Sob fortes críticas de outros países e até internas, a Alemanha começou desde segunda-feira a controlar todas as suas fronteiras para tentar combater a imigração ilegal. A ministra do Interior garantiu que os constrangimentos seriam mínimos, a polícia avisou que nem todos seriam parados, mas todos deviam estar prontos para isso.
“Pediram o bilhete de identidade a toda a gente, a carta de condução, controlaram tudo o que trazia na bagagem e contaram todo o dinheiro para ver se era verdadeiro ou falsificado”, conta Ruben Gonçalves, da empresa Gonçalves Transporte.
O português, que transporta pessoas e mercadorias de e para a Alemanha, levava seis passageiros quando atravessou a fronteira em Aachen, uma cidade alemã colada à Bélgica e aos Países Baixos.
“Aquilo é um parque normal da autoestrada, a cinco quilómetros da fronteira. Está fechado e foi colocado um contentor. Quando cheguei, tinha um carro da polícia à frente e outro atrás. Quando me fui embora, já lá estavam cerca de 20 carros da polícia”, descreve.
Às verificações dos que entram por parte da Polónia, Áustria, Suíça e República Checa, somaram-se os controlos nas fronteiras com a França, Dinamarca, Países Baixos, Luxemburgo e Dinamarca.
“Para mim já é tarde demais. Primeiro deixaram entrar toda a gente e agora é que decidem controlar”, comenta Ruben Gonçalves.
A paragem custou-lhe quase uma hora de viagem, mas o empresário português entende os motivos.
Alexandra Luz tem dúvidas que a medida faça “grande diferença”.
“São muitos países colados, há muita facilidade a entrar e sair”, admite a portuguesa que mora na Alemanha, mas trabalha no Luxemburgo, atravessando a fronteira diariamente.
“Depois de ter visto nas notícias que ia começar a haver controlo na fronteira, estava à espera de encontrar polícia. Mas nos três dias que passei, não vi nada, tudo calmo. À quinta-feira era garantido ter polícia na ponte mais perto de onde vivo, agora não estão, ou estão em momentos diferentes”, partilha com a Lusa.
Também Carla Cardoso, admite surpresa por não ter encontrado nada.
“Passo todos os dias a fronteira entre Goch e Heijen, a união entre a autoestrada 57 na Alemanha, e autoestrada 77 holandesa. Nos dois dias que passei desde que os controlos entraram em vigor, de manhã e ao fim da tarde, não vi nada”, conta.
Pedro Fernandes, que também cruza a fronteira com os Países Baixos por motivos de trabalho, explica que tem visto sempre polícia na fronteira que vai parando viaturas ligeiras, pesadas e autocarros.
“Não param toda a gente, mas acaba por causar mais trânsito. Eu não fui parado, talvez por ter matrícula alemã, mas acabei por chegar a casa 20 minutos mais tarde do que o normal. Não sei se vai ser sempre assim, vamos ver se aguentam os seis meses”, sublinha, acrescentado ver esta decisão como uma "medida simbólica" já que "quem quer entrar, vai continuar a conseguir fazê-lo".
De acordo com a polícia federal, entre janeiro e julho de 2024, 34 mil pessoas tentaram entrar na Alemanha. Cerca de 17 mil foram impedidas de entrar diretamente na fronteira. A outra metade foi autorizada a entrar e está a ser tratada ao abrigo do Regulamento de Dublin.
Em comparação, no ano passado, a polícia federal deteve 127 mil pessoas na fronteira que pretendiam entrar na Alemanha sem autorização. Um quarto foi impedido de entrar diretamente na fronteira.
Não se sabe ao certo qual é o número de tentativas de entrada no país não declaradas e quantas mais pessoas poderiam ter sido detidas com mais controlos nas fronteiras.
*Por Joana Sousa Dias, da agência Lusa
Comentários