, perguntando até se havia gasolina, o que é uma contradição”, afirmou.
João Pimenta Lopes explicou também que, apesar de terem assumido a responsabilidade do resgate destas pessoas - que seguiam em duas embarcações pneumáticas com 125 pessoas cada -, as autoridades líbias acabaram por não o garantir e continuam sem dar resposta.
“Após o resgate, as autoridades líbias continuam a não dar resposta, o que já por si, do ponto de vista do direito internacional, constitui uma violação do princípio da não repulsão”, afirmou o eurodeputado, sublinhando que se trata de pessoas que fugiram de situações de extrema violência, a maior parte homens com menos de 30 anos, e que há casos de escravatura.
“Os testemunhos são recorrentes. Até o mais duro, que é [quando dizem] antes morrer no mediterrâneo do que voltar para a Líbia. Isto traduz o sentimento de grande desespero destas pessoas que as leva a arriscar a própria vida”, acrescentou.
O navio ‘Lifeline’ está ao largo da ilha de Malta e tem a bordo 234 pessoas a bordo, incluindo 14 mulheres e quatro crianças (duas com menos de dois anos e um bebé de quatro meses), que resgatou perto da costa da Líbia. Há vários dias que tenta obter sem sucesso autorização para desembarcar os migrantes.
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