Quem são os rohingyas?

Antes do início da violência em agosto, cerca de um milhão de muçulmanos rohingyas moravam em Myanmar, alguns há várias gerações.

No entanto, desde a promulgação de uma lei em 1982, foram privados da nacionalidade birmanesa e constituem a maior população apátrida do mundo.

São vítimas de múltiplas discriminações: trabalho forçado, extorsão, restrições à liberdade de circulação, regras injustas de casamento e confisco de terras. Também têm acesso limitado à educação e outros serviços públicos.

Num relatório, a organização Amnistia Internacional não hesitou em falar de uma situação de "apartheid" na semana passada.

Desde 2011 e com a dissolução da junta militar que reinou durante quase meio século no país, as tensões aumentaram.

As palavras do Papa

Poucos dias após o início da violência em agosto, o Papa expressou "toda a sua proximidade", ao referir-se aos seus "irmãos rohingyas".

"Todos nós pedimos ao Senhor que os salve e que inspire homens e mulheres de boa vontade a ajudá-los a ter todos os seus direitos respeitados", acrescentou.

Diante de milhares de fiéis reunidos em Roma, em fevereiro, já havia falado de "pessoas boas e pacíficas" que "sofrem há anos" e denunciou o tratamento que lhes é reservado: "tortura e morte devido às suas tradições e fé".

Utilizar a palavra 'rohingya'?

Será que o Papa pronunciará a palavra 'rohingya', tabu para os birmaneses, durante a sua visita? Temendo uma reação dos budistas extremistas, o arcebispo de Yangun, Charles Bo, primeiro cardeal do país, recomendou que o pontífice evite essa palavra e adote "muçulmanos do estado de Rakine".

Esta terminologia oficial e neutra é o que a líder birmanesa Aung San Suu Kyi gostaria de impor para evitar a guerra semântica entre a denominação "bengali" (usada pela maioria budista de Myanmar) e "rohingya" (usada por esses muçulmanos para se referir a si mesmos).

O termo "bengali" é usado devido ao facto de, em Myanmar, serem considerados imigrantes ilegais do vizinho Bangladesh, apesar de muitos deles viveram no país há várias gerações.