"Este Governo não merece uma segunda oportunidade depois de ter falhado tantas", afirmou Pedro Passos Coelho, numa declaração aos jornalistas, na Assembleia da República, à margem da reunião do grupo parlamentar do PSD.

Questionado se António Costa deveria ter-se demitido, respondeu: "Eu acho que o primeiro-ministro não tem condições para inspirar confiança ao país de que seja capaz de fazer o contrário do que fez até hoje. Esse é o meu sentimento, cabe ao primeiro-ministro avaliar se tem condições ou não".

O presidente do PSD anunciou ainda o voto favorável do partido em relação à moção de censura que o CDS-PP vai apresentar ao Governo.

Como cidadão, Passos Coelho disse sentir "vergonha" pelo que se passou no país nos últimos meses e lamentou que não tenha havido, pelo menos, "um pedido de desculpas" aos que sofreram as consequências dos incêndios.

"Nunca pensei que houvesse um governo no país que se comportasse desta maneira e nestes termos", lamentou.

Sobre a demissão da ministra da Administração Interna, hoje conhecida, Passos Coelho atribuiu, mais uma vez, a responsabilidade ao primeiro-ministro.

"Sempre disse que a demissão é responsabilidade do primeiro-ministro e o primeiro-ministro claramente demitiu-se das suas responsabilidades: a ministra sai, dizendo ao primeiro-ministro: "o senhor não me convence a ficar aqui nem mais um bocadinho", afirmou, referindo-se à revelação de Constança Urbano de Sousa que já por duas vezes tinha pedido a demissão a António Costa.

Para Passos Coelho, essa não aceitação da demissão da ministra por António Costa tem um significado político: "Enquanto a ministra recebesse as críticas, isso não era devido ao primeiro-ministro, mostra todo o caráter político de ausência de liderança que temos no governo", disse.

Questionado se o PSD vai desafiar o primeiro-ministro a demitir-se, hoje no debate quinzenal, Passos Coelho remeteu para a discussão a partir das 15:00 no parlamento e que será protagonizada pelo líder parlamentar social-democrata, Hugo Soares.

Em relação à moção de censura do CDS-PP, Passos defendeu que o partido partilha "o mesmo sentimento de indignação e revolta" e justificou a não apresentação de um texto próprio com a tradição do PSD.

"O PSD não tem a tradição de apoiar moções de censura, em toda a sua historia só o fez uma única vez", salientou.

Passos Coelho já anunciou que não se recandidatará à liderança do partido a que preside desde 2010.

O líder do PSD desvalorizou ainda os pedidos de consenso do Governo sobre uma reforma das florestas, defendendo que o PSD "nunca faltou ao país", tendo sido o proponente da criação de uma comissão técnica independente e de um mecanismo extrajudicial para rapidamente indemnizar as vítimas.

"Temos vivido estes dois anos a discutir coisas que não são o que parecem. O primeiro-ministro apareceu a pedir consensos na área da floresta quando rejeitou as propostas que apresentámos quase no início da legislatura", criticou, lembrando que os sociais-democratas apresentaram um diploma sobre o cadastro florestal que "esteve a aboborar" em comissão parlamentar durante longos meses.

Na reunião do grupo parlamentar do PSD, foram vários os relatos de deputados que estiveram nas zonas dos incêndios que deflagraram no domingo na zona centro e que provocaram pelo menos 41 mortos.

A comunicação ao país do Presidente da República de terça-feira à noite também foi abordada na reunião, com alguns deputados a lerem nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa um desafio ao Governo para que apresente uma moção de confiança.