Ambos os países concordaram em "garantir a segurança da navegação, eliminar o uso da força e prevenir o uso de navios comerciais para fins militares no Mar Negro", informou a Casa Branca em duas declarações separadas que detalham as conversações dos últimos dias com ucranianos e russos na Arábia Saudita.

Os Estados Unidos comprometeram-se, no que diz respeito à Ucrânia, a "apoiar os esforços para a troca de prisioneiros, a libertação de civis e o regresso das crianças ucranianas deslocadas à força".

A Rússia, alvo de inúmeras sanções, pode contar com o apoio da Casa Branca para "restaurar o acesso" ao mercado "mundial de exportações de produtos agrícolas e fertilizantes, reduzir os custos dos seguros marítimos e melhorar o acesso aos portos e aos sistemas de pagamento para estas transações".

Moscovo condicionou o acordo do Mar Negro à flexibilização das restrições às suas exportações agrícolas.

Durante as negociações, os Estados Unidos reiteraram que o presidente Donald Trump deseja imperativamente "acabar com os massacres de ambos os lados do conflito" como um "passo necessário para alcançar uma paz duradoura".

Com este objetivo, propõe-se a continuar a "facilitar as negociações entre ambas as partes para alcançar uma solução pacífica", diz um parágrafo idêntico nos dois comunicados.

O presidente ucraniano, Volodmir Zelenky, afirmou que "é muito cedo para dizer que (o acordo) funcionará", mas destacou que é "um passo certo".

Zelensky acrescentou que Ucrânia e os EUA concordam que países "terceiros", como a Turquia, podem supervisionar aspectos de uma futura trégua.

"Alguém da Europa ou, por exemplo, a Turquia, pode participar das situação no mar, e talvez alguém do Oriente Médio em termos de energia", declarou o presidente a jornalistas.

O ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, pediu imediatamente "consultas técnicas adicionais" para resolver os "detalhes" dos acordos anunciados pela Casa Branca.

Também alertou que "qualquer movimento" de navios de guerra russos no Mar Negro em frente à Ucrânia constituiria uma "violação" do acordo de fim das hostilidades.

De julho de 2022 a julho de 2023, um acordo permitiu À Ucrânia exportar cereais apesar da presença da frota russa na região.

Moscovo retirou-se do acordo após um ano, depois de acusar as potências ocidentais de não cumprirem os compromissos de flexibilizar as sanções às exportações russas de produtos agrícolas e fertilizantes.

Nesta terça-feira, o Kremlin afirmou que ainda "analisa" o resultado das negociações.

Os "contactos" com os americanos continuarão, porém não se fixou nenhuma data "concreta" para uma nova reunião, acrescentou o porta-voz Dmitri Peskov.

"Muito útil"

Kiev acusou a Rússia de ganhar tempo para obter vantagens na frente de batalha.

Um dos negociadores russos, o senador Grigori Karasin, afirmou que o diálogo com os americanos na segunda-feira foi "intenso, nada fácil, mas muito útil".

"Claro que estamos longe de resolver tudo, de concordar em todos os pontos, mas parece que este tipo de discussão é muito oportuna", afirmou Karasin, que representou Moscovo com Serguei Beseda, um oficial da Inteligência russa.

"Vamos continuar" a dialogar, "incluindo a comunidade internacional, principalmente as Nações Unidas e alguns países", acrescentou.

Esta terça-feira, representantes da Ucrânia e dos Estados Unidos também realizaram uma nova ronda de conversas na capital saudita.

Com essas negociações, os americanos queriam conseguir uma trégua parcial na guerra iniciada em fevereiro de 2022 com a invasão russa da Ucrânia ou um consenso sobre uma moratória de certos bombardeamentos.

Os combates continuam

Trump conseguiu, através da pressão, que Kiev aceitasse um cessar-fogo incondicional de 30 dias.

No entanto, Vladimir Putin, embora tenha tido cuidado em não desconsiderar o líder americano, enumerou uma série de exigências e disse que via uma trégua limitada aos ataques contra infraestruturas energéticas.

Trump, que repetiu muitas das falsidades do Kremlin sobre a Ucrânia, demonstrou até agora tolerância com a Rússia, embora nas últimas semanas tenha levantado a possibilidade de impor novas sanções.

Vladimir Putin, cujo Exército avança no terreno, não parece ter pressa em concluir um acordo, enquanto os soldados não expulsarem as tropas ucranianas da região fronteiriça russa de Kursk.

Russos e ucranianos acusam-se mutuamente de prosseguir com os ataques.

Na segunda-feira, um ataque russo feriu 101 pessoas, entre elas 23 crianças, em Sumy, a nordeste da Ucrânia, segundo as autoridades locais.

Por sua vez, o Exército russo anunciou que havia tomado duas localidades no sul e no leste do país.