"Entregámos o memorando e um conjunto de documentos ao assessor do primeiro-ministro que, no essencial elencam um conjunto de razões que nos levam a dizer que a opção pelo Montijo é a pior das opções. Se houvesse uma espécie de concurso para escolher a pior sítio, era o Montijo que era eleito, de certeza absoluta, por todas as razões: ambientais, saúde pública, tudo aquilo que possamos imaginar", disse à agência Lusa José Encarnação, da plataforma cívica contra o novo aeroporto no Montijo, no distrito de Setúbal.

"Nesse conjunto de documentos, demonstrámos - com matéria de facto, estudos e trabalhos que têm sido feitos ao longo dos anos por muita gente, designadamente pelo engenheiro Carlos Matias Ramos aquando da sua presidência do Laboratório Nacional de Engenharia Civil - que se o Governo quisesse abrir o concurso público para iniciar as obras para construção do novo aeroporto no campo de tiro de Alcochete podia fazê-lo já amanhã”, acrescentou.

No caso do campo de tiro (localizado sobretudo na freguesia de Samora Correia, em Benavente, distrito de Santarém, e ainda em Canha, no concelho do Montijo), “há estudos, há cálculos económico-financeiros já feitos e há uma Declaração de Impacto Ambiental que está em vigor até 2.022, porque foi sendo sucessivamente renovada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA)", sublinhou o representante.

José Encarnação falava à agência Lusa durante uma concentração que decorreu sem incidentes na rotunda de acesso à Base Aérea do Montijo, onde decorria a cerimónia de assinatura do acordo sobre o modelo de financiamento para a construção do novo aeroporto e o reforço da capacidade do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.

Os manifestantes gritaram várias palavras de ordem contra a escolha da Base Aérea do Montijo, que dizem ser uma "má solução" para a construção do futuro aeroporto.

"Não há nenhuma razão objetiva para dizer que não a de Alcochete, por se tratar de uma solução mais cara ou uma solução impossível. Alcochete só não é possível porque a VINCI [que integra a Ana – Aeroportos de Portugal] não quer. E o Governo submete-se aos interesses da VINCI", acrescentou José Encarnação durante o protesto.

O representante disse ainda não compreender o que considera ser o favorecimento da VINCI na escolha do Montijo, mas afirmou-se convicto de que mais tarde ou mais cedo se terá de avançar também para a construção de uma segunda alternativa ao aeroporto de Lisboa, provavelmente no campo de tiro de Alcochete.

Presente no protesto, o presidente da Câmara da Moita, Rui Garcia (CDU), um dos municípios que deverão ser fortemente afetados pela construção do futuro aeroporto do Montijo – por ter dezenas de milhares de pessoas a viver na Baixa da Banheira, na zona debaixo do cone de aproximação e de descolagem do futuro aeroporto -, disse que “o país vai pagar caro” por esta opção.

"A escolha do Montijo é uma solução que o país vai pagar caro, porque se vai esgotar rapidamente no tempo, porque tem impactos graves sobre o ambiente e sobre o potencial de desenvolvimento do estuário do Tejo, que pode ser um dos grandes fatores de atração para o turismo, lazer, desporto, e para a preservação ambiental desta área metropolitana. E agora vai-se fazer um aeroporto, o que não atrai, antes vai afastar as pessoas", disse.

Para o cidadão Manuel Fernandes, um dos cerca de 50 manifestantes e que também integra a plataforma cívica, o futuro aeroporto do Montijo é "um atentado, porque põe em causa a saúde pública e a segurança aérea.

"Vivem aqui mais de uma centena de milhar de aves que vão forçosamente chocar com os aviões a baixa altitude. Se uma ave de grande porte choca com o vidro do `cockpit´ de um avião, ou quando são sugadas pelos reatores, o piloto pode ficar sem condições para evitar uma tragédia", disse.

O acordo assinado hoje prevê um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028 pela ANA – Aeroportos de Portugal, gestora dos aeroportos.

Em falta está ainda o Estudo de Impacto Ambiental (EIA).