"Não haverá ninguém a quem dizer adeus [...] Todos os aniversários serão comemorados sem mim. Nunca verei os meus netos. Não serei o tema de nenhuma história familiar. Não estarei em nenhuma fotografia", escreveu Navalny, o principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, a 22 de março de 2022 no seu diário de prisão.
Ao regressar à Rússia em janeiro de 2021, depois de um grave envenenamento, o ativista anticorrupção foi detido de imediato. Cumpria uma pena de 19 anos de prisão por "extremismo" numa colónia penitenciária no Ártico, onde morreu aos 47 anos, a 16 de fevereiro de 2024.
"Não tenham medo de nada. É o nosso país e é o único que temos", escreveu ele a 17 de janeiro de 2022.
"A única coisa que deveríamos temer é abandonar a nossa pátria para ser saqueada por um bando de mentirosos, ladrões e hipócritas", acrescentou.
Nos excertos do seu diário de prisão, onde aflora o humor apesar da solidão e do confinamento, Navalny descreve o dia 1 de julho de 2022 como um dia normal: levantar-se às seis da manhã, pequeno-almoço às 6h20 e início do trabalho às 6h40.
"No trabalho, ficas sentado durante sete horas na máquina de costura, num banquinho abaixo da altura do joelho", descreveu o opositor.
"Depois do trabalho, continuas sentado durante algumas horas num banco de madeira sob um retrato de Putin. É o que se chama uma 'atividade disciplinar'", relatou.
Com ironia, comparava-se com o dirigente russo: "Putin deixa os ministros sentados na sala de espera durante umas seis horas, e os meus advogados precisam de esperar cinco ou seis para me ver."
O livro, intitulado "Patriota", será lançado em todo o mundo a 22 de outubro, e a editora americana Knopf prevê uma versão em russo. A morte de Navalny gerou uma condenação unânime dos governos dos países ocidentais.
Para David Remnick, editor-chefe da New Yorker, "é impossível ler o diário de prisão de Navalny sem sentir indignação pela tragédia do seu sofrimento e pela sua morte".
Na última entrada do seu diário publicada pela New Yorker a 17 de janeiro de 2024, o opositor acreditava que uma pergunta permanecia na cabeça de outros presos e de alguns funcionários penitenciários: Por que voltou à Rússia?
"Não quero abandonar nem trair o meu país. Se as vossas convicções têm um sentido, devem estar preparados para as defender e para fazer sacrifícios se for necessário", escreveu em resposta.
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