Segundo refere o The Guardian, o apelo ocorreu no contexto do 182.º aniversário da assinatura do tratado de Waitangi, o documento jurídico fundamental da Nova Zelândia.

"Se olharmos para o nosso pacto fundador como um casamento entre tangata whenua [o povo indígena da Nova Zelândia] e a coroa, então o tratado de Waitangi é o filho desse casamento”, disse o colíder do partido Māori, Rawiri Waititi, acrescentando que é "tempo [para] tangata whenua assumir a custódia total".

"Isto não significa que a coroa seja colocada de parte. Se um casal se divorciar, não perde a responsabilidade pelo filho que teve. Esta será uma oportunidade para reestruturar uma parceria mais significativa e gratificante", concluiu.

O tratado, assinado em 1840, garantiu aos Maori a proteção da coroa e dos respetivos direitos de sobre as terras. Mas nos 100 anos que se seguiram à sua assinatura, os Maori perderam mais de 90% das terras através da confiscação total pela coroa, vendas privadas ou governamentais, e práticas dos tribunais que não reconheceram a propriedade coletiva.

As pressões do passado para que a Nova Zelândia se tornasse uma república têm vindo a ganhar ímpeto, com uma sondagem realizada em 2021 a sugerir que um terço dos neozelandeses queriam cortar laços com a monarquia.

Também a primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, se assumiu como republicana e, em 2021, chegou mesmo a dizer que acreditava que o país se tornaria uma república ainda durante a sua vida, garantindo, porém, que não tomaria medidas por iniciativa própria. Foi durante o anúncio da governadora-geral Cindy Kiro, que Ardern afirmou não “sentir a urgência” por parte do público para que tal acontecesse: “Tenho sido muito clara, apesar de ser republicana, não sou do estilo 'aqui e agora'. Isto é algo que diz muito aos neozelandeses.”   

O apelo à destituição da Rainha como Chefe de Estado é uma mudança de política para o partido Maori, que em 2017 se opôs aos apelos a uma república dentro do partido trabalhista. "Remover a Rainha enquanto o nosso chefe de Estado retira o tratado de Waitangi e os direitos Maori, neste país, garantidos sob o documento fundador da nossa nação", disse na altura o então líder Te Ururoa Flavell. "Dada a nossa história colonial e de apropriação sistemática da propriedade privada, direitos e recursos dos Maori, qualquer conversa sobre cortar laços com a Rainha, ou estabelecer uma república é um movimento extremamente ingénuo."

Sob a atual liderança, o partido Maori detém dois assentos no parlamento da Nova Zelândia, e está a pressionar para uma reforma constitucional na Nova Zelândia, incluindo a criação de um parlamento Maori. A co-líder Debbie Ngarewa-Packer defende que "a única forma desta nação poder trabalhar é quando o Māori afirmar os seus direitos à autogestão, autodeterminação e autogovernação em todos os nossos domínios".